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Ode ao nabo

por António Figueira, em 01.11.09

Quando, esta manhã, eu estava a cortar, rasgar, despedaçar – porém com amor – as hortaliças compradas ontem na praça, com vista a fabricar a sopa que há-de servir de base ao regime que há-de tornar-me esbelto & saudável, achei nas minhas mãos um nabo, um singelo nabinho roxo e branco, que fez luz no meu espírito. Ele não há criança que goste de nabo; é para evitar que ela tenha de comê-lo, em casa da madrinha, que se lhe ensina a fórmula, entre todas ridícula, do “não aprecio”; mais: aos maljeitosos e desengonçados, chamam os infantes “nabos” – o que, por juntar o insulto à injúria, dá bem a medida do desprezo infantil pelo nobre vegetal. E no entanto… no entanto, também não conheço paladar adulto, maduro, educado, que não “aprecie” nabo – ou seja, no rude português que deve ser o nosso, não goste de nabo. O amor do nabo é pois um privilégio da idade, a nossa vingança sobre o triunfalismo vital das criancinhas ignaras. Não nos iludamos: seres para a morte que somos, todos preferiríamos lá no fundo estar no lugar delas, com as avenidas da vida abertas pela frente, do que pensar que o bolo estava bom, mas já comemos dele mais de metade, ou de dois terços, ou de três quartos…; agora o que só nós podemos ter e elas não, é a compreensão fina e superior do encanto do nabo, cozido, estufado, enfim, amado, por todas as pessoas de bom gosto.

 

(publicado também aqui).


5 comentários

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De JMG a 01.11.2009 às 19:45

A bem dizer, não é só o nabo que os infantes aborrecem: também a sopa, e o pepino, e as favas, e, e ... Por outro lado, têm um amor imoderado ao bife com batatas fritas, acompanhado hoje, valha-lhes Deus, a coca-cola, uma bebida adocicada e peganhenta cujo sucesso é para mim um insondável mistério. Porque será? Não ligo pevas ao que dizem nutricionistas e outros entendidos na arte de escaqueirar os prazeres da mesa, mas lá que não se me dava de conhecer as razões pelas quais o nosso gosto muda com a adultícia, lá isso ...

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