De Ega a 05.05.2010 às 13:34
Excerto de «Memórias de um Átomo»:
«- Luis Vaz, eh Luis Vaz!
- Quem sois que dizeis conhecer-me?
- Sou eu, o Manuel Alegre, cavaleiro da Républica...
- Falais de quê, moço?
- Eu... eu vinha só oferecer-te a minha Praça da Canção-
-A Praça de Mazagão? Estivesteis lá, combatendo o infiel?
- Não, Luis Vaz, estive em Argel, lutando pela Liberdade...
- Que dizes, traidor. Pois ousasteis libertar os inimigos de Cristo?! Quem sois, criatura do Demo, castelhano malvado?
- "Erros meus, má fortuna, amor ardente"...
- Então andais clamando a minha poesia, almocreve sem mula, por onde passeais a tua gula?
- Não Luis Vaz, glosa antes as minhas trovas. eu "canto de pé no meio do país amado"...
- Pois toca a embarcar para ceuta. Onde pensais que perdi este olho. Na peleja, mancebo, na peleja. Ide, que os tempos são da combate.
- Luis Vaz, "mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, muda-se o ser, muda-se a confiança"...
- Confiança... Abuso, dizeis vós!
- "Amor é fogo que arde sem se ver"...
- Eh pá chega para lá. Quem pensais ser? D. Catarina de Ataíde? Vós, nem Natercia. Abrenuncio!
- Eu sou um candidato a Presidente, nesta República que matou os Reis! Nesta República heróica, nesta " ocidental praia lusitana".
- Matasteis o Rei? e vindes agora recitar os meus Lusíadas que eu guardava para ofertar a Sua Megestade?
- "Pergunto ao vento que passa, novas do meu país"... Luis Vaz dá-me o teu apoio, dá-me o teu voto "e o vento cala a desgraça, o vento nada me diz"...
- Eu cá digo o que te dou, meu perdigão. Parai essas cenas! Anda cá que te arranco as penas. Olhai esta espada que tantas tripas furou
e El-Rei sempre amou. Olhai, malandrim!
- Não, Luis Vaz, não! Piedade, Luis Vaz...