por Luís Naves, em 07.05.09

Grandes ilusões
Sempre me surpreendeu a capacidade ilusória da política, sobretudo em países democráticos. Os truques são semelhantes aos de um bom mágico, cujos movimentos são visíveis, embora não devam ser vistos. É necessário que as pessoas não estejam a olhar para o ponto onde o truque se revela, mas sim a olhar para a distracção. As ilusões baseiam-se numa característica da visão humana que vi explicada num documentário da BBC, de Robert Winston (na imagem). Ao longo do episódio, surgia por várias vezes um homem vestido de gorila. Julgo que em quatro só vi um, numa imagem que considerei bizarra, sem lhe dar importância. Nem a estranheza me alertou. No final do programa, repetiam-se as sequências tal como tinham passado da primeira vez mas o apresentador alertava para o gorila: “vejam com atenção”, dizia. E tudo se revelava: do nada, lá estava um homem vestido de gorila, que não tínhamos visto, por estarmos atentos a outros elementos do documentário.
Na América política esta fraqueza humana é bem conhecida e o uso da ilusões está muito desenvolvido. Como se viu ontem, no noticiário de uma televisão. O presidente e vice-presidente dos Estados Unidos comiam um hamburger junto a um circo mediático. Esta era a notícia: Obama pediu um hamburger com muito queijo Cheddar e boa mostarda. E os dois homens mais poderosos do mundo pagaram os hamburgers do próprio bolso e sentaram-se numa melancólica mesa 42, certamente a discutir o último bombardeamento de talibãs.
Desculpem a crónica sem nexo, mas temos de tirar o chapéu a estes truques de ilusão. Sabemos que nos escapou qualquer coisa no meio das habilidades, que tudo aquilo era meio fantástico, que aquela não era a realidade real, mas uma qualquer realidade à maneira de Philip K. Dick, onde a crise ficou interrompida por uns minutos para aqueles dois seres humanos engolirem um saboroso cheeseburguer com muita mostarda.