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Derby 2009: Paulo Branco VS Zon Lusomundo

por miguelsomsen, em 06.01.09

 

Um bocadinho do nosso tempo, por favor.

 

Primeiro acto: a Zon Lusomundo manda para casa de todos os assinantes da TV Cabo um cartão que garante a oferta de 52 bilhetes de cinema grátis por ano. Ninguém pensa até que ponto este pode ser um presente envenenado. Ninguém, não: Paulo Branco insurge-se.

 

Segundo acto: Paulo Branco, que com a Medeia Filmes é uma das poucas excepções à política galopante da Zon Lusomundo,  marca uma conferência de imprensa em que promete denunciar a situação à Autoridade da Concorrência. Ninguém fala em “dumping” ou sequer “tentativa de aliciamento faustiano” ao espectador português. As citações são apenas minhas.

 

Terceiro acto: a Autoridade da Concorrência suspende durante 3 meses o cartão Zon Lusomundo. Serão precisos três meses para perceber o mal que poderá significar a liberdade da multinacional Zon Lusomundo em transformar o cinema em actividade gratuita? Terá sido preciso chegar até 2009 para se perceber… o estado a que isto chegou? Pelos vistos sim. Mas o facto de isto estar a acontecer à frente dos nossos olhos não significa que sejamos capazes de o ver. É o ensaio sobre a cegueira. 

 

Os portugueses acham perfeitamente normal que uma multinacional como a Lusomundo lhes queira oferecer bilhetes de cinema à borla. Claro que quer porque a Lusomundo pode, e o problema é precisamente esse – o poder. O drama infelizmente é o que irá acontecer depois disto, o dia seguinte. Aliás, o dia seguinte é hoje. Porque este drama já tem uns bons anos.

 

Desde o momento em que a Lusomundo começou a fechar as suas pequenas salas ao mesmo tempo que insistia em adquirir no mercado internacional os filmes independentes (que só poderiam depois ser explorados nas pequenas salas da cidade), percebeu-se quais seriam os seus propósitos: comprar para impedir que os outros comprassem. O que temos hoje? Uma miséria de distribuição. Os pequenos filmes que a Lusomundo antigamente tão bem estimava (no Mundial, por exemplo), têm hoje de sobreviver nos multiplexes. Por razões de mercado, não sobrevivem.

 

Sabendo que a lei dos multiplexes não proporciona uma segunda oportunidade aos filmes, toda e qualquer produção que não funcione na primeira semana de exibição, está condenada.

  

Evidentemente, Paulo Branco também está no mercado – segundo o Público, a Medeia tem 20 salas no país contra 200 da Zon Lusomundo. É um número desigual? Não é isso que Paulo Branco contesta. Ele contesta aquilo que o mercado proporcionou, no cinema como em qualquer outra actividade: que os grandes tubarões possam ditar as regras de concorrência. Espero que não possam. Durante três meses e para sempre.

 

Não tenho nada a pontar à política da Zon Lusomundo nem à de Paulo Branco. Ambos estão a trabalhar com as armas a que se propuseram. Espanta-me no entanto que ao longo deste anos nada tenha sido feito para travar a política impiedosa das majors. Claro que o espectador tem razão em sentir-se incomodado com o veto de Paulo Branco à generosidade da Zon Lusomundo. Mas pedia-vos que pensassem duas vezes sobre o assunto: preferem com Paulo Branco ou sem Paulo Branco? Eu sei, preferem à borla. Mas nesse caso sugiro que “ides” sacar à internet. Está lá tudo. Se isso implica tornamo-nos piratas, seja. Talvez assim não nos sintamos tão enganados pelo que se passa lá fora, pela marginalidade que vigora enquanto tentamos ser honestos.


13 comentários

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De VITOR a 06.01.2009 às 22:23

Sinceramente, eu não concordo com esta decisão da AC pois, se a ZON não pode oferecer um cartão que permite aos seus clientes verem 52 sessões de cinema grátis, (mesmo grátis). Porque é que autoriza que a MEO transmita o canal Benfica, esse sim um concorrente desleal da RTP Memória.
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De joaogon a 07.01.2009 às 11:08

Cavalheiro. A educação não me permite lhe dizer o que me apetece... Por isso limito-me a um "ide"... cumps
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De vitor a 08.01.2009 às 17:10

É para mim?
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De não digo a 07.01.2009 às 12:08

por acaso tenho ideia que a Zon não é uma multinacional mas uma empresa portuguesa. por acaso também tenho ideia que o Paulo Branco, antes de ser este grande defensor dos pequenos cinemas e dos filmes pouco comerciais, também tentou abrir enormes complexos de 10 e mais salas. mas enfim...
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De Manuel Leão a 07.01.2009 às 15:56

Miguelsomsen:

Eu também recebi, ontem mesmo, o cartão Zon. Pelos vistos, quando o retirei do envelope, já ele estava "off side", por decisão do fiscal de linha, isto é, da concorrência. Por outras palavras, tiraram-me o "pão da boca", mas curiosamente não fiquei aborrecido.

E porquê?

Primeiro, porque não gosto de monopólios, mesmo que me ofereçam qualquer coisa. Deve ser genético. Não estou à venda e se, por obra do diabo estivesse (diabo seja surdo), não era com os teóricos 52 bilhetes num ano que me comprariam. Caramba, acho que valho bastante mais.

Depois, porque desde o tempo em que ainda se chamava King Triplex, foi lá que assisti a grande parte dos melhores filmes que tenho visto e espero continuar a ver. Não porque esteja a defender o Paulo Branco ou a Medeia, mas porque quero manter a minha capacidade de escolha. Não gosto de pensamentos dominantes, nem de cinema dominante.

Acresce que, apesar do meu pai já ter morrido há quase 48 anos, ainda me lembro do que ele me ensinou sobre a vida. E, sobre isto, dizia:
Fugir de ofertas generosas quando não se fez nada para as merecer e sem conhecer quem as faz. É que se não pagámos antes, havemos de as pagar depois.
E eu acrescento: Não há filmes grátis!

Mas já agora, aguardemos o fluir do resto deste filme. Talvez venha a ser educativo e sirva para tirar lições para outros acontecimentos da vida! Quem sabe?
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De Povd a 07.01.2009 às 17:15

Acabemos já com esses malandros que oferecem coisas. Acho que os próximos deviam ser esses gananciosos que distribuem jornais grátis. Cardume de leguminosas.

P.S. O que eu gosto em algumas das salas do Paulo é que sabemos sempre quando chega o próximo Metro.
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De Manuel Leão a 07.01.2009 às 18:37

E o que eu gosto mais, no seu comentário, é a qualidade dos seus argumentos.
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De Manuel Leão a 07.01.2009 às 18:42

Povd:

E o que eu gosto mais, no seu comentário, é a qualidade dos seus argumentos.
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De Anónimo a 07.01.2009 às 20:29

Recebi há dias o cartão, que não cheguei a utilizar.
Acho absurda a decisão da Autoridade da Concorrência, mas ainda mais absurdo que o Corta-Fitas a defenda.
A propósito, a Medeia também tem um cartão, sabiam?
Miséria de país!
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De Anónimo a 07.01.2009 às 22:06

É vergonhoso que todos se indignem com as ofertas da Zon Lusomundo quando as salas Castello Lopes por exemplo oferecem um bilhete gratuito em cada adquirido. Fui na semana passada ao cinema ao Cascais Villa e após ter adquirido dois bilhetes os respectivos talões dariam direito por 7 dias a na compra de um bilhete um outro gratuito. Ou seja a compra de 4 bilhetes dava-me direito a 6 bilhetes. É diferente da oferta Zon em quê? A Zon limita a oferta a 8 por mês e apenas ao proprietário do contrato que se quiser ir acompanhado tem de adquirir algum bilhete tambem,os Castello Lopes pura e simplesmente, não limitam. O que estará a Autoridade da Concorrência a fazer para acabar tambem com isto.
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De Manuel Leão a 08.01.2009 às 15:07

Um cartão para ver filmes à borla? Ou um cartão que beneficia quem é espectador frequente?
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De MrSinister a 08.01.2009 às 12:49

É verdadeiramente engraçada a decisão da AdC:
- os grandes grupos editoriais (que editam diariamente jornais, revistas) podem oferecer loiças, dvds, colares e outras bugigangas e não entram em concorrência com o jornal regional ou local;
- as grandes superficies comerciais podem fazer ofertas e não entram em concorrência com o comércio tradicional;
- finalmente vem a ZON oferecer aos seus clientes (mediante pagamento mensal da subscrição de um serviço de tv, net ou telefone e permanência de serviço nunca inferior a 12m) uns bilhetes de cinema e entra em concorrência.
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De Mario Custodio a 09.01.2009 às 20:47

Pela primeira vez uma operadora promoveu a cultura de uma forma inteligente, vieram logo os que não pensam da mesma maneira destruir, é um crime de lesa cultura e só espero que a justiça seja vencedora.
Os cinemas estão na maioria das vezes vazios ao ponto de terem só 1 espectador e estes senhores que só pensam em dividendos não pararam para pensar que medidas como as da zon irão servir para que tenhamos novamente as salas cheias o que será bom para todos, muito em especial para a cultura do nosso pais que tanto precisa.

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