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Um bocadinho do nosso tempo, por favor.
Primeiro acto: a Zon Lusomundo manda para casa de todos os assinantes da TV Cabo um cartão que garante a oferta de 52 bilhetes de cinema grátis por ano. Ninguém pensa até que ponto este pode ser um presente envenenado. Ninguém, não: Paulo Branco insurge-se.
Segundo acto: Paulo Branco, que com a Medeia Filmes é uma das poucas excepções à política galopante da Zon Lusomundo, marca uma conferência de imprensa em que promete denunciar a situação à Autoridade da Concorrência. Ninguém fala em “dumping” ou sequer “tentativa de aliciamento faustiano” ao espectador português. As citações são apenas minhas.
Terceiro acto: a Autoridade da Concorrência suspende durante 3 meses o cartão Zon Lusomundo. Serão precisos três meses para perceber o mal que poderá significar a liberdade da multinacional Zon Lusomundo em transformar o cinema em actividade gratuita? Terá sido preciso chegar até 2009 para se perceber… o estado a que isto chegou? Pelos vistos sim. Mas o facto de isto estar a acontecer à frente dos nossos olhos não significa que sejamos capazes de o ver. É o ensaio sobre a cegueira.
Os portugueses acham perfeitamente normal que uma multinacional como a Lusomundo lhes queira oferecer bilhetes de cinema à borla. Claro que quer porque a Lusomundo pode, e o problema é precisamente esse – o poder. O drama infelizmente é o que irá acontecer depois disto, o dia seguinte. Aliás, o dia seguinte é hoje. Porque este drama já tem uns bons anos.
Desde o momento em que a Lusomundo começou a fechar as suas pequenas salas ao mesmo tempo que insistia em adquirir no mercado internacional os filmes independentes (que só poderiam depois ser explorados nas pequenas salas da cidade), percebeu-se quais seriam os seus propósitos: comprar para impedir que os outros comprassem. O que temos hoje? Uma miséria de distribuição. Os pequenos filmes que a Lusomundo antigamente tão bem estimava (no Mundial, por exemplo), têm hoje de sobreviver nos multiplexes. Por razões de mercado, não sobrevivem.
Sabendo que a lei dos multiplexes não proporciona uma segunda oportunidade aos filmes, toda e qualquer produção que não funcione na primeira semana de exibição, está condenada.
Evidentemente, Paulo Branco também está no mercado – segundo o Público, a Medeia tem 20 salas no país contra 200 da Zon Lusomundo. É um número desigual? Não é isso que Paulo Branco contesta. Ele contesta aquilo que o mercado proporcionou, no cinema como em qualquer outra actividade: que os grandes tubarões possam ditar as regras de concorrência. Espero que não possam. Durante três meses e para sempre.
Não tenho nada a pontar à política da Zon Lusomundo nem à de Paulo Branco. Ambos estão a trabalhar com as armas a que se propuseram. Espanta-me no entanto que ao longo deste anos nada tenha sido feito para travar a política impiedosa das majors. Claro que o espectador tem razão em sentir-se incomodado com o veto de Paulo Branco à generosidade da Zon Lusomundo. Mas pedia-vos que pensassem duas vezes sobre o assunto: preferem com Paulo Branco ou sem Paulo Branco? Eu sei, preferem à borla. Mas nesse caso sugiro que “ides” sacar à internet. Está lá tudo. Se isso implica tornamo-nos piratas, seja. Talvez assim não nos sintamos tão enganados pelo que se passa lá fora, pela marginalidade que vigora enquanto tentamos ser honestos.
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Caro Anónimo, aconselho-o vivamente a voltar para ...
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