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Os novos czares (1)
O Francisco José Viegas recordou há dias aqui no Corta-Fitas os tempos de Beria, Estaline e sequazes aplicados à doméstica ASAE e sua importância na Socratocracia. Belo pretexto para revisitar o império.
Tanques T-90, mísseis intercontinentais, bandeiras com retratos de Lenine, tropas com uniformes soviéticos, milhares de soldados, centenas de tanques mísseis e aviões, tudo desfilou no dia 9 de Maio na Praça Vermelha para comemorar o 63º aniversário da vitória do Exército Vermelho sobre as tropas de Hitler. Há 18 anos que isto não acontecia em Moscovo, numa cópia perfeita dos desfiles militares da era soviética. Tudo começou com uma revista às tropas pelo camarada ministro da Defesa Anatoli Serdiukov.
Foram estreadas fardas novas, especialmente talhadas para o efeito por Valentim Iudachkin, conhecido costureiro russo de alta moda. As novas fardas não são do agrado de todos, caso do escritor nacionalista Alexandre Prokhanov, que considerou que os novos fardamentos são "um tanto ou quanto “efeminizados, que nada têm a ver com o espírito combativo dos russos".
Os novos czares tentaram, tal como na era soviética, impressionar o país e o mundo com os seus armamentos mais modernos: sistema de defesa anti-aérea Tungus, sistema Iskander M, que pode transportar mísseis balísticos, e os mísseis Topol M, também conhecidos como o "escudo nuclear da Rússia", capazes de atingir alvos situados a 10 mil quilómetros de distância. Mais de oito mil soldados e 143 tanques, blindados, mísseis e aviões atravessaram a Praça Vermelha para demonstrar ao mundo que a Rússia restabeleceu o seu poderio militar. Paradas militares realizaram-se também pela primeira vez em São Petersburgo, Vladivostoque, Khabarovsk, Kemerovo, Tomsk, Volgogrado (antiga Estalinegrado), Rostov no Don, Ekaterinburg e Tchilabinski.
"Não se trata de tinir armas, mas demonstrar as possibilidades da Rússia", declarou Vladimir Putin, um dos czares em exercício, na véspera da parada. O espectáculo bélico durou pouco mais de sete minutos, mas impressionou muita gente. "Não esperava ver mais coisas destas. Julguei que tudo tinha terminado em 1991, mas Vladimir Putin conseguiu dar aos veteranos uma alegria", declarou à Lusa Anton Ivanovitch, combatente da Segunda Guerra Mundial.
Boris Ieltsin havia decidido suspender as paradas militares com o desfile de armamentos em 1991, devido a dificuldades económicas e com o objectivo de mostrar ao mundo que o seu país deixou de ser uma ameaça militar para o mundo.
Os novos czares (2)
Bem sei que é difícil perceber a história do presente. Afinal, foi o marquês de Custine, desenterrado numa das últimas crónicas de Vasco Pulido Valente, que disse um dia “quantos homens consideramos felizes apenas por os vermos passar”. O presente engana muito. Mas Medvedev e Vladimir II não enganam.
Em 1996 estive na Rússia numa delegação parlamentar. E em 1998 voltei em plena crise cambial e política, com os bancos fechados, ausência de Governo (Primakov, a quinta tentativa de Governo naquela semana, haveria de passar no crivo parlamentar com enorme dificuldade) e crise nas ruas. Os polícias do Kremlin não recebiam o seu miserável ordenado há vários meses, cheiravam mal ao perto mas as suas fardas brilhavam inapelavelmente. Os russos podem não ter dinheiro para se lavar mas a autoridade e os seus símbolos são intocáveis. Desde Pedro, O Grande, que a Rússia não tem um projecto imperial, a Rússia é um projecto imperial. É a sua marca genética geo-estratégica. Nem sempre linear, nem sempre em expansão, nem sempre vitorioso, mas é um projecto imperial.
Na altura isso parecia improvável. A economia definhava, o pós-Ieltsin aproximava-se, a situação política no Kremlin era instável. Os políticos russos democratas que nos cumprimentavam nos salões do poder, no Bolshoi, nos jantares oficiais onde se bebia vodka em dezenas de brindes consecutivos, vinham todos do mesmo sítio: o PCUS e as suas fileiras, os seus quadros e a sua escola. Um destacado deputado do PCP que integrava a comitiva não conseguia deixar de sorrir maliciosamente quando ouvia os discursos empertigados dos nossos interlocutores a favor da democracia. Afinal, ele conhecia-os a todos. E nas paredes nuas e altas dos edifícios oficiais que visitei, em S. Petesburgo e Moscovo, onde outrora estavam pendurados os camaradas secretários-gerais, estava agora o eterno Pedro, o pai da pátria. Ninguém duvide que Pedro reencarnou de novo. E a Rússia voltou a ser uma “possibilidade”.
Jorge Ferreira (do blogue Tomar Partido)
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