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Treze notas sobre o congresso do PSD

por Pedro Correia, em 22.06.08

 

 

1. Manuela Ferreira Leite, antes de conquistar o País, precisaria de conquistar o partido. Não o conseguiu nas directas, não o conseguiu neste congresso de Guimarães. O seu discurso de encerramento foi vago, grave, circunspecto e conselheiral. Parece uma conselheira de Estado, não a presidente do principal partido da oposição.

2. A apatia e o desinteresse foram notas dominantes. Durante a maior parte dos trabalhos, a sala esteve às moscas - como bem mostrou a SIC Notícias em excelentes apontamentos assinados por José Manuel Mestre, Pedro Cruz e Bernardo Ferrão.

3. O melhor discurso foi o de Pedro Passos Coelho, que assegurou desde já uma posição de líder no futuro. Salvaguardadas as proporções, aconteceu o mesmo com Barack Obama, autor da melhor intervenção na convenção democrata de 2004.

4. Em Guimarães, Santana Lopes foi o mais aplaudido dos três militantes que disputaram a liderança do partido. Populismo? Nunca o PPD/PSD viveu sem populismo.

5. Manuela Ferreira Leite nunca deixou claro em que se distingue de José Sócrates. Pormenor significativo: no discurso inicial, falou em "alternância" com o PS - não em alternativa. Para quem pretendia "falar para o País", sem entrelinhas, este era um teste decisivo. Em que ela falhou.

6. Liderança feminina? Que liderança feminina? Partido de homens, com Manuela Ferreira Leite o PSD mantém esta característica. A entrada de Sofia Galvão para a Comissão Política não faz a Primavera.

7. A "renovação" nos órgãos directivos, com uma ou outra excepção, faz-se com os mesmos de sempre. Rui Rio é o primeiro vice-presidente do partido. Já o era com Santana Lopes. Convém ter memória.

8. Queriam renovação? Queriam mais mulheres em funções dirigentes? Comparem com o congresso do PP espanhol, que se realizou em Valência, precisamente nos mesmos dias. Maria Dolores de Cospedal é a nova secretária-geral do partido, Ana Mato é a nova vice-secretária-geral.

9. Outra diferença: em Valência, grande parte dos dirigentes do PP, novos e velhos, estavam sem gravata. Em Guimarães, apesar do calor sufocante e de ser fim de semana, quase ninguém abdicou da gravatinha. Este é um dos problemas do PSD: ser um partido demasiado engravatado.

10. Paulo Rangel é novidade? É. Uma boa novidade: será um eficaz líder parlamentar. Melhor que Aguiar Branco, de quem se falou muito.

11. O regressado Rui Machete é o novo presidente da Mesa do Congresso laranja. Uma escolha de Manuela Ferreira Leite. Lembremos: Machete foi vice-primeiro-ministro. No governo do bloco central.

12. A frase mais certeira foi de Ângelo Correia, presidente cessante do congresso, num empolgado discurso de despedida: "O PSD está cheio de feridas." Pois está.

13. Manuela Ferreira Leite veio para ficar? É óbvio que não. É uma "líder" tão precária e tão provisória como os "líderes" precedentes. Por muito que alguns dos seus gurus pretendam convencer-nos do contrário. O interregno começou. Mais um.


9 comentários

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De Pedro Barbosa Pinto a 22.06.2008 às 17:04


Completamente de acordo.
Um partido politico onde os congressistas usam gravata, não pode ser partido sério!
Boa análise!
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De Manuel Leão. a 22.06.2008 às 17:29

Só há uma verdadeira origem da actual "crise" do PSD. O resto é folclore, mise-en-scène ", espectáculo de variedades, etc... E é por isso que se fala já em "Bloco Central". A verdadeira razão é : O PS está a governar de acordo com os interesses do PSD e com a vantagem deste não sofrer desgaste político. O resto, são discursos para entreter papalvos...
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De Xantipa a 22.06.2008 às 18:06

Muito interessantes estes 13 pontos.
Nem sou PSD, mas tenho acompanhado esta questão da liderança de um partido que se quer como alternativa ao governo actual.
Acho que viu muito bem alguns problemas, sim.
Um abraço.
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De carlosbarbosaoli a 22.06.2008 às 18:29

Como sempre, excelente análise, Pedro.
A única coisa boa para os miitantes do PSD é a ascensão de Paulo Rangel. E sei do que falo!
Abraço
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De José Manuel Faria a 22.06.2008 às 18:47

O PSD a continuar assim, sem divergências e propostas diferentes do PS. Talvez, somente o TGV. Arrisca-se a não segurar os 30% de votos, e mesmo com o crescimento do BE e PC, Sócrates poderá arrebatar a maioria absoluta.
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De Tiago Moreira Ramalho a 22.06.2008 às 21:23

Concordo com alguns pontos, discordo totalmente de outros. A validade de uma equipa não se avalia pela quantidade de mulheres. O PP espanhol tem duas mulheres nuns lugares de topo? O PSD tem uma mulher NO lugar de topo e uma outra um bocadinho mais abaixo... MFL distancia-se de Sócrates nas questões essenciais, e só não percebe isso quem não ouve o que ela diz. Populismo do Santana Lopes, não obrigado. O PSD tem de afirmar-se como um partido sério e não como um partido de praça, como o CDS, o PC ou o BE. Quanto às gravatas... não percebo o problema... Por fim, acho que sim, acho que MFL veio para ficar. É dela que precisa o partido neste momento, um agente amenizador, sóbrio, que sem populismos e efusividades conseguirá, aos poucos, agregar o partido e torná-lo forte.
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De Margarida Balseiro Lopes a 23.06.2008 às 03:49

Caro Pedro Correia,

Permita-me que teça comentários a alguns dos seus 13 pontos:

“A apatia e o desinteresse foram notas dominantes. Durante a maior parte dos trabalhos, a sala esteve às moscas”
Absolutamente de acordo, mas este não é um problema em de Guimarães, nem da actual líder. Trata-se do novo figurino do Congresso, que não se soube adaptar às alterações estatutárias.

“Em Guimarães, Santana Lopes foi o mais aplaudido dos três militantes que disputaram a liderança do partido. Populismo? Nunca o PPD/PSD viveu sem populismo.”
Posso-lhe dizer que, em Pombal, Luís Filipe Menezes foi bastante mais aplaudido do que Luís Marques Mendes. Era vê-los nas bancadas, no sector dos observadores: militantes de Matosinhos, Paranhos, Gaia. Os mil delegados que representam as muitas secções, à semelhança de Pombal, foram de outro entendimento. Paradigmática é a votação para a Jurisdição: com 5 listas, Morais Sarmento obteve a maioria absoluta daquele órgão, elegendo 5 em 9 possíveis. E, apesar dos aplausos, veja-se o resultado de Santana nas listas ao Conselho Nacional. Bastante elucidativo…


“Liderança feminina? Que liderança feminina? Partido de homens, com Manuela Ferreira Leite o PSD mantém esta característica. A entrada de Sofia Galvão para a Comissão Política não faz a Primavera.”
Em momento algum, Manuela Ferreira Leite propagandeou o facto de assumir uma liderança feminina. Aliás, nem a própria o conceberia. Mas, se analisarmos as CPN’s anteriores, há um aumento significativo quanto à presença feminina: a presidência, uma vice-presidência. E, esqueceu-se de referir, Mercês Borges, como vogal.

“A "renovação" nos órgãos directivos, com uma ou outra excepção, faz-se com os mesmos de sempre. Rui Rio é o primeiro vice-presidente do partido. Já o era com Santana Lopes. Convém ter memória.”
Também convém que sejamos exactos: e António Borges, Mota Pinto, Sofia Galvão? E quantos dos vogais fizeram parte de CPN’s anteriormente? Facilmente, se poderá concluir que há, de facto, renovação nos órgãos.

Tal, como Ângelo Correio, entendo que o PSD tem até 2009 muitas feridas para sarar. Mas, estou absolutamente convencida que não poderíamos ter arranjado melhor "socorrista" do que MFL...
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De Pedro Correia a 23.06.2008 às 11:49

Agradeço as vossas apreciações, sobretudo à Margarida Balseiro Lopes. É a dialogar (mesmo a divergir) que a gente se entende. Um blogue serve também (ou sobretudo) para isto.
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De Paulo Colaço a 23.06.2008 às 17:16

Caro Pedro, tentando também responder a cada ponto:

1. Manuela Ferreira Leite, antes de conquistar o País, precisaria de conquistar o partido. Não o conseguiu nas directas, não o conseguiu neste congresso de Guimarães.

- MFL não conquistou o Congresso? Todas as suas listas ganharam. A da CPN teve uma boa votação, ao contrário do que seria de esperar numa lista de vice-presidências não colonizada pelo aparelho profundo.
- Até ganhou o CJN. Morais Sarmento tem muitos anti-corpos, mas o Congresso não olhou a isso.

2. A apatia e o desinteresse foram notas dominantes.

Desde a directas que tem sido assim. Tira-se a disputa de liderança do Congresso e este passa a ser apenas um encontro de amigos que fazem listas ao Conselho Nacional. Em todo o caso, só os inocentes não sabem que um “bom” ângulo de imagem tornaria o funeral da princesa Diana num evento vazio de pessoas.

3. O melhor discurso foi o de Pedro Passos Coelho, que assegurou desde já uma posição de líder no futuro.

Força, caro Pedro. Continue a “obrar” para isso.

4. Em Guimarães, Santana Lopes foi o mais aplaudido dos três militantes que disputaram a liderança do partido. Populismo? Nunca o PPD/PSD viveu sem populismo.

Que burros são os militantes do PSD: é Pedro Passos quem faz o melhor discurso, mas é o populista que recebe mais palmas.

5. No discurso inicial, falou em "alternância" com o PS - não em alternativa.

Creio que MFL pretende deixar o toureio para outros.

6. Partido de homens.

É verdade. Veja-se em que lugar ia a primeira mulher na lista de Conselho Nacional de Passos Coelho…

7. A "renovação" nos órgãos directivos, com uma ou outra excepção, faz-se com os mesmos de sempre.

Caro Pedro, dos 18 membros “do” órgão directivo, sabe dizer quantos são repetentes? E quem são? Era interessante que se soubesse.

9. Este é um dos problemas do PSD: ser um partido demasiado engravatado.

Concordo consigo: também aí MFL marca a diferença. Nunca a vi de gravata.

10. Paulo Rangel será um eficaz líder parlamentar.
Volto a concordar!

11. O regressado Rui Machete é o novo presidente da Mesa do Congresso laranja. Uma escolha de Manuela Ferreira Leite. Lembremos: Machete foi vice-primeiro-ministro. No governo do bloco central.

Visão de lince, caro Pedro Correia.
“Está tudo ligado”, como dizia a PIDE e o Estaline.

12. A frase mais certeira foi de Ângelo Correia, presidente cessante do congresso, num empolgado discurso de despedida: "O PSD está cheio de feridas." Pois está.

PSD tem tido tantos amoladores de facas em seu redor…

13. Manuela Ferreira Leite veio para ficar? É óbvio que não.

Concordo. Só a mudança é permanente. O resto é tudo passageiro!

Notas:
- Caro Pedro Correia, gosto de trocar opiniões consigo e de mostrar o reverso de cada medalha que nos apresenta.
- A Margarida tem 18 anos. Que belo bigode ela lhe deu ;)

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