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Um Pessoal de ArROMBA

por Paulo Cunha Porto, em 20.09.08

Não percebo como não foi mais discutido o espectro da substituição da empregada doméstica por um robô. Talvez porque as Donas de Casa Portuguesas, ao preço a que essa  classe de Trabalhadoras vai cobrando, pense que a situação emergente não se diferencia assim tanto, passa apenas pela adição de um acento circunflexo e pela eliminação de uma vogal. Mas, para além do desemprego expectável, devemos analisar o caso sob o ponto de vista da alteração nas relações do casal típico.

Confirma-se assim que qualquer reivindicação de igualdade mais não visa do que substituir o ocupante do que se considera ser a função dominante. Depois de tanta luta para dividir as tarefas domésticas, abarcando inclusivamente, sem dó dos bebés, a repartição do número de fraldas a mudar, desemboca-se agora num desenvolvimento que conferirá a exclusividade da lida da casa ao homem da dita. Falo da programação do prestimoso serviçal electrónico; a avaliar pelo que vejo nas minhas Amigas quanto à sintonização dos canais televisivos, a grande maioria das Senhoras deixará alegremente essa escravatura reguladora aos seus respectivos.

O caso ainda fia mais fino, tratando-se de recrutamento de uma criada para todo, mas todo o serviço. Podem muitas patroas  ficar aliviadas com a ideia de que uma boneca mecânica será menos perigosa como escape marital, de cada vez que alguma desinteligência ou cansaço aparte os elementos do par. Optimismo ingénuo! Com todo o esforço que se vai empreendendo para assemelhar esta gama de máquinas a seres humanos, com a possibilidade de determinar sem negociação as habilidades a experimentar, nada é menos garantido. Além de que há um ponto adicional: a nossa civilização introduziu uma inovação ética, contra a ideia enformadora das mutilações em culturas africanas islâmicas e animistas e afrontando a repressiva educação oriental - o desiderato de o prazer sexual ser atingido por ambos. O que começou por ser um saudável incremento da partilha logo se revelou como um critério aferidor do jeito masculino. Ora, que via mais fácil para tranquilização do macho, nessa conformidade, do que determinar sem risco o resultado, com a pressão de meia-dúzia de teclas?

 


7 comentários

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De Margarida Pereira a 20.09.2008 às 12:48

A distância de um 'clic' às vezes toma foros de anos-luz...
Pass(e)ar por aqui, em tempos de pausa por miríades de razões, é a certeza de um sofá aconchegante, de um café retemperador, de bonbons deliciosamente sortidos.
Alguns escribas salientam-se. Outros, adivinham-se.
Ao iniciar a descida, lenta, sempre lenta, já (lhe) adivinho a assinatura. É um sorriso que se abre ao confirmá-lo.
Novata que sou nestas coisas dos blogues, regozijo-me incomensuravelmente com a descoberta de almas frutuosas.
De humores refinados, de sensibilidades literárias e vivenciais a roçar o sublime.
E assim que aprendo.
Sobre o tema do 'post' não consigo, agora, senão rir.
Como o coelho na história da Alice, só posso deixar um aflito: "estou atrasada!"
Voltarei.
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De Luísa a 20.09.2008 às 14:57

Que excelente notícia, Paulo! É verdade que já progredimos qualquer coisa – talvez, apesar de tudo, um pouco mais do que o Pedro Correia considera na sua justíssima análise do «post» do troglodita – e que os serviços domésticos são hoje tendencialmente partilhados. Mas o objectivo das senhoras não deixa de ser a sua total transferência para as mãos dos respectivos. E é bom saber que, dada a incontrolável paixão que estes nutrem por engenhocas e comandos, haverá brevemente condições para que a transferência se faça sem dor. Se for até com algum prazer, melhor ainda. Há evoluções que valem demasiado a pena. ;-D
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De Cristina Ribeiro a 20.09.2008 às 19:34

Paulo, agradeço antecipadamente se for dando notícias sobre o tema, na esperança de que surjam robots especializados no passar a roupa a ferro :)
Beijo
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De Paulo Cunha Porto a 20.09.2008 às 20:54

Querida Margarida,
volte, que é sempre Bem-Vinda. Muito grato pela poética simpatia com que apreciou o meu pequeno texto. O que diz deu-me uma ideia - num destes dias, quiçá no aniversário do blogue, todos os corta-fiteiros produzirão um texto sobre um mesmo tema, previamente acordado. Ficam os Leitores convidados a comentar, atribuindo as peças aos autores que lhes imaginam. Quem acertar na dúzia, por inteiro, ganha uma fita assinada pelo grupo e uma tesoura por afiar, que essa faixa não é para cortar. Jogo de rede, tempero, o que queira,

Querida Luísa,
considerando o sumo do que escreveu e o controlozinho à distância que consubstancia as esperanças, poderemos intitular a sugestão como «A Ilusão do Comando».

Querida Cristina,
A maior parte das minhas Outras Amigas divide-se entre as que dão prioridade na aversão a passar a roupa e as que conferem esse papel ao acto de aspirar. Já vejo onde incluí-La. Que ferro!
Beijinhos
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De Ana Vidal a 20.09.2008 às 22:28

Por mim, abro mão alegremente da vã glória de mandar em casa e passo o comando e os botões sem hesitação a quem mais os aprecie. A única excepção é a cozinha, que não cedo a ninguém (embora esteja aberta a uma proposta de partilha). Voilá, Paulo.
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De JuliaML a 21.09.2008 às 09:09


A cozinha é das mulheres, dizia a minha avó.

eu percebo porquê.
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De Paulo Cunha Porto a 21.09.2008 às 11:14

Isso, Ana, é explicável: é a porção das tarefas domésticas em que a Arte leva a melhor obre a rotina.

Apesar, Querida Júlia, da tradição do Chef, na cozinha do Ocidente. Para além da vocação, não estará ligado ao multissecular entendimento da Sabedoria Popular, que aconselha a prender o homem pelo estómago?
Beijinhos

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