por Francisco Almeida Leite, em 19.05.08
Casino Portugal
Convidado para escrever no Corta-Fitas apago o cigarro no cinzeiro à porta de saída do Blogue Atlântico. Estou agradecido e não quero incomodar com o meu fumo qualquer um dos ilustres proprietários deste belo espaço de liberdade. Tal como o primeiro-ministro sou fumador. Inveterado, no meu caso. Mas, ao contrário de José Sócrates, sou obrigado a respeitar as leis gerais da república e ninguém aceitará os meus pedidos de desculpas se as violar. Admito que se esteja a fazer uma tempestade num copo de água - ou um incêndio nacional por causa de um cigarro mal-apagado num cinzeiro a caminho da Venezuela. Talvez seja um pouco bizarro dedicar fóruns populares nas rádios ou nas televisões a um assunto aparentemente menor. Afinal de contas, pode ser mais perigoso para a saúde de um Estado apertar a mão ao autoritário Hugo Chávez ou fazer-lhe vénias por causa de uns bidões de petróleo. A gasolina está mais cara três cêntimos por litro e esta é a política a que chamam real. Já o episódio de um Governo que fuma por trás da cortina do Airbus A 330 fretado à TAP e não cumpre as suas próprias leis é todo um retrato do país em que vivemos. Da hipocrisia de uma nomenclatura que prega a virtude em público e pratica o vício em privado. Da saloiice nova rica de um poder que exige ao povo o que não é sequer capaz de cumprir durante um voo de 8 horas. Adivinham-se os cinzeiros imundos na presidência do Conselho de Ministros ou em S. Bento. Não consultei a lista dos viajantes incluídos na comitiva de Sócrates. Presumo que não estivesse presente o inspector-mor da ASAE, António Nunes de seu nome. Por outro lado, não seria de estranhar que partilhasse com indisfarçável prazer o fumo do primeiro-ministro. De cigarrilha em riste. Como no Casino. Portugal.
Paulo Pinto Mascarenhas (do blogue Atlântico)