por Pedro Correia, em 30.07.08

"Não faço ideia se a cobertura dos acontecimentos da Quinta da Fonte, particularmente o atraso do Público na cobertura dos acontecimentos, será mais tarde objecto de estudo. Mas deveria sê-lo. Tal como o deveria ser tudo o que não escrevemos sobre a partida dos portugueses de África.
Entre Agosto de 1974 e o início de 1975 os portugueses em fuga de África mal se vêem nas páginas dos jornais. É claro que se fala deles mas com o incómodo e os rodeios de quem tem de dar uma má notícia no meio duma festa. Esta é a fase em que os fugitivos são necessariamente brancos pois assim facilmente se integram no estereótipo que deles traçam homens como Rosa Coutinho que os classifica como “elementos menos evoluídos que têm medo de perder as suas regalias” ou Vítor Crespo que os define como “pessoas racistas que não abdicam dos seus privilégios”.
Os jornalistas portugueses usam então tranquilamente expressões como “brancos ressentidos”, “brancos em pânico” ou pessoas que “reivindicam um desejo de viver num mundo que já acabou” para referir a maior fuga de portugueses nos seus muitos séculos de História."
Excertos de um excelente texto de Helena Matos no Público. Leiam-no aqui todo, que vale a pena.