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Quando o Crime Compensou

por Paulo Cunha Porto, em 05.10.08

Para um velho miguelista como eu, o ramo dinástico apeado em igual dia de 1910 era ilegítimo, face à Lei e ao Interesse Nacionais. Mas eliminar o Trono foi arrasar as próprias noções de tal norma e critério. Introduzir o conflito num nível de representação paralelo aos símbolos que são bandeira, hino e língua, fazendo da personificação do Estado um objecto periódico de disputa é, necessariamente, afrouxar os laços da Comunidade, na medida em que uma metade da população olhará sempre para o eleito como um triunfo da outra parte sobre ela. Para além de ser triste transformar em topo de uma qualquer carreira o que deveria ser revestido da aura de sacrifício pessoal que não é comportado por uma unilateral escolha de profissão.

No caso da instauração da I República o caso agrava-se. Os tempos da propaganda foram recheados de toda a espécie de crimes contra a Honra da Família Real e dos políticos que A serviam, culminando no crime contra a vida que a antecedeu de dois anos e picos, O regime que esses "democratas" sem coragem sequer de se plebiscitarem fundaram viria a trazer muitos mais. A justificação de todos os actos vis pelas ideias avançadas - as deles, claro  - aduzida até em tribunal, é quase unanimemente reconhecida como lamentável. Mas a receptação dos proventos políticos dessas acções condenáveis pelo regime actualmente em vigor vai ao ponto de recusar um voto de pesar pelas vítimas do Regicídio, para não condenar a República, o que é precisamente a mesma coisa que a abstrusa justificação que os próceres republicanos davam dos terroristas que os serviam. É consagração da legitimidade revolucionária, o que me parece sempre uma contradição nos termos, mas que, para os poderosos do dia, há-de ser, além dos ferros com que mataram, aqueles com que hão-de morrer. Quando forem, por sua vez, emprateleirados. O Mundo é um cemitério de regimes que se julgaram eternos.


26 comentários

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De Anónimo a 05.10.2008 às 11:39

Velho Miguelista?
Duarte Nuno de Bragança é primo em 5º grau do Rei D. Manuel II, antes dele havia por parte do Pai cinco primos em 2º grau, dez primos em 3º grau e vinte e um primos em 4º grau. Duarte Nuno estaria depois dos 36 primos do Rei D. Manuel II (por parte de D. Carlos I e descendentes de D. Maria II, que ao contrário do que por vezes se faz passar não tem de maneira nenhuma descendência extinta, bem pelo contrário, é mais numerosa do que a de seu tio D. Miguel I) além destes, Duarte Nuno de Bragança tinha, ainda acima dele, seis tias...
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De Paulo Cunha Porto a 05.10.2008 às 12:05

Face à Legislação Nacional então em vigor, que proibia a soberanos estrangeiros e seus descendentes cingir a Coroa de Portugal, as pretensões genealógicas desse teor não passam de um saco vazio. E são quase republicanas, diga-se.
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De Cristina Ribeiro a 05.10.2008 às 12:14

Paulo, são estas divisões que nos tramam...
Quanto ao resto, já sabe: estamos aí!
Beijo
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De Paulo Cunha Porto a 05.10.2008 às 12:22

Querida Cristina, as divisões deixaram de existir com os Pactos de Paris e de Dover.
Portanto, vamos a eles! Por Portugal!
Beijo
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De Luís Naves a 05.10.2008 às 12:35

caro paulo
Esta discussão tem dois mil anos e não faz grande sentido, após a revolução francesa. e a discussão sobre qual dos ramos da família bragança é mais legítimo, essa ainda faz menos sentido. os problemas do país não estão na natureza do regime, monárquico ou republicano, mas na resposta à seguinte pergunta: será o país capaz de se integrar no mundo contemporâneo sem perder a sua essência?
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De Paulo Cunha Porto a 05.10.2008 às 12:49

Meu Caro Luís,
usando as frase de Maritain numa questão diversa da do método, "ser anti-moderno é a melhor maneira de ser ultra-moderno". O debate sobre a restauração monárquica é o que tem de ser colocado na ordem do dia, agora que o interregno republicano-capitalista demonstra toda a extensão da sua falência. Só a restauração do Trono que nos aplaque lutas intestinas e nos re-ligue aos nossos Maiores permitirá responder ao desafio que lançaste - continuar a singrar perante as novas realidades, sem descaracterização.
O debate das legitimidades está resolvido, pelo que já disse antes, e concordo inteiramente Contigo. Apenas referi o meu miguelismo para demonstrar a distância comparativa com que posso apreciar a duvidosa efeméride.
Abraço
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De Luís Naves a 05.10.2008 às 13:01

discordo de que o "interregno republicano-capitalista" tenha demonstrado "toda a extensão da sua falência". pelo contrário, a ideia de restaurar um regime monárquico-capitalista deve fazer encolher os ombros a 99% da população.
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De Paulo Cunha Porto a 05.10.2008 às 14:05

Meu Caro Luís,
por isso mesmo é preciso evangelizar para um sistema Monárquico-Solidarista. Todas as grandes ideias motoras da Humanidade começaram por ser de uma minoria de um. Quanto à falência do republicanismo e capitalismo coligados, dura, na visão mais benevolente, há décadas. E a tendência que se vislumbra não é para melhorar.
Abraço
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De João André a 05.10.2008 às 18:22

«sem coragem sequer de se plebiscitarem»

Coisa que as monarquias portugueses fizeram amiúde, obviamente.
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De Paulo Cunha Porto a 05.10.2008 às 18:39

Meu Caro João André,
parece que anda por aí alguma confusão, a Monarquia apresenta-se em nome da Tradição. Quem contra ela borrou oceanos de tinta em nome da escolha popular é que traiu as promessas que fez . Sem prometê-lo, até o nascente Estado Novo se submeteu a esse tipo de aprovação. E sabe que mais? Com um Uuniverso eleitoral mais largo do que na esmagadora maioria do tempo de duração da I República" A trafulhice de não se ser coerente com os valorees que se apregoam, esse é que é o problema.
Cumprimentos
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De Grunho a 05.10.2008 às 20:55

Essa coisa de fazer uma jenuflexão perante um idiota qualquer só porque ele ostenta o título de 'rei' é uma coisa que ultrapassa o meu entendimento
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De Paulo Cunha Porto a 05.10.2008 às 21:18

Também me parece que esse foi o argumento mais forte que encontraram os agitadores republicanos, porque o "só" é muito difícil de decifrar para quem pense como Grunho.
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De Anónimo a 06.10.2008 às 14:10

Eu gosto muito da República. Ainda bem que a democracia permite que pessoas como você possam continuar chorosas a lastimar o fim da monarquia. Eu é que preferia que o fizessem em silêncio. Basta olhar ou pensar no Duarte de Bragança e naquela sua família para eu ficar feliz com o presidente que temos.
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De Paulo Cunha Porto a 06.10.2008 às 14:19

Ainda bem para a República que há alguém a gostar tanto dela, pobrezinha. A Democracia é que parece estar em maus lrnçóis, porque o gosto que lhe dirige anda a par da preferência pelo silêncio dos outros. Mas a medida dos desgostos que tem é a dos gostos que confessa, logo de seguida....
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De fcl a 06.10.2008 às 14:58

"Velho Miguelista"? Ó PCP, as confisdsões sórdidas quarde-as pf para o seu confessor, no local apropriedado: o confessionário!
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De Paulo Cunha Porto a 06.10.2008 às 15:10

"Tolerantíssimo" FCL,
pois calcule que o meu nível de depravação não chega para lhe dizer onde deva exteriorizar os seus ideais...
Mas, claro, já ambos sabemos quem é o mau da fita. A bem da liberdade de expressão. A vossa, já se sabe.
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De fcl a 06.10.2008 às 17:27

Ó sr PCP,

Por quem sois! A que propósito vem essa da "(in)tolerância"?

Caro Velho Miguelista, releia a sua resposta (?) ao primeiro comentário e medite no seu absurdo.

Entretanto, não venha falar de tolerância, depois de se apresentar como serôdio seguidor do ultramontanismo miguelista. O quê? reviver o pesadelo de há 200 anos? Francamente, haja pachorra - porque tolerância não parece faltar aos seus leitores!

Com os melhores cumprimentos Republicanos
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De Paulo Cunha Porto a 06.10.2008 às 17:51

Ó Sr. FCL,
quem falou em intolerância foi V. Ex.ª, eu tratei-o de tolerantíssimo (não confundir com toleirão, nunca tal esteve nos meus propósitos), pois a preferência confessada pelo silêncio alheio é mais do que característica dos que têm sempre na boca o monopólio da Democracia.
O pesadelo, seu e de mais uns quantos, foi o sonho bom de muitos, a maioria do País, segundo historiadores insuspeitos. E o absurdo que peregrinamente vislumbrou era o Direito Nacional incorporado, afirmado na Crise de 1583 e re-teorizado na Restauração. D. Pedro I do Brasil não reinou sobre im país estrangeiro?
Por tudo isto, em coerência com o critério por si enunciado, tenho de concluir que não é meu leitor.

Os melhores cumprimentos monárquico-tradicionalistas
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De fcl a 06.10.2008 às 19:15

Caro SR PCP,

Efectivamente, não parece restar qualquer dúvida de que, por baixo desse verniz que abunda na sua prosa, jaz a alma caceteira de um bom "velho miguelista"...

Sabe que mais, para esse peditório-pesadelo deram os meus antepassados o que tinham e o que não tinham (uns verdadeiros caturras, hehe) e eu cresci rodeado da sinistra figura do pretenso reizinho, pendurada por tudo o que é parede. Mas já dizia o velho Arnold Toynbee_ "A única coisa que os homens aprendem com a História... é que nunca aprendem nada com a História!"

Cumprimentos deste seu (sim, vá lá, deixe-me sê-lo!) leitor,
fcl


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De Paulo Cunha Porto a 06.10.2008 às 19:56

Caro Sr. FCL,
não está nada por baixo, evidentemente. Quer mais por cima do que assumi-lo na primeira frase do postal? Claro que em termos históricos compreendo a aplicação de umas pauladas aos que perseguiram tantos religiosos, impediram as populações de exercerem livremente o seu credo, confiantes nos conventos, e que se enriqueceram despudoradamente graças aos bens expropriados, para não falar nas atrocidades da I República, que estão em vias de inventariação.
Mas não defendo que os filhos paguem pelos pecados dos pais, pelo que se sentiu alguma cacetada minha, deve ser problema de hipersensibilidade. Sugiro que se releia, ponha a mão na consciência e veja se não fui até demasiado brando.

Diz que não aprendeu o que os Seus lhe ensinaram e eu acredito. Pelo meu lado, honro-me de ter tirado proveito da formação que me deram. E não invoque abstractamente a História, ela não é monopólio de quem quer que seja, nem sequer dos que, presentemente, estão por cima.

Seja meu leitor à vontade, pareceu-me é que não preenchia o critério da tolerância de que se arrogou. Mas claro que é palavra com a possibilidade de vários sentidos. Se se sente bem, fique. não me peça é para ser igual.
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De fcl a 06.10.2008 às 21:38

Caro Sr PCP,

Apesar da subjacente (assumida, plos vistos) caceteirice, não o queria chamar de analfabeto. Ponha, pois os óculos e releia o que escrevi em cada um dos meus comentários. É que não entendo as suas conclusões...

Apesar de politicamente distante - mais de uns, menos de outros - dos escribas deste blog, leio-o com agrado e visito-o diariamente. Sei que o seu colega JT é monárquico, mas além do Sr. Duarte Pio e respectiva entourage, surpreendeu-me vir encontrar aqui um assumido "velho miguelista".

Perdoe-me a surpresa. Mas numa coisa tem toda a razão: não somos iguais!
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De Paulo Cunha Porto a 06.10.2008 às 23:15

Caro Sr. FCL,
pois não somos iguais, Deus Nosso Senhor, na Sua Incomensurável Bondade permitiu-o. Respondo, creio, a cada um dos seus comentários. O que não perceba, diga, que eu explico.

Quanto às suas surpresas, que posso eu fazer,não escrevo para confirmar ou infirmar os seus pontos de vista. É um direito que tem, aconselhá-lo-ia era a não se julgar assim tanto o centro do mundo. Só uma coisita, o que escrevo não vincula quem quer que seja neste blogue, além de mim. Isto não é uma irmandade, mas um grupo de pessoas que se respeita, nas respectivas diferenças. Também por isso os postais são assinados. E olhe que nem por ignorar ostensivamente este facto me passa pela cabeça dizer que "não o queria chamar de analfabeto".
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De fcl a 07.10.2008 às 10:18

O sr PCP vê este leitor como ignorante, arrogante, intolerante, hipersensível - tudo dito muito nas entrelinhas e amaciado com algum verniz.

Ah mas sou eu quem se acha o centro do mundo!
LOL! Tenha juízo e cresça, homem!

Passe bem e escreva melhor.

Cumprimentos
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De Paulo Cunha Porto a 07.10.2008 às 11:40

Vejo o Sr. FCL pelo que aqui escreveu, confirmando-se na elegância desse remate. Mas concordo que verniz, desse lado, não há vestígios sequer.
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De fcl a 07.10.2008 às 12:01

Sr PCP,

Não confunda aquilo q mais evidencia possuir, verniz, com aquilo q, obviamente, falta a um assumido caceteiro (minha constatação, assunção sua): boa educação.

E por aqui termino esta já longa e aborrecida troca de galhardetes.

Alguém tem q trabalhar, nem q seja para os "velhos miguelistas" poderem sonhar. Bons sonhos, sr PCP!
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De Paulo Cunha Porto a 07.10.2008 às 12:13

o Sr. FCL tem direito a considerar a boa educação a sua, não quero mal a ninguém por perfilhar opiniões isoladas.
O último parágrafo é a coisita mais aproveitável do que disse, pois ainda deixa esperança de que seja capaz de algo produtivo.

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