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A retórica do caudilho

por Pedro Correia, em 18.09.08

 

Hugo Chávez, herói de alguma da mais envernizada esquerda ocidental, vai perdendo a cada dia que passa o pouco que ainda lhe restava de credibilidade. A sua recente catilinária grosseira contra os Estados Unidos, que encontrou eco em todo o mundo, não teve consequências no plano económico. O caudilho venezuelano apressou-se já a declarar que a expulsão do embaixador norte-americano - em assumida solidariedade com a vizinha Bolívia, que fizera o mesmo 24 horas antes - não implica a quebra dos laços comerciais com Washington. Percebe-se porquê: 85% das exportações de petróleo venezuelanas são pagas pelos Estados Unidos, o que permite a Chávez distribuir o "ouro negro", gratuitamente, por vários outros países - com destaque para Cuba - em nome do "internacionalismo" bolivariano. Isto enquanto a economia venezuelana, fora do sector petrolífero, se vai deteriorando com sérias consequências no plano doméstico - a começar pela distribuição de géneros essenciais, como o pão e o leite.

Sobra a retórica anti-ianque, que tanto entusiasma os populistas de esquerda e até alguns de direita. Infelizmente para a Venezuela, os discursos flamejantes, polvilhados de linguagem de caserna, não criam riqueza nem contribuem para a coesão social. Como já vimos, vezes de mais, em tantas outras épocas e tantas outas latitudes.


24 comentários

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De Anónimo a 18.09.2008 às 13:25

"vai perdendo a cada dia que passa o pouco que ainda lhe restava de credibilidade"

Como? Em que época é que aquele indivíduo foi digno de credibilidade?
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De carlosbarbosaoli a 18.09.2008 às 14:01

Caro Pedro, a solidariedade latino-americana é uma coisa que os europeus desconhecem. Não sou da esquerda folclórica, nem de direita, mas vivi e conheço a América do Sul, por isso percebo bem Chavez.
Manter as relações comerciais com os EUA é uma questão de bom senso. Igualzinha à que justifica que a crítica da Europa aos direitos humanos na China, se traduza no aumento das realações comerciais com a China. Isto para já não falar das empresas que para lá se deslocalizam, porque os direitos humanos devem ser respeitados pelos chineses, mas não pelas multinacionais que lá se instalam.
AH" E a inda me lembro dos aviões de escravos chineses a aterrar na ilha de Guam, para trabalhar numa multinacional americana o sector de vestuário
Grande abraço
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De Pedro Correia a 18.09.2008 às 22:21

Olá, Carlos
O que está em causa neste caso, e que acho chocante, é o profundo contraste entre a retórica de HC e o facto de manter inalterado o negócio do petróleo com os States. Neste caso, apenas isto.
Há demasiada hipocrisia, camuflada com uma ideologia superficialíssima.
Um grande abraço, meu caro.
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De Manuel Leão a 19.09.2008 às 00:28

É, mais ou menos, o mesmo que os States apregoarem democracia e receberem petróleo da Arábia Saudita, esse país de boas práticas democráticas e exemplo acabado de Estado de Direita. Ora bolas... para a coerência.
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De Pedro Correia a 19.09.2008 às 12:40

Não é bem o mesmo, caro Manuel Leão. Que eu saiba, os States não mandam os sauditas "al carajo".
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De Manuel Leão a 19.09.2008 às 16:57

Pedro Correia,

por amor de Deus! Desde quando se julga um político pelo "calão"?

É obvio que não advogo a linguagem dele, mas a razão não reside aí, sejamos honestos.
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De l.rodrigues a 18.09.2008 às 14:28

Caro Pedro,
Era util, quando opina sobre matéria de facto, dar um pouco mais de substancia aos seus leitores. Talvez não custe muito arranjar um link para fontes credíveis e isentas sobre a realidade económica Venezuelana.
Se calhar estou a pedir o impossivel, e não existem tais fontes. Tudo o que leio sobre a Venezuela é muito polarizado, uns toldados pela esperança de que o bruto do Chavez não estrague a oportunidade que o povo lhe deu, e outros apenas desejosos da sua ruína. Até prova em contrário, incluo-o neste segundo grupo.
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De Pedro Correia a 18.09.2008 às 22:23

Caro L. Rodrigues
Sensível aos seus reparos, farei sempre o possível por incluir aqui links, o que aliás tem sucedido com alguma frequência.
Como digo ao Carlos, um pouco mais acima, choca-me neste caso o profundo contraste entre o discurso oficial anti-ianque a manutenção das relações comerciais com Washington.
Alguém pode levar a sério tudo isto?
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De Mialgia de Esforço a 18.09.2008 às 16:34

Hugo Chávez anuncia compra de computadores portugueses
18.09.2008
Fonte: Público
O Presidente da Venezuela, Hugo Chávez, mostrou o computador Magalhães durante o seu programa de televisão, «Aló Presidente», e contou pormenores do acordo com o Governo português para a compra destes computadores. Chávez disse também que já chegou a Portugal o primeiro navio com um milhão de barris de petróleo venezuelano comprado ao Governo local.
http://www.publico.clix.pt/videos/?v=20080918130103&z=1

Não sei porquê, mas os populistas causam-me sempre uma espécie de calafrio.
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De Pedro Correia a 18.09.2008 às 22:24

Também a mim, Mialgia. Situem-se em que quadrante se situarem.
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De Helder Robalo a 18.09.2008 às 16:36

O povo, pelos vistos, gosta. E Sócrates também!
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De Teresa Coutinho a 18.09.2008 às 19:58

O homem é mesmo palhaço, gosta é deste tipo de discursos populistas que não levam a nada. Pode dar-se a este luxo, porque a Venezuela tem petróleo e é um importante exportador. Quanto à credibilidade, acho que nunca teve e cada vez mais fica mal visto quer interna quer externamente.
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De Daniel Marques a 18.09.2008 às 20:27

«85% das exportações de petróleo venezuelanas são pagas pelos Estados Unidos»

Afinal são mesmo uns ianques de m....!
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De RMS a 18.09.2008 às 21:59

Se os discursos flamejantes e a retórica anti-ianque não trazem riqueza, não sei, porque a América do Sul, sempre que tentou libertar-se dos grilhões dos EUA, levou com golpes de estado democráticos. E os processos de avanço social venezuelano e boliviano estão ainda no seu começo.

Uma coisa eu sei, e sabe quem quiser ver as coisas como elas são: a subserviência aos EUA é que nunca criou riqueza nos países sul-americanos, ou muito menos contribuiu para a coesão social.

Ah! E a linguagem de caserna, como lhe chama, a mim, até me soa natural, veja lá. Quando vier ao Porto atente na forma como falamos: Abrimos as vogais, às vezes exageradamente; mas é genuíno.
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De Pedro Correia a 18.09.2008 às 22:25

Pena que ele não vá ao Porto, meu caro: prefere ir passando, várias vezes, por Lisboa. Porque será?
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De RMS a 18.09.2008 às 23:24

Não sei. Porque será? De qualquer forma, a sugestão era para o Pedro...
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De Pedro Correia a 18.09.2008 às 23:30

Se calhar ainda bem para vocês, não fosse ele mandar-vos... "al carajo"
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De RMS a 18.09.2008 às 23:32

E isso é um "Avé Maria" comparado com a VCI em hora de ponta...
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De A. R a 18.09.2008 às 23:13

É extraordinário quando culpam os EUA do que se passa ou passou na América Latina. Se lerem os documentos dos Komin-qualquer-coisa todos sabem que a mãe e a génese de todas as intervenções foi a URSS. Desde 1917 sempre financiou generosamente a instauração de ditaduras neste local do Globo. Foi para lá que os bandos republicanos de Espanha (bem aconchegados por ouro e obras de arte) partiram ao que se seguiram os seus irmãos ideológicos nazis (com quem repartiram amigavelmente a Polónia). Basta fazer uma lista de todos os pasquins que por lá faliram, quando lhe faltou a mama soviética, para ver o grau de infiltração intervencionista.
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De rms a 19.09.2008 às 10:14

Pois claro, pois claro!
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De Ana Pereira a 18.09.2008 às 23:34

Efectivamente a forma de se expressar do presidente da Venezuela é muito grosseira para nós que estamos habituados ao politicamente correcto.Agora acho que ele está no seu cargo porque foi eleito democráticamente,e quando se refere á politica dos EUA em relação aos países da América do Sul tem toda a razão.É verdade que a Venezuela vende uma grande parte do petroleo aos EUA,mas é uma operação comercial que deve ser vantajosa para ambas as partes,porque se não fosse os EUA já tinham arranjado outro fornecedor e a Venezuela outros clientes.As relações politicas e comerciais da Venezuela com Espanha e Portugal tem decorrido com toda a normalidade,e não nos podemos esquecer que temos muitos portugueses a trabalhar e a viver naquele País.

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