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Periodicamente, retempero-me nos clássicos. E é comum que o faça em segundas e terceiras revisões. Mas com o Camilo não há essa necessidade, pois, graças à extensão da sua obra, tenho sempre novos Camilos a desbravar. Desta vez, motivada pela crescente curiosidade por tudo o que respeita à minha «terra», escolhi o título «Mistérios de Lisboa». E não estremeci perante as suas quase setecentas páginas, nem perante a letra miudinha e o aperto das linhas. Estremecimentos, reservava-mos o conteúdo. A intriga é complexa e enreda uma série de personagens equívocas nas suas opções de vida – todas elas tão prisioneiras de uma fé religiosa e moral ardente, como libertas dela nas suas relações amorosas, invariavelmente extra-conjugais e frutuosas em bastardias. Mas a surpresa é o romantismo exacerbadíssimo que perpassa pela narrativa, em que não encontro, até onde já li – e já passei de metade – senão torrentes de lágrimas, suspiros, agonias, desmaios e toda a panóplia de manifestações paroxísmicas de sofrimento espiritual, febres tísicas e golfadas de sangue, orações convulsas de mãos trémulas e braços erguidos, penitências, cilícios e lances de êxtase, de delírio e de loucura, naquilo que é uma procissão de mártires das paixões e do remorso, que se martirizam pelos caminhos espinhosos do martírio que é a existência terrena. Confesso que, embora conheça alguma obra do Camilo romântico, os Mistérios de Lisboa extremam as características da escola, e não há sequer um laivozinho do seu delicioso sarcasmo (salvo, talvez, no episódio da Anacleta bacalhoeira, quando ainda era velhaca) que alivie o quadro tenebroso de desgraça. É um mistério – meu, não de Lisboa – que mantenha intacto o interesse nesta leitura. Mas mantenho. Não é, certamente, pelo desenlace, que adivinho de consumada tragédia… Ou talvez seja, pensando melhor, pela ânsia de ver, sim, consumada a tragédia. Que é como quem diz, ver «abatidas» tão sofridas e enervantes personagens, de modo que não fique uma para [re]contar a história.
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