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Mais uma vez, vi várias referências aos péssimos indicadores económicos e sociais do fim do Estado Novo, comparando-os com os actuais, como demonstração de que o 25 de Abril valeu a pena.
A mim parece-me um enorme equívoco, por várias razões.
O Estado Novo era ilegítimo porque a sua fonte de poder - a força - era ilegítima, e não seria mais legítimo se tivesse melhor ou pior desempenho económico e social.
Quando se critica a legitimidade de um regime em função dos seus resultados económicos e sociais, o que se faz, de facto, é legitimar a hipótese de trocar a liberdade por riqueza, justiça, igualdade, ou qualquer outro bem social que se pretenda obter a partir de regimes ilegítimos.
Pretender esquecer a base miserável de partida do Estado Novo, pretender que os resultados no fim do regime são maus por causa do regime - e não, apesar dos bons resultados económicos e sociais do regime, discussão diferente é saber se não poderiam ter sido muito melhores -, negar que o maior período de convergência económica do país com os países mais desenvolvidos é de 1956 a 1973, negar a descida do analfabetismo dos 75% para os menos de 25% do regime (sabendo que a taxa de analfabetismo é de reacção lenta porque quem for analfabeto aos vinte anos facilmente o será aos 70), e etc., que é costume, é não só errado (o que seria o menos) mas contribuir para se evitar a discussão sobre o 26 de Abril, as fontes de legitimidade do poder e o que fizemos com os instrumentos que passámos a ter na mão.
Comparar o extraordinário desempenho económico de Portugal entre 1956 e 1973 com a estaganação dos últimos vinte anos não é legitimar o Estado Novo, nem pode ser feito sem o cuidado que tem de haver na comparação de períodos e contextos históricos diferentes, mas seria uma celebração bem mais fecunda do 25 de Abril (veja-se abaixo o gráfico com base no qual Carlos Guimarães Pinto defende o valor da liberdade económica) que repetir erros históricos sobre o Estado Novo como forma de reforçar a legitimidade do regime democrático.
Repito-me: a democracia é mais legítima que qualquer ditadura, independentemente de quaisquer resultados económicos e sociais, porque a fonte do poder dos governos é mais legítima.
Convém é não esquecer que a generalidade das pessoas não tem interesse nenhum em ser livre e pobre, tem interesse sim em ser livre e ter a oportunidade de se livrar da pobreza.
O que nos deveria obrigar a discutir seriamente o 26 de Abril em vez de a cada 25 de Abril torcer os factos para evitar ter de os encarar de frente e aprender alguma coisa com isso.
« O antiestatismo radical de Tolstoi A defesa intransigente da não-violência, em Tolstoi, vai junto com a deslegitimação absoluta do Estado, por ser uma instituição de violência.
sou anarca / não fiz qualquer contrato social com a trampa alcunhada de estado
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