Ontem, primeiro de Janeiro, foi dia de comunicação de ano novo do Presidente da República. O discurso, marcado por um optimismo reconfortante, mas também por um realismo a que estamos pouco habituados nos últimos tempos, foi especial em recados ao governo. Uns mais implícitos, outros mais explícitos, eles estão lá. Logo ao princípio, o roçar na questão dos fundos comunitários que nunca chegaram aos agricultores,
sim, porque é verdade, uma verdade pouco divulgada, mas por falta de competência de quem a devia ter, as candidaturas aos programas comunitários tardaram e as ajudas não vieram. Depois, quando falava do endividamento do país e referia o já lugar-comum de que vivemos acima das nossas possibilidades, o Presidente disse aquela que será já uma das frases do ano:«Os agricultores, aqueles que trabalham a terra, que enfrentam a subida do preço dos adubos, das rações e de outros factores de produção. Sentem-se penalizados face aos outros agricultores europeus por não beneficiarem da totalidade dos apoios disponibilizados pela União Europeia.»
«As ilusões pagam-se caras.»
Já lá diz o povo, e com razão, que quanto mais se sobe, maior é a queda, e se andamos há anos a ouvir que está tudo bem, quando tivermos noção do buraco, a chapada vai ser dolorosa.
Já quase no fim, um novo recado, e este veio rematar a questão do Estatuto dos Açores e dar uma imagem de maturidade política ao Presidente da República que vem, invariavelmente, descredibilizar o Parlamento (e o governo, já agora):
«Não é com conflitos desnecessários que se resolvem os problemas das pessoas.»
Foi um discurso muito bem feito. Talvez por falta de necessidade, não recorreu à mentira a que outros recorrem, tendo cumprido exemplarmente o seu papel: mostrar-se alerta para os problemas do país e também confiante na sua resolução.