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A felicidade dos outros

por João Távora, em 25.02.10

Conheço imensas pessoas que vivem oprimidas por inusitados preconceitos ou toleimas, algumas delas que até não conseguem esconder claros sinais de infelicidade ou trejeitos de ressentimento. E como o mundo seria um local mais aprazível se todos fossemos felizes... à minha maneira! 

A História está cheia de exemplos de como, em nome de uma noção de felicidade, se podem cometer as maiores barbaridades. É neste sentido que a liberdade das pessoas, tida como último reduto civilizacional, tem de ser preservada a todo o custo como um conceito neutro, isento de opinião. É perigoso misturar as coisas: como afirma Isaiah Berlin "liberdade é liberdade, não é igualdade, nem equidade, nem justiça, nem cultura, nem felicidade humana, nem consciência tranquila". É como cristão que considero que esta liberdade, desde que não interfira com a dos outros ou que não profane a integridade física do próprio  tem que ser salvaguardada. 

Vem isto a propósito deste artigo, a respeito da discussão sobre a legitimidade da proibição em França da burca ou do xador, artefactos (sórdidos, na minha opinião) utilizados por algumas mulheres muçulmanas que interpretam de forma extremada a exigência de circunspecção por parte da mulher no Alcorão.

Perante o dilema colocado, não é sem alguma hesitação que concluo por uma opinião contra a proibição. Assim, parece-me que aos Estados civilizados, e suas boas consciências, lhes resta reforçar uma  efectiva batalha pela educação com base na assumpção da tradição cultural que lhes deu origem e por uma justiça actuante que, garanta a dignidade e o livre arbítrio de todos os cidadãos. Por muito que isso às vezes custe. 


10 comentários

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De Luísa Correia a 25.02.2010 às 14:18

João, e não será essa proibição já parte do esforço educativo?
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De João Távora a 25.02.2010 às 14:33

Cara Luísa: a proibição serve para muitas coisas mas não como pedagogia, e os seus efeitos podem ser perniciosos se for sentida como intrusiva e ilegítima. Parece-me que proibir alguém de se agir segundo a sua consciência um acto que só a ela compromete é uma violência, é quanto a mim um grave precedente.
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De Réspublica a 25.02.2010 às 15:02

Ora amigo João Távora, como sabe a burca começou a ser utilizada para distinguir as mulheres livres das escrava, que não a utilizava e, por isso, poderiam ser violentadas por qualquer "bom" muçulmano que as visse na rua, o mafamede considerava que seria um sinal distintivo .
Hoje já não se passa assim, muito mais num país Civilizado como a França, logo faz todo o sentido proibir tal instrumento de opressão e repressão, ou acha mesmo que todas as mulheres que usam burka ou chador o fazem de livre vontade?

A solução é simples há uma lei, quem a quer respeitar pode viver livremente em França, quem não a respeitar tem uma boa solução volta para a sua terra...
Por Santiago y cierra
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De Só sei que não sei a 25.02.2010 às 15:44

Não tenho propriamente opinião formada e definitiva sobre o assunto, e só "comento" para mencionar os efeitos que qualquer das duas opções (permitir ou não permitir) acarreta, e nem me refiro às repercussões de carácter político, mas simplesmente, e por exemplo, ao facto de uma repressão levar eventualmente a maior uso da burka, numa atitude de desafio.
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De João Costa a 25.02.2010 às 17:33

Caro João Távora,

Há uma frase do Bernard Henri-Lévi que diz tudo: a Burka não é um traje, é um ultraje.

Estou longe de estar convencido que as mulheres que a usam, o fazem no pleno uso da sua liberdade/vontade.

Sendo o rosto humano a expressão máxima da individualidade, em termos físicos, escondê-lo é, em certa medida, anular essa mesma individualidade.

E nem vou falar de questões relacionadas com segurança, já que isso daria pano para mangas.

Dito isto, compreendo a sua posição e respeito-a.
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De madalena a 25.02.2010 às 17:55

concordo consigo. e aliás , só adiro à proibição quando libertarem também as carmelitas de pé descalço e restantes monjas , de clausura ( de clausura , Jesus , não vos dá arrepios ? ) ou não , daquelas vestes horrorosas.
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De Ega a 25.02.2010 às 23:12

A hora é tardia para reflexões muito sustentadas.
Cada povo é um povo...
Já pensaram que entre nós, portugueses, ainda há quem prefira a morte dos filhos a uma trnasfusão de sangue (Testemunhas Jeová)?
Arrumemos a casa, primeiro.
(E Deus queira, não tenhamos algum descendente alinhado nessa seita...).
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De José Mendonça da Cruz a 26.02.2010 às 01:08

Meu caro João,
Sou muito pouco moderno na minha crença de que as raízes clássicas e judaico-cristãs da nossa civilização fazem dela uma civilização melhor. Melhor que as outras, sim. Por isso não estou disposto a dar licença em minha casa, a Europa, a ataques à sua forma de viver, que levou muito tempo e trabalhos a apurar.
Neste sentido, a burka é um ultraje à mulher, mas também a mim.
Depois, Bernard-Henri Levy prolonga este argumento de uma maneira poderosa: pouco interessa que um escravo seja feliz, a escravidão é abominável. É abominável (acrescento eu o que ele deixou subentendido) pelos meus padrões de civilização. É exactamente o mesmo que a excisão. E - acrescento ainda, incorrendo em fúrias pc mas aplaudindo de pé os suíços - o mesmo que os minaretes e os cânticos atirados à vizinhança 5 vezes por dia.
Há argumentos secundários, embora importantes: é um atentado à segurança autorizar parte da população de um país a andar encapuzada.
E só compreendo a tua posição por Levy rematar com o apelo a que usar burka seja anti-republicano. Pronto, foi isso. Tocou a costela sensível...
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De João André a 26.02.2010 às 11:50

Caro João, ocasionalmente concordamos. Este é um dos casos.
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De Corta-fitas a 26.02.2010 às 12:04

Vá lá... :-)

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