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Emoções básicas (44)

por Luís Naves, em 20.01.09

 

O Presidente 44

A tomada de posse de Barack Obama está a suscitar um arrastão mediático que, como é típico destes fenómenos, não facilita a análise dos factos. Obama é visto como uma espécie de estrela rock que vai transformar a América em todo o tipo de delírios ou um revolucionário capaz de mudar o mundo.

As referências mais citadas são Abraham Lincoln ou Franklin Roosevelt, dois presidentes que agiram em contextos de grande complexidade.

Os comentadores esquecem que o primeiro teve de travar uma guerra civil e o segundo criou as condições para vencer uma guerra mundial. O primeiro conseguiu evitar a divisão da América em dois países; o segundo enfrentou os desafios do fascismo e do comunismo. A propósito, o capitalismo venceu. Com Lincoln, os EUA tornaram-se uma potência; com Roosevelt, uma superpotência.

Com Obama, os EUA vão perder poder relativo no mundo. Não será culpa dele, mas do contexto.

 

Barack Obama será provavelmente um presidente de estatura invulgar e enfrenta dificuldades anormais. Terá de conduzir o seu país na pior tempestade económica das últimas décadas. A actual crise não se compara à Grande Depressão, mas será difícil de vencer. Obama vai baixar impostos e aumentar a despesa, mas a receita terá de ser doseada, pois se o défice crescer demasiado, a moeda perderá estabilidade. O país está a perder empregos a ritmo de meio milhão por mês e a crise pode até durar dois anos, ninguém sabe ao certo. Qualquer erro tornará a crise ainda mais difícil.

Os Estados Unidos estão envolvidos em duas guerras e Obama prometeu sair de uma delas. Isso não altera o fundamental: os EUA continuarão a ser a grande superpotência militar, mesmo que estejam a perder terreno em outras áreas, sobretudo para a China.

No plano externo, o novo presidente terá de enfrentar conflitos muito complexos, sobretudo a relação com a Coreia do Norte, Irão e o Médio Oriente. Não lhe bastará possuir evidentes recursos oratórios. E o nome do meio (Hussein) não lhe dará qualquer vantagem, ao contrário do que ouvi a alguém dizer na rádio.

 

Desenham-se mudanças de política na questão das alterações climáticas, no fim da tortura e dos abusos como Guantánamo. A retirada do Iraque também parece uma boa medida. No fundo, trata-se de anular os óbvios erros estratégicos da anterior administração.

Obama parece ser um centrista, um político cauteloso que gosta de consensos e da negociação. Também mostra preocupação pela continuidade, tendo na sua administração vários elementos da era Clinton. O novo presidente consegue fazer a ponte para os sectores mais moderados dos republicanos. E a sua capacidade retórica e atitude tranquila fazem lembrar Ronald Reagan.

 

A América é um país muito dinâmico, que se consegue renovar em cada vinte anos. É esta a esperança de Obama, a de criar uma formulação que dure duas décadas.

 


4 comentários

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De Anónimo a 20.01.2009 às 12:36

Até simpatizo com Obama e, para dizer depressa, gosto de o ouvir e aprecio as características do seu «registo».

Mas ontem tive o azar de tomar conhecimento de uma carta supostamente privada que ele escreveu às filhas e das expectativas relativas à moda que a mulher Michelle criou (voluntariamente ou não) e fiquei desgostado, tanto com uma coisa como com a outra.
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De Miguel Lopes a 20.01.2009 às 19:52

"segundo enfrentou os desafios do fascismo e do comunismo. A propósito, o capitalismo venceu."

Venceu o quê se nunca esteve em causa?!
Capitalismo é coisa que sempre existiu, tanto nos países fascistas como na União "Soviética".

Cumprimentos
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De Luís Naves a 21.01.2009 às 09:41

agradeço os comentários.
miguel, a passagem que cita talvez não seja muito clara e tento precisar: o comunismo e o fascismo tinham por principal adversário as democracias liberais capitalistas; ambos os regimes execravam as oligarquias do dinheiro. O grande conflito entre estas três ideologias, que se prolongou até 1989, terminou com o triunfo do liberalismo capitalista
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De Miguel Lopes a 22.01.2009 às 00:06

"o comunismo e o fascismo tinham por principal adversário as democracias liberais capitalistas"

Democracias liberais era o suficiente, dado que capitalistas, como expliquei, eram os três.

"ambos os regimes execravam as oligarquias do dinheiro."

Os dois regimes tinham as suas próprias oligarquias do dinheiro, pelo que não faz sentido odiar aquilo que se pratica. Se os fascismos apregoavam a pobreza mais franciscana como modus vivendi e os leninistas a "socialização da miséria", tal não implicava que estivesse na mesma formatação o respeitinho pelos capitalistas no fascismo ou pela numenklatura na moscóvia.

"O grande conflito entre estas três ideologias, que se prolongou até 1989, terminou com o triunfo do liberalismo capitalista"

Liberalismo chegava.
O que quis dizer no início é que o capitalismo não é nenhuma ideologia, tanto que nunca se define a si próprio, é sempre definido pelos outros. Creio que apenas designa os mecanismos de acumulação privada e nada mais.

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