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Vitória de Pirro
No terceiro século antes de Cristo, um general grego, Pirro de Epiro, lançou uma campanha militar contra Roma e venceu vários combates que lhe custaram os melhores soldados do seu exército. Após uma dessas batalhas, disse famosamente que se tivesse mais uma vitória como aquela, isso representaria o seu fim.
O episódio deu origem à expressão “vitória pírrica”. Se os custos de um triunfo forem excessivos, uma vantagem táctica temporária pode facilmente transformar-se em derrota estratégica.
O exemplo húngaro
Em 2006, os socialistas húngaros (MSzP) venceram as eleições no seu país, com um primeiro-ministro (na imagem, à direita) que chegara à chefia do partido em 2004, Ferenc Gyurcsány (lê-se Ferentz Giurtxaine). O novo líder parecia mais dinâmico e substituíra um primeiro-ministro socialista impopular, no poder desde 2002.
Poucos meses depois da vitória, foi divulgada uma gravação de uma reunião partidária que ocorrera alguns dias após as eleições. Na ocasião, o primeiro-ministro disse (e numa linguagem franca que chocou a opinião pública) que o partido mentira durante dois anos e meio, para ganhar as eleições.
Houve um escândalo e o partido no poder tem vivido um martírio. Se houvesse eleições agora, o MSzP seria massacrado e a oposição conservadora obtinha dois terços do parlamento.
Na realidade, em 2006, os socialistas húngaros conseguiram uma vitória pírrica de elevado custo para o seu país. O défice orçamental chegou a ultrapassar 9% e o país endividou-se alegremente, vivendo muito acima das posses, com um défice da balança de transacções semelhante ao português e que só os islandeses superavam, com os resultados cobnhecidos.
Ilusões
Em busca dos eleitores, o governo húngaro continuou a abrir os cordões à bolsa, carregando nos impostos. A economia perdeu competitividade, a taxa de crescimento foi descendo.
A vizinha Eslováquia fez as mudanças que os conservadores húngaros tentaram entre 1998 e 2002 e que os socialistas travaram: reforma fiscal, competição, apoio às empresas, aposta num crescimento rápido. O partido liberal eslovaco que seguiu esse caminho perdeu as eleições, mas o resultado foi uma economia dinâmica, capaz de entrar na zona euro.
Por outro lado, tendo perdido a sua oportunidade, a Hungria está à beira da bancarrota e vai agora receber um pacote de emergência do FMI e do Banco Central Europeu. A moeda local caiu 20% este mês, depois da população ter perdido poder de compra durante dois anos. A partir de agora, os cortes sociais serão cegos e à bruta. O país vai viver uma cruel recessão durante um bom par de anos e levará talvez meia década a recuperar do descalabro. Gyurcsány dificilmente aguentará até 2010.
O que nos ensina esta história? Que em política a mentira dá origem a vitórias pírricas. Ocultar a verdade à opinião pública, insistir na propaganda, repetir à exaustão as mesmas fantasias, tudo isto leva ao desastre, pois a realidade não tem compaixão pelos que vivem num estado de ilusão sistemática.
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