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A dois meses das europeias, inicio uma série de textos sobre a UE onde tentarei combater mitos que julgo serem nítidos na discussão pública. Hoje, no primeiro debate entre candidatos, aposto que vamos ouvir a frase “esta não é a minha Europa”. Trata-se de um argumento recorrente nas discussões, sempre acompanhado de uma ressalva: “mas sou europeísta”.
A União Europeia é a maior máquina de negociação política jamais inventada, além de ser uma fábrica de leis cuja aplicação tem aproximado os países. O objectivo deste mecanismo é conseguir a integração do continente e evitar conflitos entre os Estados. Existe livre circulação, um mercado continental relativamente homogéneo, também uma moeda única, mas acho que o mais notável tem sido a convergência de políticas, de níveis de rendimento (Portugal foi uma excepção nos últimos anos). As sociedades europeias estão cada vez mais parecidas umas com as outras, embora mantenham as suas culturas distintas. E os líderes falam constantemente entre si.
O argumento “esta não é a minha Europa” é no fundo anti-UE, pois não considera que numa negociação se atingem apenas os mínimos denominadores comuns. A Europa que estas pessoas querem é sempre uma que não pode existir.
Na minha opinião, a elite portuguesa tem sido profundamente anti-europeia e a sua desconfiança em relação ao processo de integração é enorme. Estas pessoas beneficiaram das ajudas comunitárias (3 ou 4% do PIB, por ano, durante duas décadas), usaram mal parte destas ajudas, mas cospem na sopa quando se começa a falar em responsabilidade. A nossa política europeia é uma espécie de pobre continuação da pior política nacional: veja-se o debate execrável sobre o segundo mandato de Durão Barroso. Se Durão foi um bom presidente da comissão e se é apoiado pelos três maiores países, ele será escolhido; pode ser necessária uma vitória do PPE nas europeias (quase certa), mas duvido que seja condição sine qua non. Na Europa, nada se faz sem pelo menos o voto de dois dos grandes e nada se faz contra o veto de um dos grandes. Muitos dirão “esta não é a minha Europa”, mas de facto é assim a nossa Europa.
Imagem: quadro de Noel-Nicholas Coypel (1726), Europa levada por Júpiter
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