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Heróis e vilões: um retrato português

por Pedro Correia, em 24.07.08

1. Um casal que anda há cinco anos a desrespeitar sucessivas ordens de sucessivos tribunais sequestrando uma criança que ficou irregularmente à sua guarda é levado em ombros pela opinião “esclarecida” e transformado em modelo de cidadania. Inventa-se até um novo conceito, inexistente na lei – o de “pais afectivos” –, para enaltecer ainda mais este edificante modelo de fuga permanente à justiça.
2. Um jovem que anda há cinco anos a procurar obter por todos as vias legais a tutela sobre uma filha que ninguém nega ser sua, e que viu todas as instâncias jurisdicionais confirmarem esta pretensão, é transformado em vilão pela mesma opinião “esclarecida” e vaiado na praça pública como se estivesse a cometer um acto ilícito. Na mesma sociedade, recorde-se, onde o conceito de paternidade responsável tantas vezes – demasiadas vezes – é mera letra morta perante a sistemática indiferença de gregos e troianos.
3. A advogada do casal – que chegou a ser transformada também em heroína de uma causa justa – abandona subitamente este patrocínio. E, num país onde tudo se sabe, de repente parece que ninguém quer indagar quais foram os motivos de tão surpreendente decisão.
É tempo de pararmos para tentar reflectir um pouco no meio desta gritaria “comunicacional” que demoniza uns e notabiliza outros. É tempo de percebermos quem transforma quem em herói e em vilão. E como. E porquê.
E para quê.
 
...........................................................................................
NOTA: Este texto foi originalmente publicado aqui, em resposta a um simpático convite do Rui Castro, do 31 da Armada. Decidi republicá-lo agora por manter toda a actualidade.


24 comentários

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De Lutz a 25.07.2008 às 18:13

Não conheço os pormenores do caso. Pelo que sei, ninguém dos envolvidos, excepto a criança, fica sem mácula se analisamos o seu comportamento. O pai biológico não, que só se interessou pela criança quando soube que era mesmo sua. A mãe não, que deu a criança para uma adopção falsa; os "pais afectivos" não, que "adquiriram" a criança através de um procedimento ilegal. As instituições públicas não, cuja inacção ou lentidão deixou o problema arrastar-se até a um ponto em que uma solução legalmente correcta já acarretaria danos graves para a criança; a justiça que decidiu, muito tarde demais, verdadeiramente cega ao interesse superior da criança; e a imprensa, que explora a história hipocritamente, porque com igual desrespeito pelo interesse superior da criança.

O que no meio disto continua a ter que predominar, é o
interesse e bem-estar da criança. E este é bastante óbvio: que a criança fique onde está.

Todo o resto pode ser muito deprimente e frustrante, mas secundário. É compreensível e desculpável que isto o pai biológico não vê. Teria achado que o Pedro o visse.
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De Clara Maria a 25.07.2008 às 18:28

A desinformação bem planeada dá os seus trunfos,ter amigos com acesso á comunicação social tambem.Neste caso até agora o crime tem compensado.Estaremos nós a voltar ao tempo dos julgamentos na praça pública,na versão moderna nos estúdios das televisões?
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De Diana Silva a 25.07.2008 às 19:15

Meu caro Lutz,não ve o pai biológico e muito mais gente.Será que pessoas que tiveram ao longo destes anos o comportamento deste casal,a mentira de que era sua filha,a alteração até do nome,o impedimento durante cerca de quatro anos de que a filha visse o pai e que o pai visse a filha,o impedimento que ainda continua de que ela estabeleça uma relação normal com a sua familia,as histórias que lhe contaram que o pai era o mau da fita,as constantes mudanças de casa,seriam aceites numa candidatura a uma adopção em Portugal?Que valores de verdade,de justiça,de solidariedade,são estas criaturas capazes de ensinar a uma criança?
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De Fernanda Valente a 25.07.2008 às 21:44

«O que no meio disto continua a ter que predominar, é o interesse e bem-estar da criança. E este é bastante óbvio: que a criança fique onde está»

Para mim não é nada óbvio que o superior interesse e bem-estar da criança seja permanecer com os pais afectivos.
Desde o sequestro até à manipulação dos seus próprios sentimentos, esta criança já experimentou de tudo. Egoismo, ódio, rancor, mentira, são sentimentos negativos que já contribuiram para a formação da sua personalidade, e que, poderão mais tarde culminar com eventuais desvios de comportamento.
Os pais afectivos já provaram que não têm a mínima condição moral e a maturidade a todos os níveis exigível para educar esta criança.
Não têm a noção da palavra "partilha". Compraram a menina à mãe e preparam-se para a comprar segunda vez, através da tentativa da alteração do poder paternal a favor desta última que, seguidamente, o endossará aos pais afectivos.
Para eles que dão muito valor ao dinheiro, como já se viu, tudo isto não passa de um negócio que não querem ver gorado.
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De Manuel Leão a 26.07.2008 às 15:12

Imaginemos o Sargento num dos lados da contenda mas, se no outro lado estivesse um Capitão ou Major, as posições mudavam logo. Admitam que a nossa justiça é uma justiça de classe!

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De Ana Vidal a 26.07.2008 às 11:11

Sempre me impressionou este julgamento em praça pública, completamente emocional, que transformou cada português num juíz que nem sequer sabe o que está a julgar.
Acho que tem toda a razão, Pedro. O que é triste é estes casos sejam mediatizados a este ponto. O que nós gostamos de uma boa novela mexicana, meu Deus!
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De Fernanda Valente a 26.07.2008 às 21:47

A mediatização do "caso" começou com a Dra. Maria Barroso, a Fátima Lopes (amiga pessoal do casal, conforme declarou), Moita Flores etc., e foi explorado até à exaustão pela imprensa que viu que ali estaria um "filão" capaz de garantir um bom indíce de audiências.
Penso, no entanto, que os cidadãos têm todo o direito em se pronunciar sobre este ou qualquer outro "caso"; em fiscalizar e denunciar a forma como é administrada a Justiça em Portugal.
A condenação pública de determinados actos praticados pelos poderes institucionais, para além de ser uma prática salutar num regime democrático, é também uma forma de todos os cidadãos terem uma participação activa no xadrez da política «lactus sensus» em que vai evoluindo a sociedade.
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De albinomatos a 26.07.2008 às 15:17

Shit, até que enfim...
Concordo com tudo isso que diz, no poste.
Cumps.
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De Pedro Correia a 27.07.2008 às 23:13

Obrigado. Abraço
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De João Pedro a 28.07.2008 às 19:41

O texto está bom e é certeiro. Só é curioso que seja assinado por um jornalista, pertencente portanto à corja que tem passado anos a glorificar esta aldrabice mal contada.

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