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Tailândia: a tolerância democrática tem limites

por Pedro Quartin Graça, em 16.05.10

Se fosse na Europa o assunto já tinha sido tratado de outra forma, ou seja, tudo tinha acabado há semanas com muitos mortos e feridos. Imagine-se se, por exemplo na Alemanha, o Parlamento fosse objecto de uma tentativa de tomada de assalto por criminosos armados, os hospitais sitiados e a vida normal da capital Berlim parcialmente prejudicada durante meses, o que aconteceria... Não acabava bem, evidentemente.

Na Tailândia, porém, existe outra forma de tratar as coisas, essencialmente quando a vontade das autoridades é lidar com a situação de molde a causar o menor número possível de baixas humanas junto dos prevaricadores. Esta postura contrasta todavia com a posição dos "vermelhos" para os quais a vida humana, quer a dos seus opositores, quer a dos seus próprios homens, é completamente indiferente. Possuem um objectivo bem concreto: derrubar a monarquia e a democracia no País no mais curto espaço de tempo e pela força para nele instalar um regime corrupto e fantoche comandado à distância por uma conhecida superpotência "da zona"...

Os tailandeses indignaram-se com este estado de coisas. Em primeiro lugar quando descobriram que todo este movimento tinha como objectivo derrubar o "Pai da Nação", o Rei, figura querida por todos, que a todos ajudou nos momentos de aflição do passado. Em segundo lugar quando constataram que quem tudo comandava à distância era um ex-primeiro ministro que foi autor de vários crimes no País, tendo - se, nomeadamente, apropriado de significativas verbas por força de negócios ilícitos que desenvolveu e que serviam agora para pagar aos seus pseudo apoiantes para estes se deslocarem para Bangkok com o objectivo de porem em causa a ordem pública. Em terceiro lugar quando perceberam que tudo isto significava um enorme retrocesso na história democrática e plural de um País independente para o colocar, agora, na órbita de uma potência estrangeira. Contra estes factos se indignaram.

Na Tailândia vigora a liberdade de expressão e de opinião. É este facto que causa espanto em muitos ocidentais pouco habituados que estão a que, a leste, este "fenómeno" se verifique. E a possibilidade das pessoas circularem, apesar do Estado de Emergência, é também real, como temos podido acompanhar pelas arrojadas mas utilíssimas incursões de Miguel Castelo - Branco, do blog Combustões, no campo "vermelho", com elevado risco da sua própria integridade física.

Agora, em desespero de causa, depois de terem recuados nos acordos feitos com o primeiro - ministro, e terem continuado com as suas inaceitáveis exigências que, a concretizarem-se significaram a anarquia no País, viram-se, de repente em desespero perante a derrota certa. São já pouco mais de 2000 os homens que continuam barricados, armados, é certo, mas já sem qualquer esperança de que a vitória lhe sorria. Perderam a batalha no terreno e, sobretudo, perderam toda e qualquer sentimento de simpatia que ainda lhes pudesse restar junto de uma já pequena parte da população. Agora, no já referido desespero de causa, e porque a derrota para além de certa é desonrosa, e para aqueles que duvidavam do papel do Monarca, é para ele todavia que os "vermelhos" se viram e apelam à sua intervenção. Em algum outro País do mundo opositores do Regime diriam isto?: “It’s time to ask for help from the beloved father of the nation in the same way as happened in May, 1982, when the King stepped in to stop the bloodshed” (Jatuporn Prompan). É o que sucede na Tailândia, por estranho que tal pareça a um conjunto de ocidentais para quem este tipo de mentalidade nada diz. Neste caso, porém, e ao contrário do apelo feito, é duvidosa a intervenção Real. Não há, creio, retrocesso no caminho que foi trilhado. Sabe-o o foragido Thaksin e a sua família, ora em fuga. Sabem-no também os seus poucos apoiantes "vermelhos". Ultrapassaram, e muito o risco, provocaram dezenas de mortes e centenas de feridos. Desafiaram as instituições democráticas. Tentaram derrubar a democracia na rua e puseram em causa a Liberdade de todos. Pagarão agora pelos seus actos. Alguns serão mortos, muitos presos e centenas condenados pelos tribunais. É assim a democracia. E na Tailândia ela existe, por muito que isso doa a alguns.


3 comentários

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De Nuno Castelo-Branco a 16.05.2010 às 12:27

É exactamente isso, Pedro. Para aqueles que vêm "revoluções populares" onde se queimem uns pneus, onde está então o povo? Onde estão os "movimentos de massas", os "intelectuais, soldados, camponeses, operários...? Onde?
Estão 6000 partidários de Thaksin (?) na rua. Ontem, em Atenas, o minúsculo PC local mobilizou 7000 militantes. Notícia de rodapé. 


Abhisit é o melhor em campo e de longe! Para o Ocidente, é uma garantia de moderação e louvo a sua paciência e bonomia.  O seu projecto de reformas sociais e políticas é prometedor e abre grandes perspectivas. Com a taxa de crescimento económico que ronda os 5-6%, o futuro parece ser mais risonho que o de certos países europeus. Esperemos. O golpe falhou. A democracia está de parabéns 
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De Miguel Castelo-Branco a 16.05.2010 às 12:49

Parabéns Pedro pelo texto, que assino por baixo e merece ser lido por tantos que ainda se deixam embalar pela melopeia dos romantismos vermelhos. Acrescentaria: a Democracia, para o ser, tem de ser forte, segura e intransigente perante aqueles que a querem destruir. A liberdade é, indiscutivlmente, o maior valor e em sua defesa tudo deve ser investido, conquanto se possa aceitar a crítica, a objecção e a reforma. O que se passou aqui na Tailândia foi a escalada (quase até aos umbrais do poder) de uma coisa que se dizia democrática e que iria levar o país ao colapso, à ditadura e à destruição de tudo o que faz deste país o abrigo para todos os perseguidos de consciência da região.
O Pedro, que conhece bem este país, sabe que aqui se pode ir a qualquer livraria e comprar tudo aquilo que no Ocidente está exposto nos escaparates. O Pedro sabe, também, que a democracia nada vale se se limitar ao recitativo de valores que não se praticam. Aqui, a liberdade, a tolerância e a abertura está nas pessoa, nos modos e práticas sociais. Os vermelhos queriam destruir tudo isso. Felizmente, falharam e tiveram o tempo suficiente para mostrar os fantasmas e ódios que os habitavam.
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De Pedro Quartin Graça a 16.05.2010 às 13:29

Obrigado a ambos! um abraço!Image

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