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Notas olisiponenses: elucubrando sobre sapatos

por Luísa Correia, em 26.05.10

(Do Carmo...)

 

«A rua do Carmo, com a longa fachada maciça dos muros de sustentáculo do convento, era tão feia que Lisboa se envergonha dela, em 1913, quando foi preciso passar por lá a caleche de Eduardo VII. Cobriram-na de colchas e bandeiras e mais tarde abriram-lhe janelas e montras. Agora alternam-se ali os dois estabelecimentos a que os lisboetas dos dois sexos dispensam mais simpatias: as sapatarias e as pastelarias».

Suzanne Chantal esqueceu-se de abrir uma excepção, aquela que, muito provavelmente, confirma a regra: a da minha anónima pessoa. Nunca tive especial simpatia por pastelarias, nem por pastéis, e se transponho as suas portas é pelo cheiro do café. Também nunca fui – tenho de reconhecê-lo, mesmo se perco com isso alguma feminilidade - aficionada de sapatos, nem frequentadora assídua de sapatarias. Sempre preferi um pé saudável e firmeza de calcanhar a sandálias afiambradas e tacões finos. Mas sendo de um tempo posterior ao da publicação de «A caravela e os corvos», conheci a tal Rua do Carmo afamada pelas suas sapatarias. E lembro-me do que refere a autora nas linhas seguintes: «Há alguns anos encontrava-se em Lisboa calçado admirável, sempre feito por medida e cosido à mão. O artífice em Portugal ainda não cedera o lugar às fábricas. Agora, assediados por demasiados clientes estrangeiros, gastadores e indiferentes, os sapateiros lisboetas aumentaram os preços e perderam o gosto da perfeição». Os nossos sapatos tinham, realmente, uma reputação que os colocava num patamar de qualidade superior ao da própria produção italiana, uma referência perene no mundo da moda. E julgo que a conservaram, pelo menos, até meados dos anos oitenta, altura em que comprei o meu último par de silhueta compatível com casamentos e baptizados, que ainda mantém a pureza das linhas originais e o brilho novo da pele. Depois deste ousado investimento, desviei atenções para o modelo «ténis-chic» - porque silhueta compatível, prefiro manter a minha… - e perdi contacto com as tendências do século XXI no que respeita à cobertura de pés. Não sei, tão pouco, o que sucedeu às boas sapatarias da rua do Carmo. Quando por ali passo, não me fixo no seu comércio, porque não me tenta, nem quero que comece a tentar-me. Mas o que vejo, nas montras «generalistas» dos estabelecimentos em que reponho «stocks», são marcas internacionais, dessas cujos saltos de agulha acrescentam à utilizadora dez centímetros vitais, mas a que só poderia, em consciência, aderir se incluíssem asinhas de levitação por sobre a calçada portuguesa.

 

 

Nota: Mas aí está uma promessa comercial aliciante da Rua do Carmo, no topo, ao «Bonheur des Dames»...


27 comentários

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De Meias-Solas a 26.05.2010 às 14:38


Desde que a D. Luísa não ande por aí na rua de «havaianas», cá por mim está tudo OK.
Acho-me até capaz de uma petição contra as «havaianas» fora das zonas balneares.
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De Flapjack a 26.05.2010 às 16:17



 Até porque esteticamente é condenável.
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De Luísa Correia a 27.05.2010 às 12:23

Esteticamente e não só, caro Flapjack. Pouco seguras em certos tipos de pavimento (ou falta dele) e muito irritantes para o ouvido sempre que a palmilha descola da planta do pé e estala sobre o dito pavimento (ou a falta dele). ;-)

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De Luísa Correia a 27.05.2010 às 12:19

Pode estar absolutamente descansado, caro Meias-Solas. Havaianas para mim só no Havai. ;-D

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De Já me estou a babar a 26.05.2010 às 15:38


O Bonheur des Dames et des Messieurs vão ser os gelados, olarila!

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De jj.amarante a 26.05.2010 às 17:59

Aquelas formas mais claras no chão são reflexos do Sol nas janelas do lado esquerdo? A foto foi tirada no princípio da tarde, pouco depois do meio-dia (enfim, pouco depois das 13:30)? 
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De Luísa Correia a 27.05.2010 às 12:28

Acho que são reflexos, sim, Jj. A fotografia foi tirada uns minutos antes das três da tarde. :-)
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De Nem pensar a 26.05.2010 às 18:27

Ná... Ao meio-dia, o sol bate naquele chão!
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De Luísa Correia a 27.05.2010 às 12:34

Com as mudanças das horas, caro Nem-pensar, o que aprendemos pode já não servir. Mas ao meio-dia era suposto o Sol estar no zénite, que é como quem diz, na vertical e não fazer sombras. Mas também era suposto anoitecer entre as sete e as oito, não entre as nove e as dez da noite ou mais tarde ainda… ;-)

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De Cristina Ribeiro a 26.05.2010 às 18:37

Aí estão duas coisas em comum: pastelarias troco-as de bom grado por um supermercado onde possa quilos de chocolates :) ; a primeiro critério na escolha dos sapatos é sempre o conforto, pelo que saltos altos, forget:): fechou há pouco tempo uma sapataria no Porto famosa por fazer sapatos todos à mão, adaptados a cada pé, pelo que o conforto que proporcionavam era imbatível:   a minha teoria é de que faliu por darem primazia a outros requesitos, com pena minha, claro :)
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De Será? a 26.05.2010 às 19:47

...onde possa gamar quilos de chocolates...
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De Cristina Ribeiro a 26.05.2010 às 22:25

Sorry.Ainda dá para os comprar :)
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De Ora bolas a 27.05.2010 às 09:27


Bolas! Então deputado de madeixa pode gamar e a CR (não confundir com Cristiano Ronaldo) não pode?

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De Luísa Correia a 27.05.2010 às 12:37

Caro Ora-bolas, esperamos nunca chegar ao apuro do deputado que «gama» sem necessidade… ;-D

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De Cristina Ribeiro a 27.05.2010 às 16:09

Não sei sde  o CR7 costuma gamar :))), caro Ora bolas, mas esta CR gamava uns ovitos ( não de chocolate ) da capoeira  materna, quando pequena, para fazer gemadas com vinho do  Porto - mas como mãe sempre perdoa, mesmo quando se é apanhada em flagrante :)
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De Arrisco-me a um raspanete a 27.05.2010 às 16:24


Perdoava porque as gemadas não eram para o namorado... digo eu.

E a Cristina, como boa Minhota, sabe do que estou a falar...

Arrisco o raspanete porque sei que a CR é uma pessoa bem-disposta.
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De Cristina Ribeiro a 27.05.2010 às 16:42

O Amigo não se arrisca a nenhum raspanete porque sabe que namorados naquela idade...acho que nem sabia que os meus pais tinham namorado :)))); raspanete só se for por em idade tão tenra já assaltar às bebidas alcoólicas :)
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De Então está bem, Amiga a 27.05.2010 às 17:08


O Amigo ficou sensibilizado pelo tratamento.

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De Cristina Ribeiro a 27.05.2010 às 18:02

Mas é o que é -Amigo - depois de tanto tempo a interagirmos, sempre em "alto astral "
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De Lá isso é verdade... a 27.05.2010 às 19:24

Desde os antigos tempos das (ene) palavras que o sr. Correia odiava.
Paciência e bondade suas...

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De Luísa Correia a 27.05.2010 às 12:44

Cristina, sabia que teria de si mais do que compreensão: verdadeira afinidade. Mas quem gosta de fazer explorações tem de dar grande atenção ao conforto dos pés. Por outro lado, o chocolate recomenda-se a quem quer muita energia concentrada num centímetro quadrado (um simples quadradinho). ;-D

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De Velho da floresta a 26.05.2010 às 20:40

Já temos data para a inauguração?
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De Luísa Correia a 27.05.2010 às 12:47

Fala-se nos feriados de Junho, caro Velho da Floresta. Noto, por outro lado, com muito agrado, que propõe manter-se aberto todo o ano em Lisboa. :-) 

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De Marquesa de Carabás a 27.05.2010 às 21:46

12 de Junho!!!!



Cumprimentos,



Marquesa de Carabás
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De Luísa Correia a 29.05.2010 às 14:31

Aí está! Obrigada, Marquesa. :-)

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