Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]




A minha ilusão liberal

por Tiago Moreira Ramalho, em 12.07.09

O Luís criou aqui uma polémica interna e eu não posso deixar de responder, principalmente por haver tantas perguntas.

Eu também penso que a Maria João Pires tem de ser respeitada. Não por ser uma grande pianista, apenas porque é alguém - digamos assim. O respeito que lhe devo não tem nada a ver com as suas qualidades artísticas. Julgo que não era isso que o Luís queria transmitir, mas é sempre bom deixar isto claro.

Eu não tenho nenhum preconceito em relação à cultura, Luís. Aliás, acho mesmo que um sistema de ensino miserável tem feito com que a «malta jovem» não ligue peva ao teatro, à ópera, às orquestras e tudo mais. Tudo isto é terrível, que agora só a pop tem importância.

Quanto à relação das escolhas e imposições, darei um exemplo paralelo: em Portugal há pouca investigação na área da Filosofia. Se eu, Tiago, acho que a Filosofia tem de ser apoiada, então apoio-a. Contribuo, por exemplo, financeiramente ou até posso arranjar um grupo de pessoas e crio uma instituição. Chama-se iniciativa. No entanto, penso que a minha vontade pessoal de haver mais estudo de Filosofia em Portugal não tem de ser imposta aos outros. Normalmente, a «sociedade civil», em vez de fazer isto de criar um grupo de pessoas para apoiar aquilo que acha que deve ser apoiado, faz o mais fácil: mete uma petição online e espera que o governo pegue no dinheiro de todos e satisfaça o desejo daqueles tantos.

Quanto ao fim da cultura que o Luís prevê caso deixe de haver apoios. Bom, Luís, isso significa então que os portugueses não gostam assim tanto das coisas que enuncia. E se os portugueses não estariam dispostos a pagar directamente para ir ao teatro, por que raio devem ser obrigados a pagar via impostos? É que é pago, não há almoços grátis.

Em relação às restantes benesses que se enunciam, como os apoios à banca, penso que também deveriam acabar, obviamente. Aliás, se estou a pedir para que acabem os subsídios à cultura seria estupidamente incoerente defender os apoios à banca. E sim, todo o resto das coisas que enuncia são imposições da vontade de alguns - mesmo que seja a maioria - aos outros. E sim, vejo todo o sentido que quem se oponha a tais coisas se bata pela causa, tal como me bato por esta.

Penso que não se pode chamar aos alunos das escolas públicas parasitas pelo que já escrevi no post anterior: «O sistema de ensino público implica que todos os portugueses paguem com os seus impostos a existência de escolas, o pagamento de salários – alguns deles quase imorais nos últimos escalões –, e até o funcionamento do próprio Ministério da Educação e os salários dos boys e burocratas do costume. Significa isto que quando uma pessoa estuda no público, está apenas a usufruir de um serviço que foi obrigada a pagar, via impostos.»

E não, Luís, eu não quero viver num país sem cultura. Que triste seria. Mas dou aos outros a possibilidade de querer. Afinal, não é isso a liberdade?


3 comentários

Sem imagem de perfil

De Manuel Leão a 12.07.2009 às 17:26

Tiago Moreira Ramalho:

«Afinal, não é isso a liberdade?»

Talvez seja. E daí?

Mas numa coisa tem razão: é mesmo uma discussão interna. Nada demais. Resta-me esperar que não seja tão fracturante como a de Outubro do ano passado.
Olhe, gostei dessa ideia de apoiar a Filosofia.
Sem imagem de perfil

De Daniela Major a 12.07.2009 às 19:19

Basicamente o que tu estás a dizer é que qualquer artista, escritor, pintor, enfim qualquer pessoa ligada ao Mundo das artes em Portugal depende e quer depender muito do Estado, certo?

Pois bem, eu gostaria de dar outro exemplo aquele que acrescentaste. Hoje em dia, há centenas de jovens portugueses que estão a estudar e a trabalhar no estrangeiro nas mais variadas áreas: ciência, medicina, História, e até Artes. Eu pergunto: quantos desses jovens tem apoio do Estado?
Poucos sem dúvida. Mas a verdade é que eles se safam perfeitamente sozinhos e chegam a lugares fantásticos.

O que eu quero dizer com isto, é que o Estado deve apoiar a cultura mas não tem necessáriamente de apoiar todos os artistas que lhe aparecem à frente. E os artistas também não podem achar que o Estado é a fonte de todos os seus subsídios. O Filipe La Féria faz espectaculos de teatro sem subsídios. E a cultura continua a ser uma opção como tu bem disseste.

Há outras maneiras do Estado apoiar a cultura... Passa-me por exemplo pela cabeça a entrada livre nos museus.
Imagem de perfil

De Cristina Ribeiro a 12.07.2009 às 20:08

Quem tem valor tem procura, tem público. Essa tal de subsídiodependència chega a ter laivos de imoralidade.

Comentar post



Corta-fitas

Inaugurações, implosões, panegíricos e vitupérios.

Contacte-nos: bloguecortafitas(arroba)gmail.com



Notícias

A Batalha
D. Notícias
D. Económico
Expresso
iOnline
J. Negócios
TVI24
JornalEconómico
Global
Público
SIC-Notícias
TSF
Observador

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Comentários recentes

  • Anónimo

    Pois...

  • marina

    é assim , para analisar este assunto só contabili...

  • Luis

    Num país como os EUA um artista que fosse estourar...

  • Anónimo

    Muito bem. Partilhei.

  • Anónimo

    Com que então, " Botas" ?...Suspeito que o "Foreig...


Links

Muito nossos

  •  
  • Outros blogs

  •  
  •  
  • Links úteis


    Arquivo

    1. 2024
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    14. 2023
    15. J
    16. F
    17. M
    18. A
    19. M
    20. J
    21. J
    22. A
    23. S
    24. O
    25. N
    26. D
    27. 2022
    28. J
    29. F
    30. M
    31. A
    32. M
    33. J
    34. J
    35. A
    36. S
    37. O
    38. N
    39. D
    40. 2021
    41. J
    42. F
    43. M
    44. A
    45. M
    46. J
    47. J
    48. A
    49. S
    50. O
    51. N
    52. D
    53. 2020
    54. J
    55. F
    56. M
    57. A
    58. M
    59. J
    60. J
    61. A
    62. S
    63. O
    64. N
    65. D
    66. 2019
    67. J
    68. F
    69. M
    70. A
    71. M
    72. J
    73. J
    74. A
    75. S
    76. O
    77. N
    78. D
    79. 2018
    80. J
    81. F
    82. M
    83. A
    84. M
    85. J
    86. J
    87. A
    88. S
    89. O
    90. N
    91. D
    92. 2017
    93. J
    94. F
    95. M
    96. A
    97. M
    98. J
    99. J
    100. A
    101. S
    102. O
    103. N
    104. D
    105. 2016
    106. J
    107. F
    108. M
    109. A
    110. M
    111. J
    112. J
    113. A
    114. S
    115. O
    116. N
    117. D
    118. 2015
    119. J
    120. F
    121. M
    122. A
    123. M
    124. J
    125. J
    126. A
    127. S
    128. O
    129. N
    130. D
    131. 2014
    132. J
    133. F
    134. M
    135. A
    136. M
    137. J
    138. J
    139. A
    140. S
    141. O
    142. N
    143. D
    144. 2013
    145. J
    146. F
    147. M
    148. A
    149. M
    150. J
    151. J
    152. A
    153. S
    154. O
    155. N
    156. D
    157. 2012
    158. J
    159. F
    160. M
    161. A
    162. M
    163. J
    164. J
    165. A
    166. S
    167. O
    168. N
    169. D
    170. 2011
    171. J
    172. F
    173. M
    174. A
    175. M
    176. J
    177. J
    178. A
    179. S
    180. O
    181. N
    182. D
    183. 2010
    184. J
    185. F
    186. M
    187. A
    188. M
    189. J
    190. J
    191. A
    192. S
    193. O
    194. N
    195. D
    196. 2009
    197. J
    198. F
    199. M
    200. A
    201. M
    202. J
    203. J
    204. A
    205. S
    206. O
    207. N
    208. D
    209. 2008
    210. J
    211. F
    212. M
    213. A
    214. M
    215. J
    216. J
    217. A
    218. S
    219. O
    220. N
    221. D
    222. 2007
    223. J
    224. F
    225. M
    226. A
    227. M
    228. J
    229. J
    230. A
    231. S
    232. O
    233. N
    234. D
    235. 2006
    236. J
    237. F
    238. M
    239. A
    240. M
    241. J
    242. J
    243. A
    244. S
    245. O
    246. N
    247. D