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Dançando nas nuvens com Cyd Charisse
Querida Cyd Charisse,
A inveja que eu tive do Gene Kelly, queando te tomou nos braços, e do Fred Astaire, quando rodopiou contigo no Central Park. Mais ainda do que a Rita Hayworth, que seduzia Glenn Ford e tutti quanti em Gilda, ou a aquática Esther Williams, que achava piada ao parvo do Red Skelton naqueles filmes com gigantescas piscinas em technicolor, tu eras capaz de seduzir o espectador. Pela tua espantosa beleza física, pelo teu ar exótico, por esse fabuloso par de pernas que valia cinco milhões de dólares, pelos teus dotes de bailarina capaz de deixar tonto qualquer par. Mas sobretudo pela aura de mistério que havia em ti e acentuava a fulgurante carga erótica das tuas aparições na tela.
Falo em erotismo? Só podia, já que falo em Cyd Charisse. Reveja-se aquele antológico plano horizontal da sua longa perna, que deixa estupefacto Gene Kelly, na cena em que somos apresentados à actriz em Singin' in the Rain (Kelly-Donen, 1952) - poderia haver melhor cartão de visita? Ou a súbita transformação da fria funcionária soviética numa ardente e fogosa dançarina nessa deliciosa comédia musical que é Meias de Seda (Rouben Mamoulian, 1957).
Querida Cyd Charisse, dizem-me que já não estás entre nós. Não voltaremos a ver-te cá por Lisboa na inauguração de um qualquer ciclo da Cinemateca. Partiste, aos 86 anos (como era possível teres 86 anos, logo tu, uma mulher sem idade?), bailas agoras nas nuvens, diáfana como nunca, tu que eras carne mas também espírito, sempre em estado de graça, tu que parecias tocada pelo sopro dos deuses, terrena como poucas, irreal como mais nenhuma.
Sem ti, não voltaremos a cantar à chuva. Nem a dançar no escuro procurando imitar aquela cena lapidar de A Roda da Fortuna (Vincente Minnelli, 1953) em que arrebatas Astaire e cada um de nós, incautos espectadores.
Não houve dança mais bela na história do cinema.
Quem a viu, nunca a esquecerá. Nunca te esquecerá.
Quem a viu, jamais a verá da mesma maneira agora que trocaste o solo pelas nuvens e bailas para a eternidade que te acolheu.
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