
O negativismo medíocre é uma doença viral que afecta muitos portugueses. O sintoma mais grave é terrível: a pessoa deixa de conseguir ver o lado positivo da situação.
Sei do que falo, pois estou afectado. Aliás, devia ter escrito ‘absolutamente terrível’ e ‘absolutamente afectado’, mas o estado febril e lúcido (absolutamente lúcido) impediu-me de usar a terminologia na moda.
Sou um negativista medíocre, o que, como se sabe, não tem cura.
É tipo Invasion of the Body Snatchers (na imagem); no fim, ninguém escapa, mas até sermos apanhados, somos imunes.
Olho para os números do crescimento económico e, em vez de um trimestre acima da média europeia, vejo um preocupante abrandamento.
(Imaginem que eu dizia isto numa festa). Já estou a ver o ministro Pinho a rir-se e a dizer:
“Você está mesmo apanhado com esse negativismo medíocre, aproveite os nossos competitivos genéricos. Cure-se”.
Como bom pessimista, eu diria ao ministro que estou mais pobre do que há dez anos, mas a culpa deve ser minha. Devia antes ver que ainda tenho emprego.
E a queda das exportações, a inflação, as revisões em baixa, o endividamento?
Tudo erro de perspectiva, claro. Efeitos da febre elevada. É não conseguir ver a crise internacional, que até afecta os Estados Unidos, esse colosso.
Os problemas da educação, da saúde, da justiça?
“Chegue-se para lá, ò homem, e não espirre”.
E a ausência de crítica, este ambiente de unanimidade democrática, este bem-estar geral que transparece da TV e da bloga e que não parece ter alguma coisa a ver com a realidade.
“Ó amigo, a realidade é que está enganada, essa negativista medíocre”.
E, por favor, deixem de olhar para mim como se eu fosse um extraterrestre que acabou de ocupar o corpo de um inocente ex-optimista que ia a passar.