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O avanço da barbárie

por Pedro Correia, em 01.12.08

O único terrorista capturado com vida em Bombaim, um jovem paquistanês de 18 anos chamado Amir Qasav, confessou que ele e os seus parceiros de crime pretendiam imitar na Índia o que sucedeu em Nova Iorque em Setembro de 2001: matar cerca de cinco mil pessoas e destruir por completo o emblemático Hotel Taj Mahal, que encheram de explosivos sofisticados como numa operação de guerra. Foi uma acção meticulosamente preparada: os terroristas conheciam em pormenor a planta do gigantesco edifício, um dos hotéis mais luxuosos do planeta.

Atacaram este hotel, e também o Oberoi, e o café Leopold, por serem alguns dos pontos mais cosmopolitas de Bombaim, cidade que "horroriza os extremistas religiosos, tanto hindus como muçulmanos", como sublinha Suketu Mehta, professor de Jornalismo na Universidade de Nova Iorque, neste notável artigo publicado no New York Times.

"Bombaim é o sonho colectivo dos povos do sul da Ásia. As películas de Bollywood são a fórmula de entretenimento mais popular do subcontinente. Graças a ela, todos os paquistaneses e bangladeches conhecem a arquitectura de bolo de noiva do [Hotel] Taj Mahal e o arco da Porta da Índia, símbolos da cidade que dá nome à indústria. Ao entrarem em Cabul, os talibãs encerraram os videoclubes que alugavam filmes de Bollywood", salienta Mehta, que desfia uma memória pessoal da cidade: "Na Bombaim onde cresci, a religião era uma excentricidade pessoal, como o corte de cabelo. Na Bombaim de hoje, as coisas mudaram. Os demagogos hindus e muçulmanos querem que os seus seguidores voltem a sair à rua e se apunhalem mutuamente em nome de Deus."

Eles sabiam bem onde atacavam. O café Leopold, "uma esplanada onde viajantes de todo o mundo tomavam uma cerveja antes de se aventurarem pelo interior da Índia". E também o centro judaico: a partir de agora, alerta Mehta, "ser judeu na Índia converteu-se num perigo pela primeira vez na História".

Desta vez os terroristas provocaram 183 mortos e cerca de 300 feridos. A barbárie deu mais um passo em frente. A civilização deu mais um passo à retaguarda.

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7 comentários

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De J.C. a 01.12.2008 às 01:17

Queria acrescentar qualquer coisita, compadre, mas está tudo mais do que dito aqui. Além disso, estou com medo que apareça aí o Peter e, depois de ler 'barbárie' e 'civilização', decida recomeçar a perorar sobre o PCP e a histórica URSS...
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De Pedro Correia a 01.12.2008 às 01:23

Não há problema, compadre. O Peter está agora à porta fechada, envolvido no "grande debate interno" do PCP.
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De J.C. a 01.12.2008 às 01:23

Sabes do que me tenho lembrado muito, Pedro? Dos tempos em que andávamos pelas Tailândias, pelas Índias, Goas, etc., e fico estarrecido. Ainda parece que foi ontem e já parece que foi no século passado...
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De Pedro Correia a 01.12.2008 às 01:28

É verdade. Aliás, tudo quanto se passou antes do 11 de Setembro parece ter acontecido há imenso tempo, numa espécie de outro mundo que em nada se confunde com o actual.
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De Ana Vidal a 01.12.2008 às 03:30

Acabei de ouvir um maravilhoso mandó cantado a três vozes (dois portugueses e uma goesa), que deixou toda a gente de lágrimas nos olhos num espectáculo gravado há dias em Goa. E os acontecimentos de Bombaim não foram alheios à comoção geral, como não podia deixar de ser.

Mais uma vez, infelizmente, o triunfo do Mal a fazer-nos sentir mais pequenos e desprotegidos, em qualquer parte do mundo.
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De João André a 01.12.2008 às 08:15

Isto é tudo muito verdade, mas sinceramente nada tem de novo. Há muito se sabe que os extremistas islâmicos odeiam as culturas de entretenimento e de partilha desde que não seja tudo pela cartilha do Islão mais fanático e repressivo. O mesmo se poderia dizer relativamente aos fundamentalistas de outras religiões (os islâmicos são "apenas" mais ousados).

Ainda assim, e perante este ataque, apenas me lembro que não é a primeiroa vez que há tantos mortos às mãos de fanáticos islâmicos. Os hindus têm morrido às dezenas e centenas de cada vez noutros ataques. A dferença? Este foi mais prolongado e, especialmente, visou também ocidentais. Caso contrário não receberia esta atenção.

PS - na sexta feira notei que a CNN tinha como maior destaque na sua emissão o facto de o rabino do bairro judeu e a sua mulher estariam entre os mortos. Não vi a reportagem em si, foi visto de relance. Mas não deixa de ser sintomático deste caso. Um ataque que, se fosse apenas contra hindus, seria relatado entre outras notícias, passou a assumir contornos muito mais importantes porque envolveu ocidentais e judeus. Lamento a morte de todos, mas não lamento menos as mortes anteriores de indianos.
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De dita dura a 01.12.2008 às 09:08

No congresso do PC não houve uma palava de pêsame pelas vítimas deste atentado

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