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A reflexão da esquerda
O interessantíssimo artigo de Manuel Alegre publicado no DN de terça-feira, e cujo link deixo aqui, é de leitura obrigatória. Este texto vai certamente agitar a política nacional e forçar os partidos da esquerda a uma reflexão (que aliás já começou).
Escrevi antes que não acredito muito na divisão esquerda-direita e que o mundo contemporâneo é bem mais complicado. Na minha opinião, esta será a grande dificuldade da reflexão dos partidos de esquerda, pelo menos nos termos colocados por Manuel Alegre, para quem “os defensores do Estado mínimo” foram “ideologicamente derrotados” nesta crise financeira. Mas o que importa, na discussão, é tentar perceber quais são os caminhos possíveis para esta “nova esquerda”, que tem sectores com aversão visceral ao capitalismo e a quererem dar novo sentido às ideias de Marx e Engels (na imagem).
O poder das nações
Regular os mercados financeiros mundiais é algo que qualquer político adepto do Estado mínimo defenderá sem hesitar. Os produtos financeiros que levaram ao actual colapso eram um exemplo típico de vender gato por lebre, só possível por estes produtos não estarem regulados. Ou seja, a primeira e inevitável consequência da crise (a regulação dos produtos tóxicos) não é uma questão exclusiva da esquerda ou da direita.
Combater a depredação das multinacionais, taxar as transações financeiras internacionais ou abrir os mercados dos países desenvolvidos aos produtos dos países em desenvolvimento são exemplos de ideias políticas mais uma vez não exclusivas da esquerda ou da direita. Têm a ver com o poder das nações, com a abertura de fronteiras, com a liberalização do comércio. Nada que um neo-liberal furioso não defenda.
Combater os tráficos ilegais ou a degradação ambiental são questões de bom senso e não têm nada a ver com a esquerda ou a direita.
A ordem injusta
Os partidos da esquerda consideram, e com razão, que a ordem económica mundial é injusta, pois os pobres estão em desvantagem. Mas essa ordem capitalista assenta numa estrutura que nenhum dos países dominantes vai colocar em xeque. Por exemplo, colocar FMI e Banco Mundial sob o controlo da ONU é algo que não irá acontecer. O capitalismo está a viver uma crise, mas não se encontra sob ameaça de desaparecimento: se acabasse hoje, estaríamos todos na miséria e não haveria nenhum sistema que o pudesse substituir.
Assim, a ordem económica mundial continuará a ser financeira, pois dezenas de milhões de empregos nos países desenvolvidos dependem dessa circunstância. A OMC pode ter “outra lógica”, mas se a liberalização de comércio se transformar em protecção dos mercados nacionais, serão destruídos milhões de empregos nos países ricos, pois tudo se tornou interdependente.
O Estado produzir os bens públicos essenciais parece fazer sentido no papel, mas as economias industrializadas têm dois terços do seu emprego e riqueza nos serviços; a definição de bem essencial também não é fácil. Isto inclui as fábricas de automóveis, por exemplo? As de panificação? A agricultura e as pescas? Só a Caixa Geral de Depósitos ou a banca inteira?
Na Europa, o papel do Estado é bem mais alargado do que nos EUA, mas o nível de impostos também é diferente, o desemprego inferior, a mobilidade dos trabalhadores mais fácil.
Conclusão
Os actuais sistemas que formam o capitalismo internacional (e que misturam multinacionais e governos) são dinâmicos e vão certamente mudar. A questão está em saber até que ponto vão mudar e se a mudança virá de dentro ou de fora (reforma ou revolução).
É preciso que os leitores percebam um aspecto crucial neste início de debate: Barack Obama, que tudo indica se prepara para ganhar as eleições nos EUA, não é socialista nem sequer uma ameaça à actual ordem económica mundial. Pode ser reformista, mas nada tem de revolucionário e, certamente, nada tem a ver com as ideias de Marx e Engels.
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