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A teoria económica da democracia (Downs, 1957) pressupõe que existem custos relacionados com a aquisição e análise de informação política, medidos em tempo, energia e oportunidade e que os eleitores (votantes) racionais pagarão tais custos apenas na medida em que tal informação implique um retorno. Acontece que, em sociedades grandes, o voto de uma pessoa perde-se num mar de votos e, por isso, os benefícios instrumentais de um voto esclarecido são ínfimos.

 

Duas razões essenciais, diria, concorrem para que as escolhas eleitorais 100% racionais devam ser perto do zero: uma primeira porque é física e materialmente impossível (em sociedades grandes) adquirir e analisar a totalidade da informação política produzida em determinada campanha eleitoral e votar apenas de acordo com essa informação (para não falar no número imensamente reduzido de indivíduos capazes de compreender o pleno das propostas constantes dos programas eleitorais, crescentemente complexos e em áreas tão díspares – da Bioética ao Nuclear, passando pelo Urbanismo, Ensino, Obras Públicas, Habitação, Ambiente, Finanças, Política Externa, etc…).

 

Em segundo lugar porque essa informação não se fica pelos programas eleitorais, intervenções partidárias, debates, artigos de opinião e discursos integrais dos candidatos e dos seus porta-vozes (mesmo admitindo a muito remota possibilidade de que um individuo isolado tenha a capacidade de adquirir essa informação). Essa informação é mediada pelos media, intermediada pelos órgãos de comunicação social, seleccionada, editada, comprimida e relatada pelos editores dos diversos órgãos de comunicação social e jornalistas, e analisada e desconstruída com maior ou menor seriedade, isenção e idoneidade pela bateria de analistas, comentadores e outros que se dedicam ao exercício da opinião no espaço público.

 

Esta mediação é tão ou mais relevante quanto a informação a que o público em geral tem acesso é aquela que, justamente, lhe é feita chegar pelos meios de comunicação social de massas: na difusão e selecção de notícias, os editores, os redactores e os difusores (de forma destacada a televisão) desempenham um papel importante na moldagem da realidade política. Os leitores, espectadores e ouvintes tomam conhecimento não apenas sobre determinado assunto, mas também que importância lhe atribuir devido à quantidade de informação numa reportagem e a sua posição. Ao transmitirem aquilo que os candidatos dizem no decorrer de uma campanha, os meios de comunicação social de massas podem muito bem determinar a importância dos assuntos – isto é, os media podem estabelecer a agenda da campanha (McCombs e Shaw, 1972).

 

O desafio que cabe aos políticos, sobretudo em campanha, é vencer estas duas resistências complicadas: em primeiro lugar, reduzir os custos individuais inerentes à recolha e pesquisa de informação: em segundo lugar, fazê-lo da forma mais directa, no sentido de que a “definição da agenda” possa, o mais possível, ser feita pelos próprios e não pela comunicação social.

 

Por cá, também já perceberam que as televisões são instrumentais.

 

As televisões andam, por estes dias, “atrapalhadas”, porque dois partidos não dão resposta aos convites endereçados para os debates e frente-a-frente.

 

A lógica das televisões, com a dupla dimensão editorial e comercial, é diversa da dos partidos; os tempos mediático e político são diferentes e, até, concorrenciais. Muitos autores (norte-americanos, sobretudo, mas também alguns europeus – portugueses poucos – e brasileiros) têm dedicado bastante atenção à influência que a televisão tem na mobilização política do eleitorado e na determinação do voto.

 

PS e PSD são quem mais tem a perder com debates e frente-a-frente. Sócrates e Ferreira Leite não têm medo de debater e se calhar vontade não lhes falta. Mas como poupar custos de informação ao eleitor já não está no ADN dos partidos de hoje, sobra a utilização instrumental das televisões enquanto estratégia eleitoral.

 

 

E se o balancete e a contabilidade não estiverem ainda feitos do lado do PS e do PSD, bem podem as televisões ir esperando.



Corta-fitas

Inaugurações, implosões, panegíricos e vitupérios.

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