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As ilusões iranianas

por Luís Naves, em 19.06.09

 

A situação no Irão parece estar a evoluir de maré de protestos para uma fase de negociação de compromisso. Não parece que Mahmoud Ahmadinejad seja retirado da presidência, pois isso seria mostrar uma fraqueza que o regime não tem. Como se pode ver neste texto do New York Times, o Líder Supremo, Ali Khamenei, referiu-se à imprensa “sionista” que no ocidente, segundo disse, tem manipulado as notícias sobre o Irão. Este regime não vai aceitar uma revisão do resultado eleitoral e poderá contentar os reformistas com algumas aberturas controladas e concessões menores. Seria importante o abandono do programa nuclear, mas é preciso não sonhar. No Irão mandam os religiosos e estes não vão abandonar a bomba.

Aliás, penso que o tema tem sido discutido na blogosfera portuguesa com pouco realismo. Compreendo que o desejo em política dê origem a campanhas, como se vê em Jugular, que tem publicado propaganda dos reformistas (sim, usei esta palavra associada a algo de maléfico e pouco honesto; mas que querem? é propaganda na mesma, embora do lado "bom").

Acho compreensível, gostava que tivessem razão, mas infelizmente o que escreve Luciano Amaral, aqui, é mais realista, como são mais realistas estas observações de Ana Cássia Rebelo, em Ana de Amsterdam, aqui e aqui.

É perigoso confundir desejo com realidade e fazer a leitura dos acontecimentos aos olhos das nossas convicções. Esta é a maneira mais certa de não percebermos nada.


3 comentários

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De Inês Meneses a 19.06.2009 às 13:32

Luís, acontece que o post do Luciano só funciona se se entender que impôr de fora (e muitas vezes à bomba) um regime que nos convém é o mesmo que aplaudir um movimento interno da população iraniana no sentido de mudanças no regime; e os posts da Ana vivem duma leitura deste aplauso como apoio a Moussavi e não como apoio à tal vontade interna de mudança. Onde o Luís vê realismo, eu vejo duas inaceitáveis confusões, sejam ou não deliberadas.
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De Luís Naves a 19.06.2009 às 15:47

Tem certamente alguma razão, Inês. Eu não concordo com a ideia de que apoiar determinadas forças políticas num país seja uma ingerência inaceitável nos assuntos internos desse país. Acho também que se Obama ou ou europeus fizessem muito barulho isso seria usado contra os reformistas. Daí o relativo silêncio neste caso, que alguns interpretam como cinismo, mas que me parece lógico. O Irão tem estado, e bem, sob intensa pressão da comunidade internacional devido à questão nuclear, que é perigosa para todos nós. Em relação ao texto de Luciano Amaral, usei a palavra realista, o que talvez não seja exacto, pois no fundo trata-se de uma opinião do autor. Digamos que me pareceu bem observado. Por outro lado, não é uma confusão inaceitável juntar manifestações populares e a personagem de Moussavi . Os dois não coincidem, mas estão ligados.
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De Inês Meneses a 19.06.2009 às 16:00

Estamos então de acordo em tudo o que é essencial - com a ressalva de que não vi ainda nenhuma das pessoas que têm estado... optimistamente expectantes, digamos, em relação às sublevações dos últimos dias, deixar de frisar que o optimismo se deve à intensa manifestação de descontentamento, e não à personagem de Mussavi, que é das tais que consegue desagradar a toda a gente. Parece-me que o ponto tem sido sempre que, neste contexto, algumas coisas terão de começar a mudar, quem quer que fique à frente do destino do Irão. A partir daqui, tem toda a razão, trata-se de pura esperança. Isto até pode resultar num período de repressão intensa. Ou no ressurgimento de um contra-movimento conservador que adie as tais mudanças ainda mais. Mas há, pelos vistos, muitos iranianos dispostos a arriscar. E, por mim falo, é difícil não partilhar da esperança deles. Dizer que se é de esquerda passa também por esperanças e optimismos, não é?

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