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A cimeira
Este fim-de-semana, as grandes potências vão começar a discutir com as mais pequenas a reforma do sistema financeiro mundial. Ninguém parece esperar muito da cimeira do G20, em Washington, embora se fale num processo que levará a um novo Bretton Woods. Em tudo isto, está a ser dispensada muita atenção ao que dizem os americanos, representados por uma administração Bush que falhou em toda a linha. E, ao mesmo tempo, analistas (quer da esquerda, quer da direita) estão a passar ao lado da mudança em curso na Europa. Esta já é visível e tem grandes implicações.
Os europeus
A União Europeia é talvez a zona do mundo que tem mais a perder nesta crise. Os países exportadores, como a Alemanha, dependem das suas vendas de material sofisticado e caro. A quebra de consumo no mercado americano será terrível para estas indústrias exportadoras. A Alemanha é também a locomotiva da economia europeia, pelo que uma travagem abrupta pode ter graves consequências para todos os outros. Em países mais frágeis, como Portugal (que atravessou um longo período de quase estagnação) estas notícias são muito preocupantes.
A meu ver, os comentadores de esquerda, na blogosfera e jornais, sublinharam em excesso o papel de Gordon Brown na crise financeira, esquecendo que em Londres está o maior mercado financeiro europeu (portanto, ele tinha de agir) e que o Reino Unido está fora da zona euro, ou seja, não é um centro do poder relevante no que se vai seguir.
Na actual crise e nas suas consequências futuras, os dois líderes mais activos são ambos conservadores: Angela Merkel e sobretudo Nicolas Sarkozy. Pode até dizer-se que, na ausência da Casa Branca, esta dupla está a liderar a resposta internacional à crise (e penso que isso será visível em Washington).
Mas a ideologia cria poderosas narrativas e é difícil contrariar a lenda de que Gordon Brown está no leme.
Novo modelo
O que têm feito os europeus? Têm tentado construir uma gigantesca zona de comércio livre, com ampla justiça social e regras ambientais exigentes; esta zona possui uma moeda estável, inflação baixa e padrões laborais elevados; (nos países onde é mais fácil despedir, é também mais fácil reconverter trabalhadores). As sociedades europeias são bastante igualitárias, sem as desigualdades que caracterizam o modelo americano de capitalismo, que provavelmente se irá aproximar do europeu ao longo da próxima década.
Infelizmente, esta crise apanhou a União Europeia sem novo tratado, que facilitaria o ataque aos problemas. Os que aplaudiram o “não” irlandês ao Tratado de Lisboa deviam pensar nas consequências imprevistas daquela votação. Esta é uma vertente pouco compreendida em Portugal: as actuais instituições são demasiado complexas e o processo de decisão da UE possui limitações que facilitam bloqueios irresponsáveis. Na actual conjuntura, há grandes restrições à liderança política.
Governo económico
Para onde vão Merkel e Sarkozy, caso consigam ultrapassar este obstáculo? A resposta a esta pergunta é mais especulativa, mas penso que está à vista o famoso “governo económico” que Paris tem defendido e que a Alemanha rejeitou sempre, para não colocar em causa a independência do Banco Central Europeu. Só que o problema crucial dos próximos anos deixou de ser a inflação e passou a ser o crescimento económico e o desemprego. Esta crise pode durar uma década (isso aconteceu com o Japão) e dentro de alguns anos podemos lembrar com saudade o tempo em que havia crescimento de 2% na economia da UE.
O euro será um dos pilares da recuperação internacional, mas este hipotético “governo económico” terá poderes sobrepostos ao BCE e à Comissão Europeia. Esta última tenderá para maior irrelevância. A prioridade da UE passa a ser o combate aos efeitos do desemprego, o que exigirá dinheiro, retirado de áreas cada vez menos importantes, como a agricultura.
Os líderes terão de encontrar uma solução para o novo Tratado e, durante algum tempo, haverá tendência para directório das grandes potências. Haverá muitas reuniões de emergência, só com três ou quatro.
Com energia cara e dispendiosas ambições ambientais, talvez a questão do aquecimento global passe para segundo plano, o que será trágico.
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