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Nervosismo
Três exemplos recentes de notícias mostram grande nervosismo da maioria no poder e um desprezo pela verdade. Aqui, aqui e aqui poderão perceber estes sinais. No primeiro caso, tenta-se culpar a oposição pela crise; no segundo, há uma nítida separação da realidade, típica das situações sem solução; o terceiro caso é pragmático e o título de Carlos Abreu Amorim parece-me pertinente: no fundo, o objectivo é acelerar obras que depois justificarão renovar a maioria absoluta. (Como se os portugueses fossem um bando de estúpidos que, de chapéu na mão, lá vão agradecer o novo fontanário que custou o triplo do que podia ter custado).
O crescente afastamento da realidade é um sintoma preocupante, sobretudo num cenário difícil. A propaganda do governo só recentemente reconheceu a existência de problemas, apesar da economia crescer de forma deficiente há oito anos; agora, a crise internacional (reparem que insistem sempre na segunda palavra) vai justificar tudo o que for feito. Será que se pretende a mexicanização do país ou a sua jardinização? O facto é que o PS não reconhece nunca os seus erros e continua a viver numa espécie de ilusão propagandística.
O bloco central que caracterizou os últimos 30 anos pode deixar de existir nas próximas eleições, substituído por um sistema de três grupos: a direita, o centro e a esquerda. Cada grupo ronda um terço dos votos, embora a direita e o centro devam ser um pouco maiores (entre 35 e 40%) e a esquerda ainda não esteja recomposta, dependendo se Manuel Alegre avança ou não para o seu movimento separado do PS. O PSD vai provavelmente virar à direita, pois o centro está ocupado pelo PS de Sócrates. O CDS pode ser engolido e o PCP terá dificuldades.
Onde o bloco central garantia a estabilidade, a configuração que se adivinha é uma receita para a ingovernabilidade do país.
Outros exemplos mostram que a lógica do curto prazo prevalece: a hostilização do Presidente pelos socialistas e os previstos aumentos da despesa pública, anulando os sacrifícios pedidos nos últimos anos. Há uma geração que vive na precariedade e aumentaram brutalmente as diferenças entre ricos e pobres. Os portugueses foram vítimas de um ajustamento que consumiu vários anos (pagaram mais impostos e tiveram aumentos zero). Mas no que respeita às contas públicas, no final disto, como Sísifo, estarão no ponto inicial.
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