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Tomás Vasques

por Pedro Correia, em 27.05.08

 

Resistir em Cuba

Yoani Sánchez é uma jovem cubana, nascida entre os anos setenta e oitenta, residente em Havana, licenciada em filologia e trabalha como jornalista digital no portal Desde Cuba (quem remunera os colaboradores deste Portal crítico em relação ao regime? O próprio regime?) Há um ano criou o blogue Generación Y. Hoje é dos mais conhecidos e visitados blogues pessoais do mundo. O último post já tem mais de 4 000 comentários. A Time incluiu o seu nome nas 100 pessoas mais influentes do mundo e, antes, El País atribuiu-lhe o Prémio Ortega y Gasset 2008 de Periodismo Digital. Este fenómeno mediático, com origem num blogue, tem um contexto. Primeiro, Yoani vive debaixo de uma ditadura; vive num país onde não há liberdade, nem democracia. Segundo, pertence a uma geração desencantada e frustrada com as «conquistas da revolução» castrista. Terceiro, tem acesso a computadores, coisa que 99,5% dos cubanos não têm. Quarto, critica o regime ditatorial. Ora, quem conhece Cuba e o regime castrista sabe bem que o blogue Generación Y (bem como o portal Desde Cuba) só nasceu e só existe porque o regime o permite. A partir daqui, surge uma interrogação óbvia: sendo este blogue (como uma dúzia de outros com as mesmas características) tolerados pelo regime, o que não acontecia há dois anos (apesar, de tolerar escritores mais ou menos desalinhados, como Pedro Juan Gutiérrez), o que está a acontecer em Cuba? Os mais optimistas inclinam-se para interpretar estes sinais com uma «abertura» do regime, uma espécie de perestroika tropical com vinte anos de atraso. Para os pessimistas, entre os quais me incluo, o blogue Generación Y, bem como a inócuas medidas já anunciadas por Raul Castro, fazem parte de um «pacote» de lavagem de cara, para consumo externo, devidamente controlado. Lá dentro, em Cuba, nas ruas de Havana ou de Santiago de Cuba, onde os cubanos não têm acesso à internet, no passa nada.

Tomás Vasques (do blogue Hoje Há Conquilhas Amanhã Não Sabemos)


18 comentários

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De Ana Vidal a 27.05.2008 às 13:40

Talvez seja só "para americano ver", mas o Generación Y é tudo menos inócuo e pode ser um veículo incontrolável para o regime, se este não quiser realmente fazer uma abertura.
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De Tomás Vasques a 27.05.2008 às 22:13

Cara ana,
é essa a minha dúvida: Generación Y (este é o mais conhecido, mas há mais alguns blogues semelhantes) serão silenciados quando se tornarem demasiado incomodos ou há um momento a partir do qual o regime já não pode fazer marcha atrás? De qualquer modo há um facto a ter em consideração: a realidade externa (a mediatização internacional do dito blogue) e a realidade interna (tenho informação de amigos a quem pedi para testar: em Cuba, o acesso ao Generación Y praticamente impossível, mesmo a partir de computador de hotéis de veraneio).
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De Anónimo a 27.05.2008 às 14:27

Hoje há Cuba amanhã não sabemos.
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De Leonor a 27.05.2008 às 14:46

Também visito com frequência o Generación Y . Há algo que não bate certo, de facto, mas também nunca entendi o caso que referiu do Pedro Juan Gutiérrez . Trilogia Suja de Havana e o Rei de Havana são particularmente duros com o regime.
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De isto é que vai uma crise! a 27.05.2008 às 14:53

"no pasa nada" e nunca "no passa nada"
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De Anónimo a 27.05.2008 às 15:01

Pois é, é pena que se perore de cátedra e a partir de ideias preconcebidas, assim não se consegue perceber a realidade em toda a sua plenitude... O caso do senhor das conquilhas é mais um dos casos, falam, falam, falam, mas há algo que se lhes escapa...
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De Tomás Vasques a 27.05.2008 às 21:32

Meu caro anónimo,
Visitei Cuba, desde 1992, onze vezes, a saber: 1992, 1993 (2 vezes), 1994, 1997, 1999, 2001, 2002, 2003, 2004 e 2005. Ideias preconcebidas tem quem por lá nunca passou, quem nunca passou horas e horas a falar com habaneros. Não confie no que lhe contam. Não há nada como constatar com os seus próprios olhos.
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De Anónimo a 28.05.2008 às 11:28

Há um diferença substancial entre os dois e sabe qual é? Eu sei quem você é, você ignora quem eu sou. Dou-lhe os parabéns pelas 11 vezes que visitou Cuba, mas você não sabe quantas lá estive, sim estive lá, e quanto tempo. Mais perdeu horas e horas a falar com habaneros? Lindo e não foi preso ou eles??
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De Viriato Teles a 28.05.2008 às 13:06

O que os anónimos têm de mais desagradável é justamente isso: "Eu sei quem você é, você ignora quem eu sou". Pois é. Só que eu prefiro sempre quem dá a cara por aquilo em que acredita, mesmo que esteja errado, do que quem fala a coberto da sombra, mesmo que tenha razão.
Conheço o Tomás suficientemente bem para saber que fala sem preconceitos. Cuba é uma das nossas vivências e paixões comuns. E também passei muitas horas a falar com habaneros. Já estive nas casas de muitos deles, comi à sua mesa, partilhei sonhos, desencantos, alegrias e tristezas. Isso não me dá nenhuma espécie de "superioridade moral" para falar do assunto, evidentemente, mas apenas a natural autoridade do "saber de experiências feito". Tal e qual como ao Tomás Vasques. Com quem nem sempre estou de acordo, mas que sempre ouço com atenção e despreconceituadamente. E vice-versa.
Ao contrário do que julgam algumas pessoas (e entre elas, provavelmente, também o nosso Anónimo), a defesa de Cuba e daquilo que lá existe de melhor não passa pela ocultação daquilo que de pior ela tem. Pelo contrário, essa será a melhor maneira de ajudar a destruir as conquistas da Revolução de 59. Foi essa cegueira perante a realidade soviética que deu no que deu. Porque, meu caro, as revoluções são sempre fenómenos de um momento temporalmente bem definido – e quando querem perpetuar-se é porque, em definitivo, já deixaram de o ser.
No caso de Cuba, a minha visão não será tão "pessimista" como a do Tomás, mas é também, evidentemente, uma visão crítica. Justamente porque gosto muito de Cuba e da revolução que lá aconteceu, não posso calar-me perante os dislates que, em seu nome, foram cometidos.
A este respeito aconselho a leitura de uma esclarecedora entrevista com o neto de Che, Canek Sánchez Guevara (publicada no meu livro "A Utopia segundo Che Guevara" e que se encontra online, em www.viriatoteles.net, passe a autopromoção), que me parece um bom ponto de partida para qualquer discussão séria sobre o assunto.
No blogue “Generación Y” falava-se recentemente dos batalhões de turistas que olham para Havana “desde cima” sem se darem conta das realidades de “cá de baixo”. Infelizmente, é também isso que fazem alguns defensores incondicionais do regime cubano. Com uma agravante: é que os turistas não vêm a realidade porque não conseguem alcançá-la, ao passo que os outros não a vêem porque se recusam a vê-la.
Um amigo meu, que viveu e lutou vários anos na América Latina, costuma dizer “se não defendermos a Cuba que existe, qualquer dia não teremos nenhuma Cuba para defender”. Estou inteiramente de acordo. Mas, por isso mesmo, não podemos fechar os olhos à realidade, sob pena de nos arriscarmos a uma luta quixotesca em defesa de alguma coisa que não existe se não na nossa imaginação.
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De Anónimo a 27.05.2008 às 15:20

Se não fosse muito atrevimento, seria capaz de sugerir que nem o autor do post, nem o das conquilhas, alguma vez colocou os olhos no Generation x, ou no que escreve o Pedro Juan Gutierrez. É que levar porrada e ver os seus podres expostos, não é exactamente a forma mais eficaz de limpar a imagem... a não ser que estaja aqui qualquer estratégia sofisticadíssima que me escapa.

Vão-me chamar ingénuo, com certeza, mas eu acho que de facto há uma abertura do regime. Nenhum dirigente cubano, por mais maus que sejam, devem ter um gene anti-abertura.

Pedro
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De Tomás Vasques a 27.05.2008 às 22:03

Levar porrada é coisa própria das democracias. Não admitir a crítica é coisa própria das ditaduras. Ora, como o Generation x ou o Pedro Juan Gutierrez não são lidos pelos cubanos (a própria plataforma que aloja o blogue escreve que mesmo os cubanos que possuem computador - 2 ou 3% - quase nunca lhe é permitido o acesso), a relevância é apenas externa. Ora, se é externa é para aparentar que «leva porrada» porque «levar porrada» é coisa das democracias. No contexto externo faz sentido a «abertura».
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De suburbana a 27.05.2008 às 15:33

Ainda me tens de explicar, caro Pedro, porque cargas de água volta a meia vem Cuba e a sua mais que debatida ditadura do proletariado assim como deficiente liberdade de expressão a lume?
Porque raios insistem no tema?
Já sabemos que estamos todos muito preocupados com a falta de liberdade cubana, com o embargo norte-americano, com os dissidentes bla bla bla. Mas será esse o mais dramático problema do mundo?
Curiosamente, raramente vejo neste blogue um texto a criticar ferozmente as ditaduras africanas muito mais graves e mortíferas por sinal.
Que tal falar de Angola e dos seus diamantes de sangue? Ou da Serra Leoa da guerra civil nos anos 90 que ainda hoje tem reflexos e cidadãos mutilados.Também com os seus diamantes de sangue, onde os mineiros retiram milhões de dólares por dia em diamantes que vão parar à Antuérpia em troco de uma refeição ou no máximo de um dólar por dia?
Que tal falar que nessas zonas de alta exploração de diamantes as aldeias nem uma bomba de água têm?
Que tal escrever sobre a República Democrática do Congo? Sobre a maldição do ouro no Congo e da ganância ocidental nessas reservas, das suas mílicias, da corrupção? Que tal falar que existem ou existiram pessoas da ONU envolvidas nesse tráfico de outro em troca de apartamentos em Nova Iorque? Que tal referir o Ruanda, o já esquecido Ruanda, os massacres que mataram mais que não sei quantas ditaduras cubanas?
Não estou aqui em defesa de ditaduras. Mas aborrece-me sobremaneira esta selecção muito americanizada dos países, das ditaduras, das democracias enfim... da nossa visão cega e selectiva em função dos nossos pequeninos interesses ocidentais.
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De cristina ribeiro a 27.05.2008 às 18:54

Como diz a Ana, pode ser uma oportunidade para arejar a casa, permitindo que as pessoas se questionem se é assim que querem continuar, e ser a alavanca que vai accionar o mecanismo despertador de consciências, coisa de que, aparentemente, o regime ainda não se deu conta.
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De Pedro Correia a 27.05.2008 às 21:36

Viva, Tomás. Foi um prazer tê-lo por cá.
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De Tomás Vasques a 27.05.2008 às 22:04

Pedro,
Obrigado pelo convite e por esta liberdade de responder a comentários no Corta-fitas. Abraço.
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De cristina a 27.05.2008 às 22:22

nem mais. ridiculo, falar de acesso à internet em Cuba. enviar e receber livremente informação com o exterior? simplesmente ridiculo imaginar, sequer, que isso seja possivel...

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