por Luís Naves, em 05.09.09
Síndroma de Pedro e o Lobo
A primeira semana de Setembro correu mal ao PS. Em vez do lançamento de uma campanha que com sorte levaria a uma vitória tangencial, os socialistas viram esboroar-se a sua estratégia de vitimização e controlo mediático. Agora, é bem visível a síndroma de Pedro e o Lobo: tantas vezes gritaram contra campanhas negras, que já ninguém acredita na inocência.
Acima de tudo, o PS subestimou o descontentamento da população. Faltam três semanas para as legislativas e o empate entre os dois maiores ou a ligeira vantagem do PSD apontam para um futuro bloco central (não digo coligação formal, mas por exemplo um governo minoritário que negoceia uma dezena de situações em que o grande derrotado se abstém no parlamento).
O bloco central está a diminuir e atingirá em breve o tamanho que justifica a grande coligação. A soma PSD e CDS terá dificuldade em reunir maiorias; idem para a soma PS e BE; desta vez, pode acontecer que o PSD ganhe, mas o primeiro grupo seja menor do que o segundo; (quem governava, com essa maioria de esquerda e vencedor de direita?).
O PC é previsível: é mais uma comunidade do que um partido; terá boa votação, mas está cada vez mais regional, confinado entre Lisboa, Beja e Évora.
O CDS tem o problema de ser uma facção do PSD fora do PSD, também regional, entre Viana, Aveiro e Viseu.
O bloco tem ainda de resolver a sua contradição interna entre marxismo e liberalismo, mas cresce onde há universidades.
Todos os pequenos vão eleger mais deputados, mas as vitórias devem ser insuficientes. O facto é que estes três partidos estão a especializar-se em nichos do eleitorado ou regiões.
E julgo que não haverá novas maiorias absolutas para qualquer dos grandes, pelo menos enquanto as pessoas se lembrarem destes quatro anos.
No fim da contagem, pode restar apenas a solução bloco central, formal ou tácito, com grande influência de Belém, em nome da crise.
Enfim, o sistema político está paralisado e pode levar bem mais de dois anos a definir outro mais eficaz.