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Mito e Realidade

por Paulo Cunha Porto, em 12.09.08

Há muito que tenho um fraquinho pela Geórgia, por ser a outra Ibéria, aquela que os Gregos Antigos davam como esconderijo de Velo de Ouro, cuja posse permitiria a Jasão recuperar o domínio do seu Reino, familiarmente usurpado. Também para a Rússia de hoje essas paragens fornecem o meio de reaver algo perdido, o seu orgulho nacional. A Governadora Palin deu a primeira entrevista sobre política externa e disse que, caso o País em apreço venha a integrar a NATO, seria um dever jurídico dos EUA entrarem em guerra a seu lado, na eventualidade de ser agredido. Os títulos jornalísticos traduziram esta declaração formalista como uma defesa da Guerra contra os Russos. É assim que, por vezes, começam os conflitos, mas nem sempre os políticos estão isentos de culpas. Neste exemplo, os Norte-Americanos criaram o precedente descabido do Kosovo e é muito difícil defender uma coisa para essa região e a oposta para a Ossétia do Sul, salvo numa base dos nossos e dos deles, sabendo-se que em ambas as crises está do outro lado Moscovo. Por outro lado, não tem pés nem cabeça alargar o Tratado do Atlântico Norte ao Mar Negro, hostilizando uma fronteira mais do maior território estadual do Planeta.

Hoje faz anos que Alexandre I, em 1801, anexou definitivamente a terra Georgiana. Na altura fê-lo contra as genuínas elites locais, que protestaram diplomaticamente e encabeçaram uma resistência sem esperança mas com Honra. Hoje, a veleidade independentista da mesma Nação não tem no que se apoiar senão num presidente que é, para todos os efeitos, uma marioneta de Washington e não se sabe até quando poderá cavalgar o afrontamento dos dominadores dos últimos dois séculos. Na jovem pátria reconduzida à existência internacional há um consenso quanto à necessidade de restaurar a Monarquia, através do Chefe da Casa de Bagration, encabeçada pelo Príncipe David, na fotografia. A oposição queria-o já, o governo diz que o momento ainda não é o adequado. À vista das infelicidades que cumularam o relativamente pequeno Estado nos últimos tempos haveria a tentação de concordar com este segundo entendimento. Mas está por provar que estacionando em Tiblissi a Chefia Tradicional, independente das rivalidades das Potências, os sucedâneos dos czares se sentissem tão irritados como vendo berrar contra eles um espantalho do inimigo. Doutra forma ficarrá sempre condenado quem pouco pode e está, claramente, metido numa das divisórias de uma qualquer actualizante partição em esferas de influência.


8 comentários

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De Teresa Coutinho a 12.09.2008 às 18:45

Como diria o Asterix, "estes romanos são mesmo loucos".
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De Manuel Leão a 12.09.2008 às 18:51

Paulo Cunha Porto:

O facto de ser republicano, não me impede de saudar, no essencial, a lucidez deste "post".

Além do mais, é pedagógico. O que não é de todo despiciendo, mormente quando anda por aí muito belicista, de caneta na mão, a escrever enormidades. Belicistas, que se tivessem conhecido a guerra, talvez não tivessem o peito ou as gordas barrigas tão proeminentes.

Cumprimentos.
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De Ana Pereira a 12.09.2008 às 18:52

Pode o candidato republicano querer afastar-se das posições de Bush mas com esta Sra.é muito dificil,eu diria que ela ainda é mais papista,politicamente claro está,que o Papa.Relativamente ás atitudes dos Srs.da NATO faz-me uma certa confusão porque parece que ainda não sairam da guerra fria.Mas não foi a Rússia que fez o 11/9 e portanto é bom que se concentrem na verdadeira ameaça,que pode estar em qualquer país,que pode atacar a qualquer momento e talvez que não devam desprezar a hipotese de trazer a Rússia para esse combate.
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De Anónimo a 12.09.2008 às 20:33

Salvé! Não há dúvida que uma coisa é saber história e conhecer o mundo. Outra coisa são palpites, estados de alma e análises absolutamente no mínimo"amiguistas", ainda por cima de um amiguismo que os supostos "amigos" não precisam nem agradecem.

Assinado: a tal à esquerda do Sr. Távora :)
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De Luísa a 13.09.2008 às 00:54

É uma análise bastante convincente, Paulo: a monarquia, porque não é de hoje, nem de ontem, pareceria mais livre e mais isenta… Muito bem! Aceito defender a monarquia para a Geórgia. ;-)
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De Paulo Cunha Porto a 13.09.2008 às 09:21

Querida Teresa,
pois são. E o problema maior é não dispormos de uma poção mágica que devolva a sanidade...

Meu Caro Manuel Leão,
muito me alegra que Alguém de fora do Ideal que perfilho aprove a minha visão daquele conturbado canto do Mundo. Nem sou pacifista no sentido de defender a cedência à outrance para fugir ao combate. Sou-o certamente, quando toca a evitar ligeirezas qie precipitem catástrofes. Como o sensacionalismo das "gordas" de certa imprensa e, pior, a irresponsabilidade da extensão das alianças internacionais e ofensa gratuita de quem está de fora. Que a NATO fosse alargada aos Países-Satélites do Pacto de Varsóvia, não me entusiasmava, mas reconheço que poderia trazer estabilidade. Estendê-la às antigas Repúblicas da URSS é que me surge como asneirada. A Paz, o Ocidente e a própria Rússia parecem-me muito melhor servidas com uma série de estados-tampão entre os dois hipotéticos contendores. Por este andar, para cercar a imensidão governada de Moscovo, ainda levam a organização ao Japão. Fica no Pacífico? Bom, mas a OTAN afirma ter fins pacíficos, logo Tóquio entra. Não é muito mais inverosímil argumentação do que a usada para arrebanhar a Geórgia...

Querida Ana,
irmano-me a Si, totalmente, na irritação que causa a sistemática hostilização da Rússia, como se se precisasse de um inimigo como de pão para a boca e não houvesse algo mais à mão...
Quanto à Palin, pelo que o texto do link mostra, parece que as interpretações dos títulos noticiosos são como as notícias da morte de Mark Twain, "ligeiramente exageradas".

Querida ATAEJ (A Tal À Esquerda do João),
tanto elogio confunde-me. O mérito está nos factos, que estão todinhos lá.A mim apenas coube a tarefa menor de os ordenar para exame...

Querida Luísa,
que bom! E para quando, no respeitante ao nosso Portugal, a conversão de uma das mais adoráveis Republicanas da blogosfera?
Beijinhos e abraço
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De Margarida Pereira a 13.09.2008 às 11:13

Pouco mais a acrescentar ao comentário de Manuel Leão.
Análise serena e sabedora. Uma aula.
Obrigada.
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De Paulo Cunha Porto a 13.09.2008 às 19:35

Pronto! Com a Vossa benevolência, a Rússia conseguiu o milagre de me deixar corado como um pimentão, precisamente quando o seu Exército deixou de ser Vermelho!
Beijinho, Querida Margarida

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