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(Do Carmo...)
«A rua do Carmo, com a longa fachada maciça dos muros de sustentáculo do convento, era tão feia que Lisboa se envergonha dela, em 1913, quando foi preciso passar por lá a caleche de Eduardo VII. Cobriram-na de colchas e bandeiras e mais tarde abriram-lhe janelas e montras. Agora alternam-se ali os dois estabelecimentos a que os lisboetas dos dois sexos dispensam mais simpatias: as sapatarias e as pastelarias».
Suzanne Chantal esqueceu-se de abrir uma excepção, aquela que, muito provavelmente, confirma a regra: a da minha anónima pessoa. Nunca tive especial simpatia por pastelarias, nem por pastéis, e se transponho as suas portas é pelo cheiro do café. Também nunca fui – tenho de reconhecê-lo, mesmo se perco com isso alguma feminilidade - aficionada de sapatos, nem frequentadora assídua de sapatarias. Sempre preferi um pé saudável e firmeza de calcanhar a sandálias afiambradas e tacões finos. Mas sendo de um tempo posterior ao da publicação de «A caravela e os corvos», conheci a tal Rua do Carmo afamada pelas suas sapatarias. E lembro-me do que refere a autora nas linhas seguintes: «Há alguns anos encontrava-se em Lisboa calçado admirável, sempre feito por medida e cosido à mão. O artífice em Portugal ainda não cedera o lugar às fábricas. Agora, assediados por demasiados clientes estrangeiros, gastadores e indiferentes, os sapateiros lisboetas aumentaram os preços e perderam o gosto da perfeição». Os nossos sapatos tinham, realmente, uma reputação que os colocava num patamar de qualidade superior ao da própria produção italiana, uma referência perene no mundo da moda. E julgo que a conservaram, pelo menos, até meados dos anos oitenta, altura em que comprei o meu último par de silhueta compatível com casamentos e baptizados, que ainda mantém a pureza das linhas originais e o brilho novo da pele. Depois deste ousado investimento, desviei atenções para o modelo «ténis-chic» - porque silhueta compatível, prefiro manter a minha… - e perdi contacto com as tendências do século XXI no que respeita à cobertura de pés. Não sei, tão pouco, o que sucedeu às boas sapatarias da rua do Carmo. Quando por ali passo, não me fixo no seu comércio, porque não me tenta, nem quero que comece a tentar-me. Mas o que vejo, nas montras «generalistas» dos estabelecimentos em que reponho «stocks», são marcas internacionais, dessas cujos saltos de agulha acrescentam à utilizadora dez centímetros vitais, mas a que só poderia, em consciência, aderir se incluíssem asinhas de levitação por sobre a calçada portuguesa.
Nota: Mas aí está uma promessa comercial aliciante da Rua do Carmo, no topo, ao «Bonheur des Dames»...
Esteticamente e não só, caro Flapjack. Pouco seguras em certos tipos de pavimento (ou falta dele) e muito irritantes para o ouvido sempre que a palmilha descola da planta do pé e estala sobre o dito pavimento (ou a falta dele). ;-)
Pode estar absolutamente descansado, caro Meias-Solas. Havaianas para mim só no Havai. ;-D
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