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Foi em 19 de Fevereiro de 356. O Imperador Constantino IIpromulga um decreto a mandar fechar todos os templos pagãos. Só em Roma havia então 424, pelo que “em cada bairro de Roma a sensibilidade dos cristãos era ofendida pelos fumos dos sacrifícios idolátricos”, como conta o clássico de Edward Gibbon, Declínio e Queda do Império Romano, profusamente citado por Daniel J. Boorstyn, n’Os Criadores, e n’Os Pensadores, ambos das edições Gradiva, em passagens que aqui adaptamos. Este foi só o início de um processo que havia de durar uns 40 anos e estender-se aos confins do Império. Em 391 o Imperador Teodósio acrescentou à ordem de encerramento “a destruição dos ídolos”, equiparando o crime de idolatria ao de lesa-majestade, punível com a pena da morte. O cristianismo acabava de ser proclamado a Religião oficial do Império e não permitia tibiezas. Como os talibans hoje em dia. Como relata Gibbon: Muitos desses templos eram dos mais esplêndidos e belos monumentos da arquitectura grega e o Imperador não estava interessado à partida em desfigurar o esplendor das suas cidades ou diminuir o valor das suas propriedades. Aqueles edifícios públicos poderiam ser tolerados como troféus da vitória de Cristo (…) Porém, enquanto durassem, os pagãos alimentariam a secreta esperança que uma revolução auspiciosa, um segundo Juliano, pudesse restaurar de novo os altares dos deuses, e o ardor com que dirigiam as suas vãs orações ao trono exacerbou o zelo dos reformadores cristãos decididos a extirpar, impiedosamente, a superstição pela raiz. Isto é razoavelmente conhecido. Menos será que no processo, de Constantino a Teodósio, houve resistência. Boorstyn cita a intervenção comovente do nobre Senador Símaco, o qual, na sua condição de Prefeito (só nós é que dizemos Presidente da Câmara) de Roma, havia de implorar ao Imperador Valentino que pelo menos mandasse repor o Altar da Vitória, “símbolo dos deuses que tinham presidido ao florescimento da cidade”. “Concedei, imploro-vos, que nós que somos velhos possamos deixar para a posteridade aquilo que recebemos em rapazes. Todas as coisas estão cheias de Deus” – perorava Símaco que punha a falar a própria cidade de Roma: Deixai que use as minhas cerimónias ancestrais pois que delas não me arrependo. Deixai-me viver à minha maneira pois que sou livre. Foi este o culto que expulsou Aníbal das muralhas de Roma e os gauleses do Capitólio. É para isto que me mantendes, para ser castigada na minha velhice? Apenas peço paz para os deuses dos nossos antepassados, os deuses nativos de Roma. Está certo que aquilo que todos adoram seja considerado um só. Todos contemplamos as mesmas estrelas. Todos temos o mesmo céu. O mesmo firmamento nos abarca a todos. Que interessa qual a teoria erudita a que cada homem recorre para procurar a verdade? Não há apenas um caminho para nos conduzir a tão poderoso segredo. Tudo isto é matéria de discussão para homens ociosos. O que apresentamos a vossas majestades não é um debate, mas sim um pedido. Tolerância e liberdade – pediam os pagãos. Ordem e progresso – respondem cinicamente os cristãos, pela pena de Santo Ambrósio: Não há mal nenhum em mudar para melhor (nullus pudor est ad melora transire).Tomemos o exemplo dos antigos dias de caos em que os elementos voavam por todo o lado numa massa desordenada. Pensemos em como o tumulto se apaziguou na nova ordem do mundo e como esse mundo desde então se desenvolveu, com a invenção gradual das artes e os avanços da história humana. Suponho que nos velhos tempos do caos as partículas conservadoras se terão oposto ao advento da nova e vulgar luz do Sol que acompanhou a implantação da ordem. (…) Nós cristãos, também crescemos, sofrendo maldade, pobreza e perseguição, crescemos. A grande diferença entre vós e nós é que o que vós procurais por conjecturas nós conhecemos. Pois parece o debate político em curso, com o Bispo D. José Ortiga no lugar de Santo Ambrósio. A principal diferença é que o Presidente da República, sempre tão solícito a fazer suas as palavras da Igreja, manda menos em Portugal do que o Imperador em Roma. Outra diferença é que conhecemos as consequências do sectarismo religioso. Uns 20 anos depois da destruição dos “ídolos”, a 24 de Agosto de 410, as hordas de Alarico entravam em Roma e acusavam os cristãos de terem provocado a ira dos deuses protectores da cidade por terem destruído as suas imagens. O que não convenceu Santo Agostinho o qual na Cidade de Deus, voltou a considerar as imagens veículos dos demónios, pelo que “os adoradores de ídolos são adoradores de demónios”. Esta foi a doutrina que vingou, assim como o cristianismo como religião do Estado. Em Portugal, até 1910, a Religião Católica Apostólica Romana era a religião oficial e ofendê-la era um dos primeiros crimes do Código Penal.
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