Foi o radar.
Sem radar tinham sido esmagados, por muito bons que fossem os Spitfire e Hurricane, os pilotos da RAF (ingleses, canadianos, australianos, polacos, checos, sul-africanos, rodesianos, americanos), e a anti-aérea. A explicacao nao é politica, geopolitica ou estratégica. Reduz-se simplesmente a isto: radar e incompetencia de Goering em deixar de atacar os aeródromos para passar a atacar Londres quando a RAF estava completamente à beira da capitulacao.
De facto isso também foi relevante...
É o sempre presente tema para mais meio século.
João, estou totalmente de acordo com o seu ponto de vista. Se as questões morais têm relevância, estas remetem-se para o consumo interno de cada país. Por exemplo, os alemães achavam-se com a razão moral, devido ao escabroso tratamento recebido em Versalhes. Quando a França foi esmagada em 1814, Talleyrand sentou-se à mesa grande do Congresso de Viena e pôde negociar com os Aliados que por sinal, lhe fizeram concessões, mantendo as fronteiras pré-1789. O mesmo não aconteceu em 1918-19, onde a Alemanha simplesmente recebeu uma intimação, a que se seguiram extorsões de toda a espécie.
O radar fez a Inglaterra vencer a batalha da "invasão que não chegou", assim como a inépcia de Goering ajudou em muito. A ideia de abandonar o ataque aos aeródromos e linhas de abastecimento, para se dedicarem a bombardear com aviões médios um monstro urbano (Londres), não lembraria a qualquer militar minimamente apto. Até quem jogue kriegspiels de computador, bem conhece os princípios básicos para uma campanha cm hipóteses de sucesso. Neste campo da realidade material, pouco contam as fartas declarações de princípios e "superioridades morais" de países que por sinal, tinham uma pesada mão sobre outros, como por exemplo, a Índia do Raj. Não é por acaso que o movimento emancipador indiano (Chandra Bose) era pró-japonès. Na Indonésia holandesa, os japoneses arrancaram as grilhetas que prendiam os pés dos trabalhadores das plantações de borracha...
Existe uma multiplicidade de factores que contribuíram para o desfecho da guerra. Aqui estão alguns:
1. A referida batalha da Inglaterra, os erros estratégicos de Goering e o radar.
2. A impreparação italiana e a escandalosa incompetência militar do Duce.
3. A neutralidade portuguesa e espanhola que impediram o fecho do mediterrâneo pela Wehrmacht. Com Gibraltar nas mãos do Eixo, a história teria sido muito diferente, para nem sequer mencionarmos Lisboa como uma base de U-boot da Kriegsmarine...
<br />4. A descodificação da máquina Enigma (alemã) e do Código Púrpura da marinha japonesa, que permitiu a atempada informação acerca de todo e qualquer movimento da estrutura militar do Eixo, por mais ínfimo que fosse. Há quem avente a hipótese de Pearl Harbour não ter sido surpresa alguma para Rossevelt, dado o estranho caso da atempada retirada dos porta-aviões da base (à qual regressaram 24 horas depois do ataque).<br />5. A gestão da campanha da Rússia, onde as hesitações de Hitler impediram a rápida chegada dos panzer a Moscovo que afinal, era o centro nevrálgico que controlava o império vermelho. Repetiu o mesmo erro em Estalinegrado, quando para aí avançou por razões de "ordem política" (o nome do rival), ao mesmo tempo que fazia um débil ataque ao petróleo do Cáucaso, esse sim, essencial.<br />6. A intromissão do Fuehrer nas decisões meramente técnicas: impediu o ME 262 de iniciar a campanha no início de 1942, visando a sua transformação num bombardeiro (!): impediu a criação de uma frota de quadrimotores estratégicos que levassem a guerra ao coração industrial da Rússia e da Inglaterra; obrigou à enorme dispersão de meios na concepção de blindados, quando o Pz.V Panter lhe dava a hegemonia em qualquer campo de batalha (de longe!); a gestão do capital humano, a força de trabalho, desperdiçado e brutalmente tratado, impedindo a produtividade (de facto, o Reich iniciou a mobilização total após Estalinegrado, 3 anos depois do início da guerra!); o enorme desperdício de recursos com as bombas V, quando existiam projectos praticamente concluídos para uma eficaz defesa anti-aérea composta por mísseis, por exemplo. Podíamos continuar por aí, indefinidamente.<br />6. Crimes de guerra. Caro Respublica, a acção dos Aliados no Pacífico, está muito longe daquilo que as séries televisivas mostram. Os prisioneiros de guerra japoneses não eram bem tratados, o racismo era muito violento e procuraram evitar salvamentos em alto mar ou fazer presos. matava-se e... pronto (a good jap is a dead jap, como diziam). Aliás, no teatro europeu, os crimes foram mútuos e de uma dimensão difícil de conceber. O final da guerra, trouxe o refluxo da maré e a entrada dos Aliados na Alemanha foi uma tragédia de proporções épicas. Devastação de todo o Leste, com a expulsão total da população alemã que vivia há 700 anos para além do Oder-Neisse; saque generalizado na frente ocidental, onde os americanos roubaram inacreditáveis quantidades de obras de arte, copiando Goering no seu pior; o anúncio do Plano Morgenthau que por si, dá à campanha aliada o mesmo tipo de classificação dos processos "dinâmicos" de Himmler; Os bombardeamentos indiscriminados propugnados pelo marechal Harris que para sua sorte pessoal, chegou vencedor ao fim do conflito; o tratamento inqualificável que ingleses e americanos deram à Itália co-beligerante, obrigando a uma mudança de regime através de claríssima fraude "plebiscitária", de acordo com o estipulado com a máfia do porto de Nova Iorque; a traição à Roménia do Rei Mihail I que ousou dar o golpe de Estado de Agosto de 44; a traição à Polónia do governo do exílio (Londres), obrigando à aceitação das absurdas fronteiras actuais; enfim, a lista é colossal.<br />7. A "Resistência". Pouco pesou de facto, para o desfecho da guerra. Na França foi quase uma ficção pós-1945 (por alguma razão a fabi+ulosa série britânica Alo-Alo ainda é interdita ou censurada em França!), embora os grupos se tivessem mostrado mais activos no período anterior à Normandia (1944); era esporádica e mobilizava poucos franceses no terreno e apenas a facção De Gaulle mostrou alguma importância, embora os meios militares fossem totalmente irrisórios. Na Jugoslávia, essa Resistência teve vários matizes, embora hoje já exista uma ideia diferente acerca da pretensa absoluta supremacia comunista que de facto apenas se verificou a partir do início de 44. <br /><br /><br />E por aí fora...<br /><br /><br />Nota: não tente colocar-me uma braçadeira nacional-socialista no meu braço. Não pega e conheço o truque.
De Velho da floresta a 15.04.2010 às 19:31
Volto a concordar consigo em quase tudo, principalmente na boa tradição anglo-saxónica de abandonar as promesas feitas aos aliados e os próprios aliados, quanto às decisões estratégicamente erradas do lider alemão que cita, por força hoje temos que concordar que assim foram, mas na altura a informação disponivel talvez a isso obrigasse.
Oh Nuno, acha mesmo, sabe quantas forças militares francesas livres existiam a quando do desembarque da normandia, várias, De Gaulle restaurou o exército francês do nada, a França e a itália foram libertadas com a ajuda Francesa e Polaca.
De facto a Polónia foi traida, mas pelos trabalhistas, que venceram Churchill.
Não houve nenhuma exigência irreal de conquistas territoriais à alemanha em Versalhes, foram apenas obrigados a devolver à Polónia e França os territórios roubados no século XIX pelos Prussianos.
Quantos soldados japoneses eram capturados? Praticamente nenhum ou se suicidavam ou era apenas apanhados para matar os captores. sabe o que fizeram os japoneses na China, já ouviu falar do massacre de Nanquing? Sabe o que fizeram aos soldados aliados que se renderam, por exemplo Singapura? Sabe quantas mulheres ocidentais e orientais foram violadas, estripadas e forçadas a prostituirem-se pelos japoneses? e Por fim sabe o que fizeram os japoneses em Timor, quantos portugueses mataram, só por serem, inclusive, cristãos?
Respublica:
O tema França Livre nem sequer merece uma alínea particular.
A propósito das FFL, digo e repito: eram totalmente irrisórias em termos militares, pelo menos naquilo que fazia decidir a luta. Nem sequer de longe se comparavam a um exército como o da Roménia! Quando em 1944 o Rei
Mihai I teve a coragem de executar um golpe de Estado que fez o país mudar de campo, os romenos tornaram-se logo no
4º exército Aliado, logo a seguir ao soviético, americano e britânico. Quantas divisões tinha a França gaullista e a Polónia do governo de Londres?
1. A cedência dos territórios a leste do
Oder-Neisse (Conferência de Ialta e princípios já aventados em Teerão) FOI DECIDIDA por Churchill, Estaline e Roosevelt (este último nem sequer fazia a mínima ideia da localização dos mesmos!).
2. Quando me referi a Versalhes, não mencionei conquistas territoriais à Alemanha. O tratamento dispensado à potência vencida - sem sequer ser admitida na Conferência de Paz -, as "reparações" astronómicas, a obrigatória exclusão da SDN, o tratamento vexatório que os franceses deram aos territórios ocupados, a política de extorsão e repressão dos trabalhadores, etc, consistiram nos pontos mais relevantes que alimentaram o nacional-socialismo.
3. Já ouviu falar dos nipo-americanos (Nisei)
concentrados em campos no meio do deserto americano? Aconselho-o a ver a nova série sobre o Pacífico que o Canal de História está a passar. Confirma plenamente:
a good jap is a dead one.
4. Sei perfeitamente aquilo que os japoneses andaram a fazer na China, no Sião, Filipinas, Coreia, Timor, Batávia e Singapura.
5. Torna-se perigoso vir falar de preceituados morais, quando estes só deverão ser aplicados selectivamente. Pelo que parece, os crimes de uns desculpabilizam em absoluto, os crimes de outros. Não pode ser.
De Velho da floresta a 15.04.2010 às 19:21
Caro Senhor Tem razão nos vários pontos por si abordados, se bem que existam mais cambiantes além dos que refere.