
Uma situação nacional séria, grave, que conforma o presente e o o futuro de todos ... E, no entanto, que nos dão os orgãos de comunicação portugueses? Dão-nos chuvas, ventos, futebol, neves, alertas, muito circo, crimes avulsos, acidentes de estrada, muito futebol, assaltos, telenovelas acéfalas, motins no estrangeiro, folclore ininterrupto. Onde está a informação genuína, onde estão os temas nacionais realmente relevantes, onde está o escrutínio, onde estão os jornalistas?
- na TVI, é por demais público o saneamento de Manuela Moura Guedes e o abate do Jornal de 6ª. Golpe certeiro: imediatamente, a informação da estação passou a ser conformada e acrítica. Nos telejornais, há até agora jornalistas que crêem e repetem que Manuel Godinho é «a cabeça do polvo» de uma rede corrupta, sem compreenderem (ou fazendo que não compreendem) que é apenas um tentáculo, e que quem escreveu Face Oculta sabia o que fazia;
- a Sic Notícias é clinicamente dirigida por António José Teixeira, que além das conversas com Mário Soares se destacou na farsa do défice, em 2001, um falso alarme de falso défice futuro que permitiu a Sócrates fingir-se surpreso e aumentar impostos, ao contrário do que prometera;
- no Público, José Manuel Fernandes foi afastado na sequência do imbróglio das escutas,e substituido por Bárbara Reis, mais impressionável com distracções como o casamento homossexual. É ainda assim, um dos poucos sítios onde há jornalismo e escrutínio;
- no DN, João Marcelino cala, omite, propagandeia e faz terrorismo como convém ao governo e ao proprietário do jornal, comprado com empréstimos da Caixa negociados com Armando Vara;
- RTP, Visão, TSF, Antena 1, são meras correias de transmissão socialistas;
- O Expresso distrai-se a sublinhar as divergências no PSD cada vez que desponta uma notícia negativa para o Governo; quando a ocasião não se presta, o Expresso recorre à relativização, outra habilidade comum: o governo PS errou, mas o mal não é só deste governo;
- o Correio da Manhã dedica-se à sua particular espécie de irrelevância. Dívida? Défice? Divergência? Não: esquentadores que intoxicam, meteorologia, crime, muito circo. É o mesmo que fazem as televisões generalistas, cada vez mais comprometidas no empobrecimento cultural e intelectual do país. Resta que o CM é ainda um jornal livre, ou não teria sido o único a noticiar que, em recente deslocação, Sócrates aceitara dar respostas apenas sob condição de os jornalistas não perguntarem sobre o caso Freeport. E os jornalistas aceitaram. E só o CM teve a seriedade de revelar a pressão inaceitável sob que estava;
- O Sol vai sobrevivendo, depois de rejeitar a glória de ser ajudado pelo primeiro governo de Sócrates;
- O «I» , dirigido por um dos mais sérios e inteligentes jornalistas portugueses, perdeu uma boa oportunidade de ser alguma coisa, talvez por timidez ou pressão dos interesses do proprietário grupo Lena;
- Resta que mais? O Jornal de Negócios, o caso que sobrou dessa imprensa económica que era mais informativa num dia que um jornal generalista em 8, agora que, sob António Costa, o Diário Económico passou a ser mais cordato e simpático, e a relativizar os nossos males acenando o mal dos outros.
E sobre todos pesa essa coisa gastadora e sombria chamada Entidade Reguladora para a Comunicação (que se deve muito, havemos de convir, a Nuno Morais Sarmento, a quem, de cada vez que se encontram, Santos Silva não deixa de agradecer cruelmente).
Jornalistas? Informação? Não se vê bem ... Mas vê-se - e lamenta-se - que a oposição (e principalmente o PSD) não compreenda que o PS foi, embora de forma nefasta e asfixiante, extremamente competente, nem leve estes temas muito a sério quando é e quando não é governo.