A Comissão dos 10 milhões – de euros, que não de Portugueses – dá hoje o tiro de partida das comemorações da velha senhora, celebrando o 31 de Janeiro.
Amanhã bem poderia lamentar a infâmia do dia em que um grupo de assassinos carbonários mataram o Rei D. Carlos. Mas isso, penso, seria pedir demais ao sectarismo oficial da República dona de Portugal.
Mas, afinal, o que foi o 31 de Janeiro?
Uma revolta que, aproveitando-se do vergonhoso Ultimatum que a velha aliada impôs ao nosso País – e em relação ao qual a instituição monárquica era obviamente isenta de culpa -, pretendeu antecipar a balbúrdia da República, que viemos depois a conhecer entre 1910 e 1926.
O caldo de cultura da época era o insulto baixo e soez à pessoa do Rei, apontado como causa de todos os males que atingiam a Nação. A propaganda republicana, boateira e insidiosa, corroía a sociedade, instrumentalizando crédulos e ignorantes ao serviço de alguns arrivistas que ambicionavam assenhorar-se do Poder.
Quanto à acção, em si, foi pouco mais do que uma desordem pública. Um movimento indisciplinado, desordenado, juntando alguns militares subalternos e uma pequena multidão de populares curiosos, sai às ruas do Porto e dispara sobre a Guarda Municipal, quando esta os intima a fazer alto.“Então esta fez a primeira descarga, dizem ainda que para o ar, rompendo logo vivo tiroteio entre os insurrectos e os municipais” referiria no dia seguinte o jornal Primeiro de Janeiro.
Pouco tempo durou a insurreição. O pânico depressa tomou conta dos revoltosos que procuraram refúgio no edifício da Câmara do Porto, onde se renderiam ainda às 9 horas da manhã daquele dia.
Finda a revolta, as garantias individuais foram temporariamente suspensas pelo Governo, a fim de “restabelecer o império das leis e a ordem pública alterada”, e os regimentos de Caçadores 9 e Infantaria 10 dissolvidos por terem participado na revolta, “manchando assim a honra da bandeira confiada à sua guarda, como symbolo augusto da patria”.
19 anos depois cumprir-se-ia o sonho dos revoltosos do 31 de Janeiro.
A Pátria conheceria finalmente a paz, a estabilidade política, o progresso social, o desenvolvimento económico, a justiça e, acima de tudo, a Liberdade e a Igualdade. Os Portugueses seriam então todos irmãos, prometiam os republicanos...
Poucas vezes um sonho se veio a revelar tão diferente da realidade.
Cem anos depois da instauração da ditadura do partido democrático, só por clubismo, interesse ou ignorância se pode sustentar que assim não foi.
Como logo dois anos depois de proclamada a República o reconheceu António José de Almeida, ilustre polemista e dirigente do Partido Republicano, quando este futuro Presidente escreveu: ”Em Portugal, de facto, não há governo. Há só um ministério, varado de medo, que finge governar! A nossa Republica vive em ditadura plena, mas a peor das ditaduras porque é a ditadura dos bandos!... Quem impera é a tirania dos antros. Suprema miséria! Suprema vergonha!”