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O desmentido
“Achas que sou pindérica, Adolfo Ernesto?”
Quando a Clotilde me atirou com esta pergunta, soube de imediato que o caso era sério e que vinha aí uma... como diz o doutor Pulido... uma valente trapalhada.
“Então, tu achas que eu ia para a praia da Caparica? Para uma tenda? Com um homem de cinquenta anos? E quem é a tal Floribela?”
“Acho que isso seria impossível, querida...E juro que não sei quem é a Floribela, certamente um rumor sem fundamento que ouviste algures, não tenho nada a ver com isso, jamais te trocaria por uma Floribela qualquer...”
“Mas vinha no teu blogue a dizer que eu estava na praia da Caparica”.
“Vinha no Cut-Fights? Deves estar a fazer confusão”.
“Mas responde à minha pergunta. Sou pindérica?”
Esta é a situação lose-lose que nenhum amador gosta de enfrentar: se amamos, não podemos dizer a verdade; mas se não dizemos a verdade, é porque não amamos.
Optei por uma estratégia de losango, como a que inventou aquele mister Bento, que aliás está a fazer profundas mudanças na equipa e até tenciona mudar o Risco do meio para a esquerda. Eu desde já digo que não percebo nada de futebol e ouvi esta na barbearia, portanto deve ser boa ideia.
“O Cut-Fights é um blogue sério”, disse eu. “O senhor Naves explicou-me que só não publicou as minhas 30 últimas crónicas que lhe mandei porque não havia espaço”.
“Diz a esse pseudo-intelectual que se não publicar o meu desmentido, vou ter com o senhor Pacheco, que o publicará naqueles posts azuis que nem sempre é ele a escrever, ouviste? Ou pior, vai ler em voz alta o meu desmentido no programa de TV onde critica os abusos da comunicação social”.
“E como é o teu desmentido, Clotilde?”
“Vou ditar”, disse ela, com um sorriso frio que me gelou por dentro: “Ao abrigo da lei de imprensa, Clotilde Adolfo Ernesto vem por este meio afirmar que nunca esteve na praia da Caparica numa tenda com um homem de 50 anos e nem sequer sabe quem é a Floribela. Sou uma rapariga moderna e sofisticada, nada pindérica, e tal. Gosto de piscinas e de homens mais novos”.
A mulher que eu amo disse esta última frase com uma leve hesitação na voz. Talvez duvidasse intimamente da sua pós-modernidade. Sentia-se que, no interior da alma profunda, nesses abismos que desafio todos os dias, havia um ser ilimitado e frágil, que tremia de se ver ao espelho. Alguém que procurava na imagem exposta uma pequena flacidez incerta, um fugidio cabelo branco, um inesperado sinal da decadência que nenhuma crónica pode impedir.
Adolfo Ernesto, um vosso criado
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