por Luís Naves, em 09.10.08
Certezas
O meu camarada de redacção
Ferreira Fernandes fez-me uma crítica útil. Ele tem lido algumas coisas que escrevi no DN e, presumo, outras que escrevi no Corta-Fitas. Resumidamente, ele ia a passar e disse, como quem não quer a coisa, que me tenho enganado em algumas análises e opiniões, pois sou “demasiado taxativo”.
Acho que, apesar de tudo, a crítica inclui aquele pudor que tenta embelezar uma verdade incómoda.
De facto, bem vistas as coisa, sou demasiado taxativo e costumo enganar-me. A realidade faz sempre uma visita às previsões imprudentes. Se não acreditam, leiam com atenção textos mais antigos que escrevi. Sobre as eleições americanas há autênticos clássicos de nonsense. Pensei que Hillary Clinton seria a candidata democrata e nunca acreditei em Barack Obama, tornado vencedor após o colapso da Lehman Brothers (bolas, lá estou eu...).
Nem sequer tenho desculpa, pois li um interessante livro, o Cisne Negro, de Nassim Nicholas Taleb, onde o autor faz uma demolição da seriedade das previsões económicas e políticas. Usando as ideias da teoria do caos, Taleb mostra a impossibilidade de se compreenderem os sistemas complexos e de antecipar a sua evolução. Tudo depende de tantos factores que ninguém pode verdadeiramente saber o que acontecerá a seguir. Veja-se, por exemplo, o que se passa com o clima, com a crise financeira internacional ou com o PSD.
Sabemos que as flutuações são cíclicas e que os sistemas complexos costumam encontrar uma solução qualquer para as suas crises, mas quando tentamos entrar nos detalhes, tudo se torna mais difícil.
Mas existe um truque feliz para não falharmos numa previsão taxativa: adivinhar o fim do mundo (parece que muita gente está a fazer isto, na crise financeira, no clima, no PSD).
Se o pior cenário não se confirma, podemos sempre dizer que ainda não foi desta, mas que será da próxima. Se acabar o mundo, lá estaremos todos para felicitar o autor de uma previsão bem feita.