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Programava, há muito, uma incursão pela Ajuda, que conheço mal. E foi por isso que, logo que a Primavera abriu, arranquei do Alto de Santo Amaro pela Rua da Aliança Operária abaixo e acima, naquele enquadramento pardacento, que só o azul luminoso do céu animava. Passei pelo Largo da Boa-Hora e intervalei a caminhada com um descafeinado no estaminé sobranceiro à encosta, contemplando o panorama do casario que desce até ao Tejo na mesma moldura do azul quente do céu. Segui pelos Bairros da Boa-Hora e da Polícia, e apreciei com gosto a compostura das habitações simples, de arquitectura popular, que a reabilitação urbana já ali privilegiou. Pelas esquinas, espreitavam, contra o azul agora incandescente do céu, trechos do Palácio, a Norte, e do rio, a Sul. Trepei a Calçada da Ajuda, com os «bofes a sair pela boca», bati com lentidão a Alameda dos Pinheiros e explorei o largo do Palácio no rasto das sombras dos ciprestes. Ataquei por fim a descida pela Rua do Meio, que conduz ao Largo da Paz, com a sua Bica do Povo seca e invadida de pombos, e as suas reuniões de vizinhança entre soleiras de portas. Virei à esquerda, apanhei o Largo da Memória, e, do adro da Igreja, fotografei os planos sobrepostos dos telhados alfacinhas contra o azul profundo do céu. E concluí a passeata com a descida da Travessa do Galvão até ao Largo dos Jerónimos. Dez minutos depois, espapaçada à beira-rio diante de um batido de chocolate, meditava nesta cidade e neste povo, que o azul caloroso do céu enche de boa-vontade, e no que ambos mereceriam do destino. Foi quando, a uns metros do cais, vi emergir da poalha dourada que, a Ocidente, anuncia o crepúsculo, uma canoa galgando energicamente a corrente do Tejo na perfeita sintonia de movimentos que a voz do timoneiro, equilibrado na borda da embarcação, imprimia aos remadores. E soube logo que, naquela canoa, a voz não ia calar-se, nem falhar um compasso, nem mudar de ritmo, nem trautear um tango, porque, se o fizesse, o seu dono seria o primeiro a dar com os burrinhos na água.
Pois, Descafeinado-?, não quis abalançar-me ao terceiro café bem carregado de cafeína e fiz mal: a energia mal deu para trepar até ao Palácio, e a descida fez-se de pé muito murcho. Valeu o batido de chocolate para arrebitar. ;-D
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Não deixa de ser muito semelhante ao que acontece ...
Portugal está a precisar de um Daily Wire.Infelizm...
... máquina fotográfica, papel higiénico ...
Simplesmente infame, o esfregão da sonae.Juromenha
Basicamente não discordo do postal mas estranhei l...