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A meio da manhã, a meio da praia, uma senhora de meia idade. De telemóvel em riste, fala em voz bem alta sobre os seus infortúnios e os infortúnios do País. A 20 metros de distância, escuto tudo - palavra por palavra. Seguem-se uns excertos, com a devida omissão de alguns pormenores:
"Sim, estou de férias no Algarve... A situação é muito grave... Eu nem tenho saído do hotel porque tenho medo de não ter gasolina para o regresso... Eu em Julho vou ser operada. Vão-me tirar o útero e os ovários.... Só para prevenir... O médico quer-me tirar o útero para não ter cancro. Vou ser operada na Cruz Vermelha... Não, no sábado já estou aí. Sim. Espero ter gasolina. Sim, sim. Adeus, obrigada. Um beijinho."
Toda a praia ficou a saber. Resta-me fazer votos para que a intervenção cirúrgica corra bem.
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