por Pedro Correia, em 16.12.08
Caro Tomás: o problema é mesmo de alternativa. E cada vez mais urgente, dada a possibilidade mais que certa de não haver maioria absoluta nas próximas legislativas. “Que fazer?”, como diria o mestre inspirador de Jerónimo de Sousa. Com o PCP, nada: nenhuma coligação eleitoral é possível com os comunistas, que desde 1975 vêm transformando o PS em inimigo principal. Com o Bloco, também nada – Louçã tem repetido à exaustão que jamais fará, a nível nacional, a triste figura que o seu ex-aliado Sá Fernandes anda a fazer em Lisboa.
Resta mesmo aparecer algo de novo – que não se esgote no Bloco nem no PCP, mas inclua necessariamente milhares de eleitores destas áreas, dando sequência à campanha de Manuel Alegre nas presidenciais e à candidatura de Helena Roseta em Lisboa. Para que o PS de Sócrates não fique refém dos votos do CDS ou do próximo inquilino da São Caetano à Lapa. A ele pouca diferença faria. A quem se reclama do ideário de esquerda, faria toda a diferença do mundo. “Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu. / Estou hoje dividido entre a lealdade que devo / À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora, / E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.” São versos também de Pessoa, versão Álvaro de Campos. Creio serem estes que andam por estes dias na mente de Alegre, forçado pelas circunstâncias a cortar os elos com um partido em que já não acredita e a rejeitar uma estratégia política na qual já não se revê. Os fingidores são outros – e abundam por aí. Infelizmente para nós, nem poetas são.