por Filipa Martins, em 24.10.08
Não sou especialista e sei que – em caso de dúvida - é bem mais popular dizer mal das opções estratégicas do Governo, mas arrisco um opinião menos estremada. Na verdade, eu sou fã da vida à beira-rio. Esplanadas, passeios, corridas, cães à solta e com trela, crianças ranhosas e lavadinhas, uns amores se tivesse instinto maternal, namorados de mãos dadas, famílias em escada e sei lá que mais. Por mim, que me interesso pela minha vida sossegada e pelo meu aconchego corporal, até podem fazer uma esplanada gigante e ininterrupta desde o estuário do Tejo até à Foz. Mas o meu aconchego só a mim me diz respeito.
Esta conversa toda para chegar ao acordo até 2042 entre a Autoridade do Porto de Lisboa e uma empresa da Mota-Engil, presidida pelo antigo ministro socialista Jorge Coelho, para a concessão de um super-terminal de porta-contentores em Alcântara.
Catástrofe para Lisboa, dizem uns. Favorecimento, dizem outros. Muro de contentores, dizem uns quantos. Eu não digo o contrário, mas fui-me informar. Algumas das soluções apontadas por muitas vozes críticas prendem-se com o facto de muitos dos porta-contentores que entram em Lisboa poderem ser deslocados para Setúbal. Segundo o que sei, as águas em Setúbal são menos profundas do que em Alcântara e não permitem que grande parte dos porta-contentores utilizados no comércio internacional entrem naquele porto. Então poderemos argumentar: porque é que não vai tudo para Sines? E respondem-me: Sines ainda não está pronto e a grande maioria dos contentores é para abastecer a região da Grande Lisboa. Falta ainda esclarecer outro ponto: porquê a Monta-Engil? Pelo que parece a empresa tinha uma concessão que terminava em 2015 e o porto de Lisboa precisava de obras urgentes. Uma empresa privada como a Mota-Engil não iria investir nos alargamentos necessários para perder a concessão em 2015 num concurso público. Como tal, tudo iria ficar na mesma até 2015, logo por mais seis anos. O Governo, utilizando uma cláusula de Interesse Público, alargou o prazo e aliciou – desta forma – a empresa a fazer as obras necessárias.
Claro que tudo isto nos faz questionar o papel das concessões público-privadas e perceber se no final o contribuinte é ou não é lesado…