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No âmbito da série dos convites VIP, Adolfo Ernesto convida para cronicar o primo da Clotilde, o Zé Manel, que estava a preparar as festas lá do bairro quando se deu a ruptura de stock:

 

Os primeiros sinais de ruptura do stoque surgiram lá no bairro numa altura em que na mercearia do senhor Aduzoindo (com a pronúncia dele fica assim, ouindo) começaram a faltar os produtos frescos, nomeadamente as batatinhas, o azeitinho e as couvinhas que ele manda vir lá da terrinha, a santa terrinha. A ASAE não gosta, mas é a maneira de fintar os hípres.

Depois, correu a informação de que não havia gasolina nos postos, excepto num onde já se formara fila com dois quilómetros, mas acabou em motim, com o povo aflito por causa do racionamento. Sem gasosa, não podíamos ir buzinar. Não se faz e é anti-patriótico!

Foi então que recebemos a mensagem de que o primo do Aduzoindo, o Arloindo, tinha ficado preso no piquê do Carregado.

Juntámos um grupo e fomos ter lá com os mânfios (na imagem).

Aquando lá chegámos e vimos o arcaboiço deles, perdemos algum gás, assim um pouco como aconteceu com a selecção nacional, quando os chéquios meteram aquele matulão de dois metros e dois, o kollê, ou lá o que era o maganão.

Mas não sou homem para não ir à luta:

“Como é que é, amigos, levantem lá o piquê, para deixar passar a carrinha do Arloindo”, tentei, com diplomacia e até alguma amistosidade.

Eles responderam que não deixavam, que até não se importavam de contribuir para as marchas do bairro e nesse particular a passagem da carrinha do Arloindo era assim como deixar passar medicamentos e isso, mas era uma questão de princípios e tal, mais os amarelos e tretas.

Não percebi patavina, até porque o Arloindo é do Sporting e por isso é assim verde, e coiso.

“Ah”, disse o matulão, “podias ter dito logo que eras do Sporting”.

A partir daí, as coisas correram melhor. Houve um que disse que a carrinha nem era camion, nem nada, que podia passar. E que nós não tínhamos cara de quem possuía uma frota (quase nem cabíamos na carrinha, na volta).

“Eu até compreendo a rapaziada”, expliquei. “É a história do pequenino contra o grande”.

Os matulões do piquê acharam que eu tinha razão. “Pois é, o pequenino contra o grande”, disseram. “E quem manda fica sempre do lado do grande, claro”, filosofou um dos gajos.

E foi assim que passámos o piquê. Temos de ser uns para os outros. E fomos dali para a lota comprar sardinha, à espera de que não houvesse bloqueios de pescadores.

O certo é que o custo de vida aumenta e o povo já não aguenta. E vós perguntais: onde está a política, aqui?

Em lado nenhum, pois não sou de falinhas mansas, mas até parece que as coisas já não estão a correr lá muito bem...

 Zé Manel, primo por afinidade do Adolfo Ernesto

 


1 comentário

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De Francisco Almeida Leite a 13.06.2008 às 20:39

Excelente!

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