por Joao Tordo, em 18.06.09
Leio a seguinte notícia: se os britânicos pudessem viajar no tempo e encontrar-se com os mortos, escolhiam, em primeiro lugar, Jesus Cristo e, em segundo, a princesa Diana; e, se pudessem revisitar uma época histórica, remontariam à Inglaterra vitoriana ou a Grã-Bretanha pós-Segunda Guerra Mundial. Pois eu acho que mentem. Estas são as respostas convenientes e educadas; ninguém de perfeita saúde mental quereria viver na época vitoriana e sofrer horrores com as aristocráticas cáries pré-ortodontia, ou andar descalço, com uma coroa de espinhos enfiada na cabeça, atrás do Messias, enquanto este inicia a sua suprema e sangrenta agonia pelo Monte das Oliveiras. Malta, nós somos como os Índios: Dor não, Prazer sim. Tudo o resto – todas as coisas que dizemos em prol da estatística - são aldrabices do faz-de-conta.
Neste aspecto, acho que nós, os portugueses, somos bem mais terra-a-terra. Pergunte-se à terceira idade e eles dizem logo quem é que gostariam de conhecer – o senhor Presidente do Conselho – e onde é que gostariam de estar – aí uns cinquenta anos atrás. Ou seja, quando eram novos e não sofriam de esclerose múltipla. Isto é, somente, o desejo de voltar a ser jovem; e como, na altura, a única pessoa famosa que os portugueses conheciam era o Salazar, também não havia grande escolha, ou havia? Mas e quanto à nossa geração, a malta libertada e finalmente esclarecida acerca do Universo? Esperem, vou aqui perguntar à pessoa que trabalha ao meu lado, que tem 23 anos. Um segundo. Ah, ela diz que gostava de ter conhecido o “Carlos Lopes” e de ter vivido na época dos “Dinossauros”. Isto é giro, porque o Carlos Lopes ainda está vivo e os Dinossauros teriam sido um ENORME problema na vida dela; mas em frente. Estou em crer que os portugueses com menos de 50 anos têm duas curiosidades mais ou menos consensuais: o Carlos Paião e a Batalha de Alcácer Quibir. Eu explico. O primeiro, porque morreu sem ninguém dar por nada (no dia seguinte ao incêndio do Chiado de 1988) e depois, quando se deu por ele, gerou rumores Elvinianos de que estaria em coma depois do acidente de automóvel e que teria sido sepultado vivo – rumores que ainda hoje persistem, sabe Deus porquê; a segunda, porque, bom, não há português que não quisesse estar ali pertinho (ou, neste caso, mais ou menos afastado, mas com binóculos) para ver como terá desaparecido, afinal, aquele tal Dom Sebastião de que tanto se fala hoje em dia, uma vez que a batalha foi em 1578 e já se passaram uns anos e não há meio de regressar. Mas, se lermos as estatísticas, ninguém admite isto. É como diz o doutor House: toda a gente mente.