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Os jovens e a política
Nesta oportunidade que desde já agradeço, aproveitando a minha condição de jovem adulto cuja maior parte do tempo é dedicda a actividades relacionadas com política, quer a nível académico quer a nível prático, acabei por me decidir a deixar mais algumas suposições sobre o tema dos jovens e a política, lançado para a agenda mediática pelo Presidente da República, nas comemorações do 25 de Abril.
Dei novamente uma vista de olhos pelo discurso de Cavaco Silva e pelo estudo encomendado à Universidade Católica, o que logo de seguida me suscitou diversas razões justificativas do tão falado alheamento dos jovens portugueses em relação à política.
Grande parte das preocupações do Presidente da República prendem-se com o desconhecimento ou ignorância em relação ao que foi o 25 de Abril e os seus intervenientes, o que é desde já explicável pela gritante degradação do sistema de ensino, desde a chamada Revolução dos Cravos. A III República, naturalmente avessa à palavra elite, tem simultaneamente apregoado uma alegada igualdade, não fugindo o sistema de ensino a esse estigma. Não só se têm nivelado por baixo as exigências a alunos e professores, como os programas e manuais escolares se têm tornado cada vez mais básicos à medida que o tempo passa, o que é rapidamente verificável passando os olhos pelos livros de História do ensino básico, onde não mais de oito ou nove páginas se dedicam ao regime de Salazar e à transição democrática, sem falar que na maior parte dos anos lectivos nem sequer chegam a ser leccionadas tais matérias. Além do mais, a provinciana síndrome de um país de "doutores e engenheiros", traduzida pela exacerbada primazia dada às ditas ciências duras, a Medicina, as Engenharias, a Economia, a Gestão e o Direito, tem retirado espaço e tempo às ciências humanas, nomeadamente às traves mestras dessas, a História e a Filosofia, o que aliado à lógica de decorar por detrimento de pensar, numa sociedade largamente massificada em todos os sentidos, resulta no estado de coisas que está à vista de todos.
Porém, a quantidade de cursos de Ciência Política e Relações Internacionais existentes num país tão pequeno como o nosso leva-nos a pensar que afinal os jovens até se interessam por política, de tal forma que o número dos que prosseguem estudos superiores na área é algo elevado. Mas como explicar que a maioria dos licenciados da área esteja no desemprego, ou em empregos de outras áreas? Ora, num país com uma máquina pública envelhecida em termos de recursos humanos, estes poucos mas, ainda assim, bastantes, que se preocupam seriamente com política não são aproveitados pelo Estado e precisam de sobreviver, até porque naturalmente querem ser financeiramente independentes. Sendo o sector dos serviços o que mais gente emprega, é a esse que têm que recorrer na maioria dos casos todos os jovens, não apenas os que se preocupam academicamente com política, estando mais preocupados em pagar contas do que em envolver-se em eleições, afins actividades de cariz político, ou simplesmente informar-se sobre o que se passa no País e no mundo.
Por último, há que colocar a tónica sobre os exemplos dados pelos políticos. Com a qualidade da classe política que temos, onde sempre os mesmos se alternam nos infinitos e extremamente controlados meandros do poder, mesmo a nível local, onde nas câmaras municipais e juntas de freguesia pululam os caciques locais das juventudes partidárias, sem falar dos deputados que raramente vão ao Parlamento, ou dos vergonhosos debates que não passam de exercícios de demagogia e ataques pessoais, não esquecendo ainda os mais que comuns "escândalos" de corrupção, como esperam que os jovens se interessem por uma actividade cada vez mais desprestigiada? É que pegar nos ensinamentos de Maquiavel e retirar-lhes o sentido de Estado que de tal personagem emanava acaba por ter os seus efeitos perversos.
Resumindo, a ignorância dos jovens, principalmente os adolescentes, está ligada à promoção da lógica do facilitismo no ensino, os jovens adultos estão mais preocupados em ser financeiramente independentes e pagar contas do que em envolver-se em política e, no conjunto, os exemplos dados pelos políticos vigentes só contribuem para afastar os jovens da política.
Samuel de Paiva Pires (do blogue Estado Sentido)
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