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Navegações (grave naufrágio em cinco dias)

por Luís Naves, em 10.06.09

Li este texto de Nuno Ramos de Almeida, em Cinco Dias, com surpresa. Se percebi, é a defesa de uma acção revolucionária para travar na rua um perigo que o autor julga existir.

As europeias foram o somatório de 27 eleições democráticas e a extrema-direita elegeu três dezenas de deputados (não chega a 5% do total). Mesmo que se constitua em grupo, este bloco será irrelevante. Os partidos de protesto são coloridos, uns ultra-liberais, outros de extrema-esquerda, muitos democráticos. O grupo que mais cresceu foi o dos ecologistas (de esquerda, como é evidente).

Os comunistas sofreram uma derrota na UE, mas isso tem a ver com o fim do pós-comunismo no leste da Europa. Basta olhar para a Polónia (país que antecipa tendências regionais) para perceber que desapareceu a “esquerda”, na realidade as forças mais reaccionárias nesta zona. De resto, os comunistas estão em declínio em todos os países ou juntaram-se a sindicalistas, como aconteceu na Alemanha.

A comparação com os anos 30 e a ascensão do fascismo não sustenta vinte segundos de análise. Nos 27 países ganham partidos burgueses, com a direita a vencer na maioria. O autor não menciona este facto. Os democratas-cristãos, socialistas, liberais e verdes controlam três quartos do parlamento europeu. O outro quarto vai para franjas onde se incluem forças perfeitamente civilizadas.

No ano passado, alguns autores da blogosfera viram nos tumultos da Grécia o início de uma revolução anti-capitalista mundial. Na altura, estranhei um dos textos de Nuno Ramos de Almeida e tentei entrar em polémica, mas o autor desvalorizou a minha crítica. A realidade deu-me razão: o partido que apoiou os tumultos gregos teve 4% dos votos, menos de metade daquilo que costuma ter. Chama-se a isto voto de protesto.

 

 


12 comentários

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De Nuno Ramos de Almeida a 10.06.2009 às 21:01

Caro Luís Naves,
Há alguns enganos no teu texto. Os antigos comunistas da Polónia estão de excelente saúde, converteram-se em
capitalistas, passaram a sociais democratas. De quatro em
quatro anos estão no governo. Eu nunca escrevi sobre
a Grécia. Já na altura te tinha dito isso. Limitei-me a
publicar textos de blogues de direita e de esquerda.
Os anarquistas na Grécia não votam não são medidos
pelas eleições. Finalmente, o partido das esquerdas na
Alemanha tem mais de 25% de votos no leste. Deve dar
que pensar. O resto, é uma conversa muito comprida.
Para esta caixa de comentário.

Abraço,
Nuno
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De Luís Naves a 11.06.2009 às 11:05

caro Nuno, só agora respondo ao teu comentário para assinalar três pontos: os antigos comunistas da Polónia, ditos social-democratas, tiveram 12% e os seus aliados mais 7%. A "esquerda polaca" vale cerca de 20%; na tua opinião, "deve dar que pensar" o facto "do partido das esquerdas ter mais de 25%" na Alemanha de Leste; acho pelo contrário que dá que pensar o facto deste partido SÓ ter 25%. E na Polónia 20%. E na Hungria pouco mais. O pós-comunismo acabou na Europa de Leste. No meu post refiro que muitos autores escreveram sobre a Grécia naqueles termos; está explicado, penso que não existe nenhum erro. E o argumento segundo o qual os anarquistas não votam é (estou à procura de uma expressão adequada, não pretendo ofender) digamos que é excessivamente argumentativo, pois se não votam não existem politicamente. No máximo, são uma minoria. E concordo contigo quando escreves que esta é uma conversa comprida. Certamente haverá outras oportunidades para a continuarmos. um abraço.
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De Tiago Moreira Ramalho a 10.06.2009 às 21:04

Luís,

O que mais me impressiona é que se aquilo que o Nuno escreveu fosse escrito por um Mário Machado, eramos gajos para ter na TV um processo em tribunal, apelos ao ódio, à violência, blá-blá-blá. Gosto francamente muito desta esquerda democrática, a quem a democracia só vale quando pende para eles. Quando pende para os outros, o povo já é estúpido e tem de ser combatido com punhos e armas.
É triste que em Portugal haja tanta gente assim à esquerda. E, em Portugal, são esses que me assustam e não o PNR, que, comparado com eles, é uma gotinha.
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De Nuno Ramos de Almeida a 10.06.2009 às 21:43

Tiago,
A vossa caixa de comentários tem um problema não se vê no Firefox todo o texto. Anulem a minha resposta anterior ao Tiago SFF.
Eu não participei num assassinato, não raptei pessoas, nem pratiquei crimes de direito comum. Ainda assim, o Tiago prefere o Mário Machado a mim. É uma comparação que define a seriedade do comentário do seu comentário. O meu único crime é achar que a Europa deve ter uma mudança radical. Era o que faltava que eu tivesse de pedir a tua autorização para defender as minhas ideias. Já me disseram que o Tiago tem 14 anos, mas como escreve num blogue de adultos, exige-se um pouco mais de seriedade.
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De Tiago Moreira Ramalho a 10.06.2009 às 21:55

Nuno,

Vamos ver se nos ententemos. Em primeiro lugar não me conhece de parte alguma para me tratar por tu. Em segundo lugar, não, não tenho 14 anos. Nem sei quem raio começou com essas histórias. Daqui a pouco ando na primária a tirar satisfaz a Estudo do Meio. Mas se lhe disseram isso é bom sinal, é sinal que, pelo menos, não passo indiferente.

Quanto ao meu comentário. Quem parece não estar a compreender muito bem o alcance da coisa é o Nuno. Eu não disse que preferia o Mário Machado a si, não prefiro nem deixo de preferir. Eu disse que se acaso o Mário Machado ou outro qualquer publicasse num blogue um texto com sentido inverso ao do seu, e até tinha oportunidade dada a ascensão da extrema esquerda, certamente haveria tumulto por aí, pelo apelo à violência e o resto que já se sabe.
E não, não tem de pedir a minha autorização para nada. Mas se publica barbaridades daquelas tem de se aguentar com o contraditório. Porque eu não tenho de lhe pedir autorização para discordar de si.

E, para terminar, que apenas gosto de manter discussões saudáveis, sendo condição necessária para a saúde de uma discussão o respeito e a educação, quem exige seriedade tem de ser sério e a sua frase final diz tudo.
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De Nuno Ramos de Almeida a 10.06.2009 às 22:13

Não queria ofender sua excelência tratando-o por tu. Isso não voltará a acontecer apesar de não conseguir ver o que escrevo na vossa caixa de comentários, a parte final do texto desaparece. Têm isto configurado para o Firefox?
Vamos às questões importantes, há um aspecto que não é sério, VOCÊ comparou-me ao Mário Machado e disse que eles eram uma gotinha comparado com as pessoas que têm a minha opinião.
Acho uma comparação insultuosa e que não lhe dá muita credibilidade. Lembrei-lhe o currículo do Mário Machado que parece que VOCÊ acha um simpático democrata, um bocadinho exaltado é certo. Mas comparado com esta chusma vermelha até é cristão e é contra o aborto.
Depois, há uma segunda questão que é de leitura. Nós não falamos a mesma língua. Quando eu escrevo que é preciso combater a extrema-direita nas ruas, não significa que seja a tiro. Qualquer pessoa com alguns conhecimentos sobre a área política em que me insiro, percebe que isso quer dizer para além das urnas, no terreno social, nos bairros, na comunicação e na sociedade. Depois há outra questão que é de fundo, a minha concepção de democracia não é igual à sua. Eu acho que as pessoas pobres, excluídas e com dificuldades não têm as mesmas possibilidades democráticas e que isso deve ser corrigido. Sobre a seriedade das discussões há muito a dizer, eu que o leio com interesse, acho por vezes os seus textos tão sérios que se tornam cómicos. Ainda me rio quando me lembro do seu texto do aborto. Mas acredito que VOCÊ tenha a mesma reacção quando lê os meus. É a vida. Não se deve levar a blogosfera como se fosse uma música a passo de ganso. Mais descontracção , sff.
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De Tiago Moreira Ramalho a 10.06.2009 às 22:47

Esteja à vontade para escarnecer. Sabe perfeitamente que aquele «tu» e depois a consideração, errada, sobre a minha idade tinha apenas como objectivo diminuir-me. É prática corrente o uso do «argumento da idade» - uma instituição na discussão de ideias tuga.

Não faço ideia para que é que isto está configurado, sinceramente.

O Nuno acha a minha comparação insultuosa. Eu acho o seu texto insultuoso para a democracia. Enfim, achismos », deixemo-los de lado.
Eu não disse que Mário Machado é um simpático democrata. Aliás, vivia muito mais descansado se o PNR não existisse, mas é o jogo da democracia e não me sinto no direito de censurar os outros ou exigir que sejam calados de alguma forma.

O Nuno podia até ter essa intenção quando falou em lutar nas ruas. Calhando, não duvido , referia-se mesmo a debate e a desmontar de falácias, tantas, que os movimentos radicais trazem a debate. Mas o Nuno sabe perfeitamente que uma coisa é a intenção com que escrevemos e outra coisa completamente diferente é o efeito do que escrevemos em quem lê. E o texto que o Nuno escreveu faz pensar que está a defender algum tipo de insurreição armada como durante tantos anos um Partido português defendeu. Se calhar julguei mal o texto, mea culpa, mas que o texto passa esta ideia, passa. Se não passasse não íamos ser dois a tirar a mesma conclusão (eu e o Luís).

Não percebi porque é que a questão da possibilidade de participação dos mais pobres vem ao caso. Mas de qualquer modo, posso dizer-lhe que não discordamos assim tanto. Eu também penso que condições económico-sociais desfavoráveis dificultam o exercício da cidadania. Eu também desejo que isso seja corrigido. A questão é que eu defendo um meio para atingir esse fim, o Nuno, provavelmente, defende outro.

Quanto à forma de utilizar a blogosfera , penso que é uma discussão vazia. De qualquer modo, até posso justificar o tipo de texto que em determinada altura escrevi aqui. Quando vim para aqui vi neste blogue mais potencialidades que apenas escrever por escrever. Vi este blogue como um trampolim para poder discutir questões de fundo, quem sabe um pouco de Filosofia de quando em vez. Se calhar foi rídiculo aos olhos de alguns. Para mim foi produtivo, apesar de ter percebido que não é esse o registo do CF , razão pela qual parei de o fazer...
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De Nuno Ramos de Almeida a 10.06.2009 às 23:46

Tiago,
Não abusando da sua paciência. Gosto dos posts "filosóficos" , sobretudo se não concordo com eles. Obrigam a pensar e discutir.
Finalmente, vocês têm uma concepção muito folclórica de mudança revolucionária e de rua. Nem tudo se faz de bandeiras vermelhas ao vento e assaltar o Palácio de Inverno. A questão dos direitos é o cerne do meu post e a sua conclusão. Visivelmente, temos alguma dificuldade de comunicação. Você tem a tendência de me ver com uma faca na boca a assaltar velhinhas e banqueiros, eu, na minha idade, raramente faço isso (arriscava-me a levar uma surra de uma velha) e não foi isso que tentei escrever.
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De Tiago Moreira Ramalho a 11.06.2009 às 14:05

Parece, portanto, que foi tudo um grande mal entendido. Sinceras desculpas pelo primeiro comentário que contém um julgamento injusto.
Agora que os ânimos estão mais serenos, pode voltar a tratar-me por tu, que só faço questão do você quando discuto porque o tu propicia a ofensa mais directa.

Cumprimentos
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De João André a 11.06.2009 às 07:54

Luís, penso que a maior falácia na comparação da situação actual com a situação dos anos 30 está no facto de não vivermos com a memória recente de uma guerra traumatizante. Sejamos sinceros: a II Guerra Mundial (e as ascensões dos partidos radicais) não teria provavelmente acontecido sem a I Guerra Mundial. Teriam aparecido os partidos fascistas, muito provavelmente, mas vamos com calma. O nazismo é um produto dos Freikorps. Não digo que não possam surgir situações radicais e que alguns partidos extremistas não possam ganhar eleições, mas não será por paralelo com a situação de 1930.

Nuno, eu também uso o Firefox e não tenho qualquer problema com o texto. Não creio que seja um problema específico do blogue, portanto.
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De Nuno Ramos de Almeida a 11.06.2009 às 14:32

Estranho, eu não vejo a parte final do texto quando uso o Firefox e o Mac . Agora que estou num miserável PC e uso um Explorer vejo tudo.
Claro que qualquer comparação histórica tem as suas diferenças. Foi Marx que escreveu que a História acontecia em tragédia e repetia-se em comédia. Mas de qualquer forma, existem alguns paralelismos: uma grande depressão e o crescimento exponencial dos partidos racistas e xenófobos. Não tivemos uma guerra mundial na Europa, mas assistimos mesmo no continente Europeu à multiplicação das guerras ao crescimento dos nacionalismo e fundamentalismos. A comparação é mais interessante e trágica do que à partida se esperaria.
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De l.rodrigues a 11.06.2009 às 23:18

Tenho exactamente o mesmo problema no Firefox e no Mac. Firefox e Pc não tem problema, falta experimentar o Safari no Mac...

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