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Ao devolver à Assembleia a nova lei das uniões de facto, Cavaco Silva fez uma espécie de inversão do ónus da prova. O que Cavaco nos diz é que, não equiparando ‘uniões de facto’ a ‘casamentos’, está-se a dar mais liberdade aos cidadãos, uma vez que quem opta por não se casar não quer ter as mesmas responsabilidades/direitos daqueles que se casam. Percebo o argumento, mas temo que as verdadeiras razões deste veto tenham mais que ver com um pensamento conservador, burguês e católico – próprio do século XIX – que punha a esposa no pedestal/altar e a amante na cama. Portanto, temo que a hipocrisia impere. Ainda mais, se olharmos para as estatísticas, percebemos que o fenómeno do casamento é mais masculino. Os filhos são apontados como explicação (ver edição de hoje do I), já que as mulheres com filhos de relações anteriores tendem a ser excluídas de um novo casamento, enquanto os homens voltam mais frequentemente a casar. É de recordar que Cavaco alegou a protecção das mulheres – como elemento mais fraco - para colocar reticências na aprovação da nova lei do divórcio. As mulheres em união de facto não lhe merecem a mesma preocupação? Enfim, em última instância, não poderia estar mais de acordo neste tema com o advogado Adolfo Mesquita Nunes: ‘Em vez de passarem horas a discutir a vida dos outros, os deputados devem limitar-se a abrir conformação dos termos destes contratos à vontade dos casais, de igual ou diferente sexo’ (para ler também no I).
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