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Tive, há dias, notícia de que a afamada gelateria Santini se propõe abrir um balcão em Lisboa. Presumo que o instalará no Chiado, zona que já concentra alguma concorrência, e concorrência tanto mais digna de respeito quanto tem oferta compatível com todas as estações. Veremos como se comporta, neste novo enquadramento, uma casa que pauta a sua actividade pelo ciclo balnear da nossa Costa do Sol. Falo em novo enquadramento, mas não me esqueço de que o Santini não vem, mas volta a Lisboa. É um reencontro, que se consuma ao cabo do que julgo serem quarenta anos de separação. Poucos se lembrarão, talvez, de que o Santini teve loja na Rua Padre António Vieira, uma das perpendiculares à Rua Castilho e ao contíguo Parque Eduardo VII. Eu lembro-me, porque morava então nas redondezas, e porque era o Santini que, nos meses quentes e modorrentos do Verão, nos fornecia a sobremesa dos almoços dominicais. Desses tempos remotos da minha infância, guardo imagens saudosíssimas de como, no regresso da missa, a que assistíamos na igrejinha de São Sebastião da Pedreira, assávamos sob os raios com que o astro-rei nos dardejava na travessia do alto do Parque, indiferentes aos encantos da pequena Alface, que dali se espreguiçava até ao rio, e ciosos apenas das sombras com que os pinheiros mansos salpicavam frugalmente o percurso. No cruzamento com a Alameda Edgar Cardoso, cortávamos em diagonal pelo relvado, para apanhar as folhas dos eucaliptos, cujo aroma espantava mosquitos e infecções, diziam, mas que a mim apenas espantava parte do torpor de uma caminhada castigada pela canícula. E penetrávamos, enfim, no oásis dos frondosos castanheiros da Padre António Vieira, onde tiritávamos alegremente com o contraste das temperaturas e visitávamos o Santini, para a compra de um copo de gelado de tamanho familiar, atestado com os seus deliciosos sabores de frutas. Não sei exactamente o que terá provocado a retirada do Santini daquelas imediações. O bairro, reconheço-o, era recolhido e tranquilo, e estivava como os caracóis. E só uns anos mais tarde conheceria, com a construção do Palácio da Justiça na vizinhança da velha Penitenciária, o bulício dos espaços invadidos pelos escritórios de advogados e pelo comércio que invariavelmente os persegue. O Santini terá, por conseguinte, sofrido o revés de uma clientela demasiado restrita. Por isso lhe desejo agora, no frenético Chiado, maior sucesso… contanto que me retribua com os paladares da minha saudade.
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Olha! Parece quase a história do Cavaco com a Quin...
Calculo que tenha lido uma pequena sátira antiga e...
Parabéns. Excelente ironia da nossa triste realida...
estudei matemáticas dita superiores. nunca levei a...
Sendo tudo isso verdade, e por isso referi no post...